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Os preços de energia nos últimos leilões acenderam o sinal de alerta no mercado brasileiro. Os lances de eólicas e solares desde o final do ano passado, e principalmente em abril deste ano, podem representar uma competição predatória entre as fontes diante da demanda mais fraca nos últimos anos. O tema foi o destaque no painel geração renovável da 15ª edição do Encontro Nacional do Setor Elétrico, realizada nos dias 23 e 24 de maio, no Rio de Janeiro. Os representantes das associações que representam os diversos nichos de mercado defenderam uma maior contratação de suas fontes por parte do governo nos leilões, evidenciando que a disponibilidade de tantas formas de geração no país pode trazer disputas mais irracionais.
A avaliação de que esses preços que estão sendo praticados atualmente não refletem a realidade veio da presidente da Associação Brasileira da Energia Eólica, Élbia Gannoum, que destacou o fato desses preços serem realmente bons para a sociedade no curto prazo, mas que no longo prazo pode se tornar um problema ao passo que os competidores deste mercado estão abrindo mão da rentabilidade de seus projetos, bem como fabricantes, o que cria um sinal de preços para o planejador que pode tomar decisões equivocadas para a sustentabilidade do negócio no longo prazo.
“Em tempos de crise econômica e política, bem como do desastre da [MP] 814, devemos falar de médio e longo prazo, pensar lá na frente.”, discursou Élbia em sua participação no Enase. “Estamos vendo uma tendência de discussão e de rivalidade entre as fontes, a ausência de demanda leva a isso. Estávamos sempre preocupados em prover a oferta de energia no Brasil que crescia a 6 GW ao ano. Com esse volume não tem briga, há espaço para todos. Temos que refletir no médio e longo prazo e não podemos ter rivalidade entre as fontes e até mesmo intrafonte com os baixíssimos preços nas renováveis que vem apresentando reduções importantes de custos no mundo todo. Atualmente estamos com baixa demanda, mas assim que o esperado crescimento econômico chegar é desaconselhável entrarmos na vibe de ‘perde perde’, pois quem perderá será o setor e a sociedade brasileira”, acrescentou a executiva da ABEEólica.
A falta de contratação de capacidade foi a reclamação em comum entre todas as fontes. Representantes da fonte hídrica, dos ventos, solar e biomassa apontaram os riscos que a atual situação pode levar não somente ao sistema elétrico, mas também à cadeia de fornecimento – formada ou e formação – brasileira. No foco das associações está a preocupação com o sinal futuro de investimento de olho, justamente, no longo prazo.
O presidente da Absolar, Rodrigo Sauaia, destacou a ausência da fonte solar nos certames A-6 tanto de 2017 quanto desse ano. A questão, avaliou ele, não é o prazo para a construção das usinas solares e sim a sinalização da fonte para o longo prazo. Ele lembrou ainda que há lacunas em aberto para a fonte no horizonte de contratação e questiona o quanto de demanda poderá ser viabilizada no próximo A-4 se no certame para 2023 houve um grande volume contratado.
“A melhor forma de provarmos que podemos competir com as outras fontes é participar da disputa, até agora não há argumentos que não justificam estarmos de fora dessa disputa”, alfinetou Sauaia. “Assim como a fonte eólica também precisamos de previsibilidade de longo prazo”, acrescentou.
Pela fonte hídrica falaram a Abragel e a AbraPCH. Em comum, ambos defenderam uma maior participação dessas usinas em leilões por conta das externalidades das usinas e seu potencial de geração. O presidente do conselho da primeira entidade, Luiz Otávio Koblitz, destacou que a cadeia de produção corre sério risco e que é preciso repensar o volume que vem sendo contratado.
Por sua vez, Paulo Arbex, da segunda justificou a necessidade de maior presença das CGHs e PCHs nos leilões também pela necessidade de se ter mais reservatórios em um momento de incertezas quanto ao fator hidráulico. Ele classificou as políticas do passado como equivocadas quando se refere à contratação de térmicas a óleo como uma forma de se ter um seguro de operação do sistema, e argumentou ser necessário que a participação dessas usinas passe de cerca de 2% para 7% do volume dos leilões.
O presidente da Cogen, Newton Duarte, aproveitou para destacar ainda que o MME tem que ver de forma mais ampla o setor e usar todas as fontes que estão disponíveis. As renováveis, disse, são importantes e na visão da indústria, a questão da redução do preço até abaixo do patamar mínimo de rentabilidade pode trazer uma consequência mais grave que é a saída das empresas do país. “A partir do momento que começarem a perder dinheiro, não tenham dúvidas, essas empresas vão embora e o país terá que conviver com a importação de equipamentos. E isso vale para todas”, alertou ele que também é membro da Abinee.
O superintendente da Aneel, Christiano Vieira da Silva, destacou em sua participação que em a agência deverá colocar em consulta pública a questão do parque híbrido. Além disso, ressaltou ele, há uma proposta de usinas hidrelétricas reversíveis ou usinas que possam prestar serviços ancilares ao sistema e que estejam dispostas vender flexibilidade. Em meio às discussões, disse ele, há espaço para todas as fontes e que é preciso qualificar os atributos de cada uma delas.
Na avaliação da diretora da Neoenergia Renováveis, Laura Porto, o ambiente regulatório e político limita a expansão do setor renovável no país. Mas destacou que o debate em torno da CP 33 mostra que há uma disposição a mudar esse cenário. E, continuou, ela concorda que há espaço para todas as fontes, embora reconheça que o baixo volume de demanda tem gerado um ambiente de stress no mercado, mas que há oportunidades mesmo em um cenário dessa natureza, como no mercado livre. Inclusive, lembrou com um efeito portfólio ao considerar parques eólicos e solares.