O leilão de energia para os sistemas isolados em Roraima deverá ocorrer ainda este ano, mas após as eleições. A ideia do governo federal é de contratar diversas tecnologias por prazos diferenciados e assim atender a demanda daquele estado, o único ainda que não está conectado ao Sistema Interligado Nacional. Apesar de haver a possibilidade de abrir o certame até mesmo para o armazenamento por meio de baterias, a falta de regulação é uma barreira que deverá impedir a participação dessa modalidade no certame que está sendo organizado. De qualquer forma, o Ministério de Minas e Energia afirma que o abastecimento do estado está garantido, mesmo com a ameaça da Venezuela de cortar o envio de energia por falta de pagamento.

Segundo o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético, Eduardo Azevedo, o suprimento ao estado está garantido, mas reconhece que o valor da energia aumentaria significativamente, pois o custo da geração a diesel é muito mais elevado do que o atualmente que vem do país vizinho. “O Pmix da geração a diesel em Roraima está acima de R$ 1,5 mil por MWh”, comentou ele. “A ideia é descarbonizar a matriz de geração no estado e queremos ter o diesel apenas como backup”, acrescentou ele.

Houve um atraso na publicação do edital do leilão porque a distribuidora apresentou informações inconsistentes e que devem ser revistas até esta sexta-feira, 24 de agosto. Mas em princípio, o volume deverá girar em torno dos 250 MW médios estimados em uma primeira versão do programa. A partir da semana que vem o governo deverá ter a linha de referência para a solução do problema no estado. Entre as soluções citadas por Azevedo estariam vários produtos como a bioenergia originada do biogás, biodiesel, solar e até mesmo baterias. As tecnologias serão escolhidas pelos interessados no certame.

Apesar dessa indicação, há uma possibilidade muito real de que os sistemas de armazenamento possam ser barrados desse certame. Segundo avaliação do diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica, Sandoval Feitosa, a falta da regulamentação é um fato e que sem essa base o produto não pode ser ofertado.

“Para Roraima ainda não imagino essa situação [disputa do leilão com baterias] não temos ainda uma regulação específica e há outras oportunidades, por exemplo, que visitamos hoje [ontem] a usina de Biogás da Raízen, uma matéria já regulada”, comentou ele em evento da AES Tietê. “O armazenamento mostra-se viável, mas precisamos estudar mais para considerá-la uma oportunidade viável para o planejamento. Há estudos que mostram que a tecnologia tem potencial e estamos estudando para adequação e adaptação ao sistema elétrico nacional”, acrescentou.

Os produtos serão indicados pelo edital que ainda não tem data par ser publicado. Assim como a tecnologia, indicou Azevedo, os prazos dos contratos ainda estão em avaliação, podendo ser mais longos ou mais curtos. O que definirá essa característica é o Valor de Referência Específico (VRES) para as fontes que entrarão no certame. “Se estiverem em valor abaixo não vejo problema de serem contratos mais longo, mas se estiverem acima, serão mais curtos até porque há a perspectiva de termos a conexão daquele estado ao SIN agora que já temos uma sinalização de que o projeto da linha Manaus-Boa Vista deverá sair”,  apontou ele que ressaltou ainda que não será considerada qualquer mudança de cronograma no curto prazo, pois para qualquer emergência o sistema já instalado de térmicas tem capacidade de atender a demanda.

Até porque, lembrou ele, qualquer solução emergencial demora pelo menos seis meses para ser implantada. Por isso é mais importante que a solução seja estrutural para o estado e proporcionar a redução de preços. Outro fator citado para evitar o diesel e viabilizar microgrids nos sistemas isolados está no volume de perdas já que a geração a diesel se dá em 69 kV, produção que precisaria ainda ser transportada por distâncias de até 400 quilômetros. “Então, se tiver a GD própria nas regiões é mais interessante”, avaliou.

Quanto ao linhão que está paralisado para a interligação ao SIN da última capital de estado, a solução de fracionar o licenciamento é visto como positivo. Azevedo rechaçou o argumento de que há risco da obra ficar inacabada caso a autorização para atravessar a terra indígena não seja dada. “Vamos emitir a autorização de início da obra apenas quando tivermos todos os trechos com licenciamento”, revelou ele. Enquanto isso, os demais trechos recebem a autorização e as empresas do consórcio podem se preparar para tocar o empreendimento.

Ainda fazem parte do consórcio a Eletronorte e a Alupar, apesar desta última já ter se manifestado que deixaria o consórcio, ainda em setembro de 2015, ficando a subsidiária da Eletrobras como a única responsável pelo empreendimento.

*O repórter viajou a convite da AES Tietê