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Os últimos dias foram de intensas conversas e negociações entre empresas que atuam em diferentes frentes no segmento de transmissão de energia. Todas de olho no leilão que ocorrerá nesta quinta-feira, 28 de junho, o primeiro certame dessa modalidade no ano e que pretende licitar 20 lotes com 2.560 quilômetros de linhas e 12.230 MVA em capacidade de subestações. Segundo estimativas da Agência Nacional de Energia Elétrica, esses empreendimentos somam investimento previsto da ordem de R$ 6 bilhões e geração de 13,6 mil empregos diretos em 17 estados brasileiros. A expectativa do mercado é de que assim como ocorrido em dezembro de 2017, todos os lotes sejam concedidos.
Esse viés de otimismo advém do fato de que ao longo dos últimos meses do primeiro trimestre do ano, diversas empresas já manifestaram seu interesse em participar do leilão desta semana. Nessa lista figuram desde tradicionais organizações como a Cteep e a Taesa, novas companhias mas que já atuam aqui no país, como a Equatorial, EDP, Celesc, a Vinci Partners e até mesmo grandes empresas estrangeiras, inclusive outras europeias, que sondaram o mercado nacional, bem como representantes da China e da Índia.
Ainda na última segunda-feira, 25 de junho, a catarinense Celesc confirmou que formará uma SPE com a EDP Brasil tendo como objetivo participar do certame. Sua participação será de 10% do capital do consórcio e, posteriormente, da empresa a ser formada caso seja vencedora no lance que oferecer ao lote 1 que compreende Linha de Transmissão 230 kV Biguaçu – Ratones, Circuitos 01 e 02, sendo 10 km de linhas aéreas, 13 km de linha subaquático e 5,5 km de linhas subterrâneas; e a subestação 230/138 kV Ratones, contendo duas unidades de transformação de 150 MVA.
O presidente executivo da empresa, Cleverson Siewert, já havia indicado essa possibilidade de foco da empresa no certame em entrevista concedida à Agência CanalEnergia em 23 de abril, quando falou sobre os planos da companhia em termos de investimentos.
Um ponto de observação para os postulantes aos lotes está na questão cambial, alerta a diretora da Thymos Energia, Thaís Prandini. Em sua avaliação, a recente alta da moeda norte-americana pode atribuir uma leve vantagem competitiva às empresas com potencial de captar recursos no exterior e colocar esse funding por aqui. Mas, acrescentou, o país está em um nivel de competição que não deve ser esse o ponto essencial. Para ela, o leilão deverá ser tão bem sucedido quanto os últimos que foram realizados, com todos os lotes arrematados.
“Acredito que as empresas de capital estrangeiro talvez tenham item de vantagem em comparação às nacionais por conta do câmbio que está desfavorável no momento e que pode influenciar um pouco na questão da competitividade. Isso não significa que as empresas brasileiras não levam nada, pelo contrário, poderemos ver uns bons deságios ainda mais naqueles lotes onde há sinergias. Além disso há outros lotes mais complicados onde a experiência no país é importante”, avaliou a executiva da Thymos.
De acordo com dados do Banco Central do Brasil, o dólar na data do último leilão de transmissão, de 15 de dezembro, estava na casa de R$ 3,30 enquanto que nesse momento a moeda está flertando com a casa de R$ 3,80, um patamar 15,2% acima do registrado há pouco mais de seis meses. Apesar dessa elevação, disse Thaís, o preço teto dos projetos, classificados por ela como mais realista, associado ao Wacc regulatório mais elevado, bem como os prazos para construção, fazem do país um mercado atrativo em transmissão.
A Alubar, fornecedora de cabos elétricos de alumínio (entre outros tipos de cabos) aponta que está otimista com esse certame. As disputas bem sucedidas de dois anos para cá levaram a empresa a expandir seu parque industrial para aumentar a capacidade produtiva em 60%.
A fornecedora afirma que sua participação será em conjunto com os principais players do mercado. “A expansão da fábrica, em Barcarena, no Pará, visa justamente aumentar a capacidade da empresa para atender estes e novos negócios. Com a expansão em curso teremos capacidade de produção para 80 mil toneladas/ano de cabos de alumínio disponível já em 2019 e crescimento para 100 mil toneladas em 2020”, destacou o diretor Executivo da Alubar, Maurício Gouvêa.
Outro movimento que vem ocorrendo nos bastidores é a disputa entre as construtoras para assegurar novos contratos. A ausência de grandes obras no setor de infraestrutura no país em outras áreas tem atraído até mesmo grandes companhias como, por exemplo, a Camargo Corrêa e a Odebrecht para este mercado uma vez que é visto um grande número de operações bem sucedidas por conta dos leilões. Em função dessa alta concorrência no mercado epecista para transmissão os valores estão chegando a patamares muito baixos e que podem colocar em dúvida a capacidade de construtoras tão grandes e com estruturas complexas de administração executar os projetos ao nível de custos que não estão habituadas.
Com essa disputa, destacou o diretor presidente da Tabocas, Caio Barra, a tendência é sim de termos leilão bem sucedido e com perspectiva de negociação de todos os lotes, de forma similar ao mais recente, de dezembro. Em sua análise, como há trechos menores e outros mais complexos, o certame deverá atrair os tradicionais players do mercado, como já é esperado, e até mesmo novas empresas por conta dos valores menores envolvidos, mesmo com a redução entre a relação RAP e Capex que a Aneel introduziu.
“Temos que lembrar ainda que nossa taxa básica de juros da economia também caiu e isso tem ajudado nessa relação para o financiamento de projetos”, comentou o executivo. “Os investidores continuam interessados e acho que o governo poderia tentar fazer mais um leilão ao longo do ano, promover um a cada 4 meses, por exemplo, pois assim reduziria a expectativa que nós epecistas ficamos ao longo dos meses, para termos mais previsibilidade e manter o nível operacional das empresas, seria melhor para o mercado como um todo”, destacou.
Essa atratividade de interessados é vista por Thais Prandini, da Thymos, que relembra o fato de que o segmento de transmissão apresenta estabilidade de receitas por um longo período de tempo. E que essa característica é que tem atraído novos investidores e até alguns aventureiros pelo meio do caminho. Barra, da Tabocas, concorda que este é o segmento que traz, apesar de uma rentabilidade menor em relação a outros negócios, estabilidade no longo prazo e por isso a atratividade tanto de investidores quanto de novas empresas para erguer os projetos. Contudo, ele alerta que qualquer problema que possa ocorrer tem um potencial de trazer sérias consequências de performance e gerar muitos outros custos adicionais.
O otimismo é visto também pelo lado dos fornecedores de equipamentos. De acordo como vice presidente de Marketing e Vendas da Divisão de Power Grids da ABB, Glauco Freitas, o interesse por parte dos investidores é alto e, consequentemente, o deságio esperado deverá seguir essa linha. Assim como a consultora da Thymos Energia, o executivo da ABB diz que a elevação do dólar ante o real desde o último leilão não deverá representar uma barreira.
“A companhia está preparada para se manter competitiva”, definiu ele, classificando o cenário como complexo. E propagandeou que a empresa é capaz garantir ao investidor a competitividade necessária na disputa. “Há várias negociações em andamento e a busca por eficiência, otimização de soluções, alternativas técnicas, tecnologias diferenciadas e redução de custos é constante”, acrescentou.
Freitas ainda disse que esse otimismo está baseado nessas negociações em andamento. Até porque, lembrou que há uma retomada da economia e consequentemente o reaquecimento de diversos setores, e a transmissão é um desses, com novos entrantes. Mas ressaltou que a Aneel deverá ter um papel fundamental na qualificação dessas empresas, de forma a garantir não apenas o sucesso do leilão, mas também a execução dos projetos dentro dos padrões de qualidade e nos prazos contratados.