A questão do financiamento de projetos solares fotovoltaicos continua a ser o ‘calcanhar de aquiles’ do setor em termos de buscar formas de viabilizar projetos. Enquanto os empreendedores apontam que há a necessidade de novas e melhores formas de financiamento de usinas, os bancos ainda apontam que há uma grande necessidade de apresentação de garantias para que possam ser liberados os recursos.
Na semana passada o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGVces) apresentou os resultados de um estudo feito para a Febraban, entidade que representa os bancos indicando que o financiamento de projetos solares fotovoltaicos é viável no país. A meta com esse trabalho foi o de apresentar uma ferramenta básica em comum para que as instituições possam desenvolver metodologias próprias de acordo com seu perfil de avaliação de risco.
“Financiamento ainda é o gargalo no Brasil, há produtos, mas a adesão massiva acontecerá no momento em que as alternativas garantirem que o pagamento cabe na economia que os sistemas podem proporcionar”, comentou Rodrigo Marcolino, sócio da Axis Renováveis e conselheiro da Absolar. “Há poucas linhas de financiamento e é preciso taxa, prazo e flexibilidade nas garantias, principalmente, se chegar às pessoas físicas é necessária que a estrutura de garantias seja mais leve”, apontou ele em evento promovido pela entidade que representa o setor bancário no país.
Mário Sérgio Vasconcelos, Diretor de Relações Institucionais da Febraban, lembrou que este ainda é um mercado novo com novas empresas/clientes para as instituições financeiras. Ele comentou que a questão dos financiamentos passa pela estruturação dos projetos e compatibilidade do ponto de vista técnico. E ressaltou o fato deste ser um novo mercado, por isto, há um certo descompasso quanto ao que é exigido pelas instituições financeiras ante realidade dessas empresas jovens e o que podem apresentar em termo de balanços.
“Não podemos esquecer que o dinheiro que emprestamos é dos clientes e temos grande responsabilidade com isso”, comentou. “O que mostramos e o modelo que pode ser adotado, há variáveis a depender do apetite ao risco, é um modelo básico onde as instituições podem adaptar ao seu foco de mercado”, acrescentou.
O estudo apontou como foco três nichos bem segmentados de mercado, sendo dois destinados à pessoa jurídica. O que diferencia são os tíquetes médios, um de valores acima de R$ 15 milhões, destinados a projetos de miniusinas até o limite de 5 MW, outro nicho está em projeto de médio porte ou geração compartilhada com valores de investimentos médios de R$ 5 milhões e sistemas de pequeno porte instalados em pequenas e micro empresas, seja para consumo direto ou auto consumo remoto e tíquete médio de R$ 500 mil. Outro segmento é aquele destinado a pessoa física e valores médios de investimentos de R$ 50 mil em média.
Os resultados do estudo foram o ponto central do 55º Café com Sustentabilidade que a entidade financeira apresentou com base em análises de sensibilidade aos modelos aplicados. O objetivo, apontou Paula Peirão, Gestora do Programa Finanças Sustentáveis do centro, era o de compreender os fatores e a padronização dos modelos de negócios, e ainda, contribuir para maior entendimento e padronização dos modelos de negócios e para a análise de riscos dos projetos nos bancos. Os indicadores analisados foram o payback simples do investimento feito no painel solar fotovoltaico e o custo do investimento.
Quatro estados foram selecionados para a análise: São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Paraíba. Desses o primeiro apresentou o menor capex devido à maior proximidade dos locais de implantação/importação dos equipamentos e melhor qualificação de mão-de-obra, o que reduz custos de instalação. Contudo, não possui melhor retorno devido à tarifa de energia elétrica que é da ordem de R$ 0,59/kWh e menor irradiação solar, o que reduz a produtividade. Nessa comparação aparece em penúltimo lugar.
Sem financiamento, Minas Gerais ficou à frente em termos de retorno, quatro anos, principalmente devido à tarifa de energia, que é a mais alta dos quatro estados (R$0,78/kWh), e ao grau de irradiação solar. O estado também é o que apresenta menor tempo de retorno do investimento quando é avaliado o sistema com financiamento. O maior tempo para obter retorno do financiamento ficou com a Paraíba devido à menor proximidade dos locais de implantação/importação dos equipamentos, o que impacta negativamente os custos com instalação e pela escassez de mão-de-obra qualificada, embora possua irradiação solar e potencial de mercado considerados como bons.
A modelagem foi aplicada pelo BID que atuou em parceria nesse projeto e a conclusão é de que a metodologia para a mitigação de riscos do projeto foi considerada viável para um projeto piloto. Mas, ressaltou o representante da instituição multilateral, Luiz Serrano, há uma necessidade de calibração para cada banco de acordo com suas políticas de investimentos e financiamentos da fonte.
A questão do risco técnico do projeto ainda representa um peso grande nos projetos devido à questão do desconhecimento desse mercado por parte dos bancos. Diferentemente de crédito para o financiamento de veículos ou imóveis, as instituições não têm como recurso a tomada de placas solares ou dos sistemas do cliente em caso de inadimplência. Por isso, a questão das garantias ainda é um tema polêmico.
Tanto é assim que os representantes das instituições ouviram reclamações da plateia quanto à realidade do país ante as exigências de empresas que estão investindo nesse segmento. O alvo são as taxas de juros praticadas e o volume de garantias exigidas, o que leva quase a um risco zero das instituições financeiras. Justamente pelo mercado solar fotovoltaico estar se estruturando no país ainda não há um track record ou balanços suficientes, o que encarece o crédito e, consequentemente, reduz o apetite pelo investimento em sistemas de menor escala ante o potencial que o país apresenta.