O governo do estado do Tocantins lançou oficialmente seu atlas solarimétrico no último dia 31 de julho, na cidade de Palmas. O documento é visto como um passo inicial para que possa atrair empresas e projetos. Na visão da Secretaria de Meio Ambiente e de Recursos Hídricos, a pasta que coordenou todo o trabalho, agora será possível atuar de forma a desenvolver ações conjuntas com outros órgãos do executivo estadual para fomentar a fonte solar fotovoltaica por lá.
O secretário Leonardo Cintra destacou que o estado, o primeiro a ter um meta para o uso da fonte solar fotovoltaica, deverá chegar a 2030 com 20% de seu consumo atendido pela fonte. Ele conta como o estado, que possui algumas iniciativas na geração distribuída e um projeto de grande porte que se cadastrou no último leilão A-4 – de 89 MW mas que não foi viabilizado -, pretende usar o mapeamento no sentido de melhorar sua posição no ranking de participação da fonte solar. Hoje, de 27 estados está em 22º lugar. Confira abaixo os principais trechos da entrevista concedida pelo secretário à Agência CanalEnergia.
Agência CanalEnergia: O estado acabou de lançar oficialmente seu Atlas Solarimátrico. Porque houve a decisão de investir nesse mapeamento?
Leonardo Cintra: São duas as vertentes que nos levaram a essa ação, a primeira é a modernização e sustentabilidade do estado do Tocantins, que por ser o mais novo do país estamos em busca da sustentabilidade econômica e entre esses caminhos um dos mais importantes é a energia solar. Além disso, claro, vem a segunda, todo o estado requer e necessita ter emprego, renda, fomentar a economia, baratear os custos da energia e dar acesso. E nesse sentido, nosso estado tem grande potencial para a energia solar, como mostram os resultados do nosso atlas. Esse resultado traz às empresas perspectivas das melhores possíveis. E para nós traz um ganho significativo, a tendência é de que a nossa curva de participação deverá ser acentuada e ao mesmo tempo alavancar o desenvolvimento econômico da região. Com o atlas poderemos fomentar a fonte, e lembro ainda que temos os acordos de cumprimento de metas que coloca atender até 2030, 20% de nossa demanda por meio da solar.
Agência CanalEnergia: Já poderia apontar em quanto tempo o Atlas poderá auxiliar o estado a subir no ranking brasileiro?
Leonardo Cintra: Hoje a ideia é mostrar o potencial que temos. E fiquei satisfeito ao verificar que esses números na Alemanha e Espanha, dois países dos mais tradicionais no uso dessa fonte, estão em menos da metade do que temos. O nosso objetivo é o de aumentar a presença. O Atlas é o passo inicial, queremos aprender mais com a experiência que já existe pelo país, vamos conhecer o que foi feito no estado de São Paulo e dentro do que for possível implantar aqui também.
Agência CanalEnergia: Com esses dados em mãos, agora, o que dá para pensar em termos de politicas para incentivo à fonte?
Leonardo Cintra: Nossa estratégia, depois de finalizar o atlas e preparar nosso portfólio para mostrar quais são os pontos que podemos atingir. A tendência é ter um favorecimento do que já temos em termos de políticas como o programa Pro-solar e ser um atrativo ainda maior. Vamos elaborar um estudo em parceria com outras secretarias onde veremos em que mexer e o que proporcionar. Esse Atlas é importante para o estabelecimento de novas políticas, mas é importante lembrar que antes disso já tínhamos instituído o incentivo do ICMS para os equipamentos solares. Podemos pensar ainda em desoneração, aumento de carência, parcerias…pensamos nesse sentido, mas precisamos, como é natural nesse processo, de uma ampla discussão com o governo estadual e secretaria da Fazenda para indicar o caminho a seguir, é uma decisão de governo não apenas de uma secretaria.
Agência CanalEnergia: Outra frente que se impõe como uma barreira e que foi alvo de queixas nos debates do evento de lançamento do Atlas solar é quanto às taxas de juros dos financiamentos…
Leonardo Cintra: Sim, essa é uma barreira a ser combatida. Em parceria com a Absolar quero ver se vou a Brasília conversar com agentes financiadores e mostrar nossas ideias e buscar negociar condições especiais para a gente. Qualquer ponto que consigamos reduzir na taxa de juros cobrada atualmente pelos bancos já representa um ganho importante. Não é apenas o estado que deve ceder, mas os bancos também, e se colocam a taxa lá em cima ninguém vai querer porque o valor torna-se proibitivo.
Agência CanalEnergia: Nessas discussões o banco de fomento estadual foi citado como uma possível alternativa. Como veem essa possibilidade?
Leonardo Cintra: Sim, poderá ser sim. Uma forma seria a de levantar recursos a fundo perdido e financiar os projetos. Isso é uma coisa que discutimos, incluir nesse circuito a Agência de Fomento do Estado de Tocantins (Fomento), para entrar nesse circuito da geração solar. Nossa intenção é também utilizar a estrutura que temos para incentivar a fonte no estado.
Agência CanalEnergia: Quais são os atrativos do estado para receber esses investimentos na fonte solar, além do atlas?
Leonardo Cintra: Conversamos com a Energisa, a concessionária de nosso estado que nos mostrou algumas localidades onde há oportunidades de investimentos em fazendas solares, são regiões onde já há espaço de expansão em termos de estrutura de transmissão. Além disso, existe muito espaço disponível, há muito terreno para construção. Somos um estado grande, apesar de ser apenas o terceiro da região Norte em termos de espaço o atlas mostra que toda nossa região apresenta potencial. Temos estrutura com rodovias, um trecho da ferrovia Norte-Sul, linhas de transmissão e espaço. Poderia haver hidrovias, mas faltam eclusas, apesar de projetos. Isso tudo representa uma facilidade maior para quem quiser se instalar por aqui.
Outra forma de valorizar o que mapeamos é demonstrar por meio de camadas no atlas todas essas informações para que o empreendedor possa visualizar de forma completa o que há à disposição. Com isso é possível visualizar toda a estrutura e as possibilidades de investimento, um trabalho que já ficará disponível que as empresas, se quiserem, não precisarão fazer.
Agência CanalEnergia: Além dos projetos acredita ser possível ser um destino de investimentos da cadeia industrial da fonte solar?
Leonardo Cintra: Sim, temos a ideia de atrair a cadeia de produção. Inclusive, já temos uma de rastreadores solares por aqui e podemos ser um hub de atuação. Hoje acho improvável a indústria de painéis. Mas as demais é possível sim. Temos esse programa de isenção de 18% de ICMS para quem se instala por aqui. É uma politica de estado buscar novos horizontes e tentarmos promover mais fatores atrativos para as empresas e empreendedores instalarem-se por aqui. Lembrando o fato que temos como meta gerar empregos, renda e estimular a economia do estado que está baseada na agropecuária e turismo basicamente e a indústria que temos é muito relacionada a essas atividades. Por isso precisamos atrair novas e incentivar outros segmentos.
*O repórter viajou a convite da Semarh-TO