Em audiência promovida pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados, o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, negou a realização de uma campanha de comunicação com objetivo de prejudicar a imagem da própria empresa, facilitando assim seu processo de privatização. A audiência aconteceu na última terça-feira, 22 de maio, e teve diversas manifestações de parlamentares contrários ao projeto governista.
Em sua defesa, o presidente da estatal afirmou que foi contratada uma empresa de consultoria estratégica, a FSB Comunicação, apenas com o objetivo de ajudar a disseminar mais informações a sociedade sobre os benefícios da desestatização proposta pelo governo. No entanto, as explicações não foram consideradas convincentes pela deputada Erika Kokay (PT-DF), autora do requerimento para a realização do debate.
Wilson Ferreira argumentou que a FSB foi contratada por R$ 1,5 milhão para atuar na grande mídia e nas redes sociais, visto a Eletrobras não possuir equipe especializada para esse tipo de trabalho. “Sabendo que o projeto de lei iria ter repercussões positivas e negativas, a companhia tinha a obrigação de fazer um trabalho de prestação tempestiva e qualificada de informações, para que ela não fosse abalada no seu valor”, declarou o presidente.
De acordo com ele, os objetivos da comunicação foram atingidos, na medida em que contribuíram para engajar o público no debate, destacando os ganhos com a modernização e explicitando as vantagens da capitalização na empresa. “Não pagamos nenhuma propaganda, pois não contratamos uma agência de publicidade”, disse Ferreira, afirmando que as publicações da Eletrobras nas redes sociais têm apenas cunho informativo.
Erika Kokay criticou Ferreira por não ter rebatido uma campanha de comunicação em que o Ministério de Minas e Energia apresentava a Eletrobras como “quebrada” para justificar a sua privatização. Conforme a parlamentar, os perfis da Eletrobras no Facebook e no Twitter chegaram a curtir e compartilhar postagens nas quais o ministério culpava a própria Eletrobras por apagões que teriam impedido os brasileiros de ver jogos de futebol na TV.
Ferreira negou o acontecimento e explicou que a conveniência de compartilhar informações nas redes é avaliada caso a caso. Ele também alegou não ter como responder por atos do ministério. Erika por sua vez, manteve o tom crítico. “Se não retuitou e não compartilhou essas peças mentirosas e de uma profunda crueldade contra o povo brasileiro, a Eletrobras não se posicionou contrariamente a elas. É necessário defender a empresa quando ela é desqualificada”, comentou a parlamentar.
Durante a audiência, representantes de trabalhadores do setor elétrico questionaram outras atitudes do presidente da Eletrobras, acusando-o de ter chamado os funcionários da companhia de “vagabundos” — o que, segundo Erika, teria prejudicado o ambiente de trabalho. O presidente respondeu que fez uma referência, da qual se arrependeu, ao fato de gerentes da companhia permitirem práticas como o pagamento excessivo de benefícios e a falta de cumprimento de jornadas de trabalho.
Sobre ter pedido um reajuste de cerca de 46% no seu salário, Wilson Ferreira alegou ter a mesma remuneração mensal de R$ 50 mil desde que assumiu a presidência, em julho de 2016. Ele argumentou ter solicitado não um aumento pessoal, mas um ajuste para toda a diretoria, com o objetivo de evitar que estes profissionais tivessem uma remuneração inferior à de funcionários que têm benefícios acumulados. Em seu entendimento, a questão foi mal interpretada pela imprensa.
Por sua vez, os parlamentares da oposição e da base aliada ao Executivo aproveitaram a audiência para criticar a proposta de privatização da empresa. Vice-líder do governo no Congresso Nacional, o deputado Leonardo Quintão (MDB-MG) afirmou que o PL 9.463/18 não será aprovado na Câmara nem no Senado se não houver mudanças no texto. “Não posso defender a proposta de privatizar uma empresa que está dando lucro. Temos de construir uma alternativa”, ressaltou.
Segundo Quintão, a solução seria tirar da Eletrobras apenas a “parte ruim” que dá prejuízo, preservando os setores lucrativos de geração e transmissão de energia. “A proposta do governo entrega toda a parte boa”, sustentou, pedindo que o governo faça estudos para saber se há empreguismo e gestão ineficiente na companhia.
As informações são da Agência Câmara