Preocupados com a situação hidrológica e o desenvolvimento da geração elétrica no país, especialistas, acadêmicos e agentes do setor elétrico lançaram um manifesto em defesa da geração hidráulica e da retomada da construção de reservatórios, essenciais para a fornecimento de água e energia à população e aos usos múltiplos do recurso, como irrigação e lazer. O documento foi elaborado após três dias de intensos debates nos eventos do Comitê Brasileiro de Barragens, realizados entre os dias 21 e 23 de maio no Bourbon Convention Ibirapuera Hotel, em São Paulo.

De acordo com a publicação, a falta de discussão, a desinformação e os limites de investimento aumentaram o risco hídrico, gerando um sistema cada vez mais hidrotérmico. A conjuntura atual também conta com a falta de recursos, o que coloca a indústria e a construção nacional em risco, fazendo o país aumentar cada vez mais a importação de tecnologia, equipamentos e combustíveis, expostos ao custo das variações cambiais.

Em tom crítico, o texto afirma o descaso de décadas com a postergação de investimentos em recursos hídricos e construção de novos reservatórios, configurando o panorama atual de poluição das águas superficiais, de um sistema elétrico dimensionado em condição crítica de fornecimento e na carência de água em regiões urbanas importantes.

Apesar de reconhecer a relevância da entrada das novas fontes renováveis – solar e eólica – nos leilões e no sistema elétrico, o Comitê alertou que tais matérias primas são intermitentes e necessitam do equilíbrio gerado pelas hidrelétricas, que respondem por cerca de 70% da matriz energética nacional.

Uma das questões problemáticas abordadas na carta é de que, ao contrário das concorrentes, a maturação de um projeto hidráulico é longa e sua implantação necessita de um tempo expressivo. Além disso, para viabilizar-se no mercado, este tipo de geração também tem que competir com os incentivos fiscais e regulatórios oferecidos às outras fontes.

O manifesto conclama a sociedade civil e agentes do setor para análise da situação e planejamento de soluções baseadas em fatores técnicos frente ao risco hídrico existente. Ao final, é solicitado expressamente que o governo tome ações pertinentes com vistas à viabilização dos empreendimentos hidráulicos com reservatórios de acumulação no Brasil, bem como a manutenção adequada e desenvolvimento do parque hidráulico existente.

Para o superintendente de Projetos de Geração da EPE, Bernardo Folly Aguiar, a novidade é que o governo estuda potenciais em São Paulo e Rio de Janeiro para a implantação de sistemas de usinas reversíveis que armazenam energia e que possam trazer mais equilíbrio ao sistema. “Trata-se de um passo importante para a regulação do setor”, reconheceu.