Durante o III Congresso Internacional de Biomassa (CIBIO), evento internacional realizado esta semana em Curitiba (PR), o gerente em Bioeletricidade da União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica), Zilmar de Souza, falou sobre a baixa comercialização da bioeletricidade nos últimos leilões regulados e a falta de diferenciação entre energias limpas e poluentes nos critérios de contratação.

No último dia 31 de agosto, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) promoveu o leilão A-6/2018, para atendimento ao mercado das distribuidoras a partir de 2024. Ao fim da disputa, o setor sucroenergético, que havia cadastrado 25 projetos, totalizando 1.040 MW, vendeu apenas dois, o que representará o incremento de 28,5 MW.

Para o especialista, esta baixa comercialização pode colocar em xeque o alcance das metas indicadas para a bioeletricidade canavieira no Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2026). O documento elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) prevê que contratação da capacidade instalada por esta biomassa deverá ser de 1.868 MW entre 2021 a 2024.

“Até o momento, o ambiente regulado [leilões], que ainda é a principal porta de entrada para a indústria da cana no setor elétrico, contribuiu com apenas 20% da expansão indicada até 2024 para a indústria sucroenergética no PDE. Mesmo desconsiderando uma expansão via mercado livre, a baixa contratação nos últimos leilões mostra que precisamos redesenhar o modelo e a forma de participação da biomassa nos certames. Isso é fundamental para estarmos aderentes ao planejamento do segmento elétrico”, comenta o executivo da Unica.

Zilmar espera que os próximos leilões regulados consigam evoluir para, no mínimo, a criação de um produto específico para a bioeletricidade produzida da cana, ou mesmo leilões regionais e específicos para esta fonte e o biogás. Segundo ele, separar a bioeletricidade de fontes não comparáveis como carvão e gás natural, idealmente dentro de uma política setorial de longo prazo, com diretrizes claras e de continuidade, é a melhor maneira de se buscar o pleno uso deste importante recurso renovável na matriz elétrica do Brasil.

“Atualmente, aproveita-se apenas 15% do potencial técnico do setor sucroenergético em geração de bioeletricidade para o sistema elétrico. Além de uma escala de produção/estrutura de custos bem diferente, colocar a biomassa da cana-de-açúcar, que é sustentável, em disputa direta com outras responsáveis por despejar toneladas de gases de efeito estufa (GEEs) por MWh, distorce gravemente a correta valoração dos atributos que cada fonte entrega ao sistema elétrico”, avalia o gerente.

Desde 2013, a fonte biomassa participa dos leilões regulados no chamado Produto Disponibilidade Termoelétrica, concorrendo diretamente com gás natural e/ou carvão mineral, sem diferenciação de atributos como o nível de emissões de GEE.