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Mais um insumo que vem aparecendo como ator para o movimento global de transição energética, o hidrogênio começa a buscar seu espaço no Brasil. Em um estágio mais avançado em outros países da Europa e nos Estados Unidos, ele pode ser usado para abastecer veículos híbridos, geração de energia e produção de baterias. A realização nesta semana da Conferência Mundial do Hidrogênio, no Rio de Janeiro (RJ), é na opinião de Paulo Emílio de Miranda, presidente da Associação Brasileira de Hidrogênio, uma maneira de inserir o Brasil nesse contexto mundial. “É uma forma do Brasil participar de forma mais benéfica na medida em que ela se expande no mundo”, afirma.
O presidente da associação, que também é o coordenador do laboratório de hidrogênio da Coppe-UFRJ, vê dois usos potenciais do hidrogênio no setor elétrico: um deles é na geração de energia, uma vez que através da eletrólise da água seria possível ter um insumo energético que poderia ser armazenado no longo prazo e usado para mitigar a intermitência de renováveis. Segundo ele, o hidrogênio é visto como um regulador do sistema por poder atuar como uma forma eficiente de energia. “O Brasil cria uma forma de ter energia armazenada para ser usada quando for necessário, seja por excesso de demanda ou decréscimo de produção de outras fontes”, avisa.
O outro campo de atuação pode ser a geração distribuída, em que pode ser atendido tanto sistemas remotos, onde a distribuição tradicional não alcança, quanto a área urbana. No Japão, cerca de 250 mil domicílios usam GD com pilhas de hidrogênio e previsão é que em 2020 o número chegue a 1,4 milhão. A pilha de hidrogênio é um conversor de energia que ao ser alimentado por hidrogênio e oxigênio do ar produz eletricidade e calor, tendo como subproduto a água. A área de transportes também pode ser um campo de atuação forte para o hidrogênio no Brasil. Ônibus, caminhões, trens e barcos poderia assimilar a fonte por terem o seu abastecimento centralizado, ao contrário dos veículos de passeio, que necessitariam de investimento em uma rede de postos.
O presidente da ABH2 pede mais atuação política em prol do hidrogênio e aceitação da sociedade à tecnologia menos poluentes e mais eficientes, de maneira que se aumente o seu uso em escala, o que poderia fazer o seu custo cair. Ele lembra que os demais energéticos são considerados mais baratas que o hidrogênio por não terem contados os seus malefícios no longo prazo para sociedade. Para ele, isso cria uma falsa imagem que a tecnologia atual é mais cara. “Se juntarmos todos os custos, ela deixa de ser barata”, observa.
Alguns projetos já começam a sair do âmbito da pesquisa e desenvolvimento e se colocam prontos ao mercado. O ônibus híbrido movido a eletricidade e hidrogênio, produzido pela Coppe-UFRJ e apresentado no ano passado, já está em sua versão para ser comercializado. O estado da Bahia e a cidade de Volta Redonda conversam para ter o veículo, atuando como nichos de aplicação. Segundo Miranda, os veículos trariam um grande benefício para a população dessas regiões. Ele não vê o país com alto grau de defasagem na comparação com outros em termos de desenvolvimento, uma vez que, além do ônibus, há trabalhos em conversores de energia, reforma de etanol para produção de hidrogênio.
O presidente da associação conta que recentemente foi descoberto que o Brasil tem poços de hidrogênio natural, o que o põe em posição privilegiada no mercado internacional. As reservas de hidrogênio natural estão localizadas em pelo menos quatro estados: Ceará, Roraima Tocantins e Minas Gerais. Em fase de pesquisa, esses poços foram monitorados em um projeto das empresas GEO4U e Engie Brasil.
No mundo, os países asiáticos como China, Coreia e Japão vêm liderando no uso do hidrogênio, vindo em seguida Alemanha, França Canadá e Estados Unidos. Neste último, estão em funcionamento 20 mil empilhadoras com pilhas movidas a hidrogênio. É um equipamento que sequer é subsidiado, já é comercial”, aponta. Montadoras como Honda, Toyota e Hyundai já tem veículos híbridos movidos a hidrogênio em escala comercial.