O ponto de equilíbrio da indústria eólica brasileira continua o mesmo, no mínimo 2 GW para que o país consiga o break even. Contudo, com a crise dos últimos anos que levou a uma queda da demanda que deixou o consumo em cerca de 1 GW médio abaixo do projetado no passado e os leilões com volumes menores do que os vistos anteriormente, aparentemente, há uma clima de resiliência no segmento de produção de aerogeradores ante o atual momento pelo qual passa o Brasil.
A projeção de que o governo poderá contratar cerca de 1 GW de capacidade para a eólica no A-6 de 31 de agosto é visto como um volume mínimo que não é o ideal, mas que dentro do contexto nacional pode ser encarado como relativamente positivo. Esse discurso corrobora a impressão do governo que diante do cenário brasileiro era a possibilidade que se poderia colocar na disputa.
Para o presidente da Vestas no Brasil, Rogério Zampronha, o nível de equilíbrio é mais elevado sim, mas que diante do cenário econômico nacional, se confirmada essa projeção, é a demanda que o segmento esperava mesmo. “Essa é a nossa expectativa que temos falado. Não acho que é uma boa demanda não, mas se é o que dá, tudo bem”, comentou o executivo. “Temos que ver que há uma migração grande para o mercado livre que pode ser um caminho para elevar e complementar a demanda. Com 1 GW no leilão creio que dá para trabalhar”, indicou.
Na avaliação do presidente da Wobben Enercon no Brasil, Fernando Real, o nível de contratação de 1 GW traz algum espaço para a sobrevivência da indústria local. Segundo ele, olhando para a situação de crise dos últimos anos a indústria tem capacidade de sobreviver, com dificuldades, mas que é possível de passar pelo momento.
“Somente para a o setor eólico o volume de 1 GW em meio a uma crise no Brasil é um cenário que dá para respirar enquanto atravessamos esse período, mas não é o suficiente para a indústria como um todo”, avaliou ele. “Para toda a indústria seria um volume entre 3,5 GW e 4 GW ao ano de contratos para toda a nossa cadeia industrial no Brasil”, acrescentou.
Daniel Berridi, country manager da Nordex Acciona, o problema todo dessa demanda de 1 GW é que esse volume representa a metade do ponto de equilíbrio histórico da indústria no Brasil. A companhia realizou recentemente ajustes em sua capacidade de produção justamente para adequar a sua estrutura à demanda mais baixa dos anos anteriores e afirma que hoje essa questão está superada dentro da organização que comanda localmente.
“Sempre falamos de 2 GW de eólica como o alvo para a cadeia de fornecedores e a capacidade de produção ocupada. Se pensarmos em 1 GW representa apenas 50% desse total, então é possível entender que há fornecedores que passarão por dificuldades com a realização de mais um leilão com 50% do volume ideal capacidade”, corroborou ele.
Em sua análise, o mercado livre pode ser uma das saídas para recuperar a demanda do setor. Berridi avaliou que projetos com contratos parciais nos mercados regulado e no livre, pode ser o futuro para complementar a demanda ante o que se vê no mercado regulado e que começamos a ver tomar forma a partir do leilão A-6 de 2017. “É uma alternativa razoável e vai depender do financiamento, principalmente. Mas acho que o mercado tem que perder o medo da novidade. Se os primeiros projetos com peso darem certo não vejo porque não funcionar para todos”, finalizou.
Mário Araripe, da Casa dos Ventos, é outra voz que apontou 1 GW de potência como um volume abaixo da necessidade do segmento. E que uma das saídas dos investidores, de forma geral, deverá se dar pelo mercado livre.
“Esse volume gera a necessidade de complementação no mercado livre. Provavelmente, quem bidar colocará parte da energia firme no ACR e o resto para o mercado livre”, comentou ele. “Acredito que essa deverá ser a estratégia da maioria dos players”, opinou. Ele não abriu a estratégia da Casa dos Ventos nessa disputa, mas revelou que podem entrar tanto como desenvolvedores de projeto quanto investidores.