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As previsões para o futuro do setor elétrico brasileiro apontam para a expansão e integração das renováveis nas chamadas redes inteligentes, em que a eficientização da energia e dos processos de geração e medição acontecerá através da digitalização e descentralização desses sistemas. Essa transição energética, onde novas fontes e produtores de energia passam a atuar, traz consigo, como qualquer novidade, diversas questões a serem analisadas e debatidas desde já, como o papel das distribuidoras no futuro, a complexidade de inserção dessas fontes no Sistema Interligado Nacional, o advento dos carros elétricos e a possibilidade de armazenamento e complementação energética, através de usinas flexíveis e reversíveis.
Essas e outras questões foram debatidas na 4ª edição do seminário “Inserção de Novas Fontes Renováveis e Redes Inteligentes no Planejamento Energético Nacional”, promovido pela Coppe/UFRJ em parceria com a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha – AHK-Ri, e realizado na última quarta-feira (19), no auditório da Casa da Ciência/UFRJ.
O evento reuniu ao longo do dia especialistas e atores do setor elétrico para discutir ideias, desafios e oportunidades da transição energética que vem ocorrendo no país, ainda que de forma lenta, principalmente quanto ao quesito regulatório, que poderia inclusive ajudar a impulsionar melhor essa transformação necessária ao setor, sentimento compartilhado pela maioria das apresentações.
Na abertura do encontro, o professor do Programa de Planejamento Energético Coppe/UFRJ, André Lucena, apresentou a proposta da chamada que visa receber estudos específicos para projetos de construção de dispositivos e equipamentos mais eficientes para a geração, transformação, transporte e utilização final da energia, associando a dimensão tecnológica da energia aos aspectos políticos, econômicos, sociais e ambientais.
Já o consultor técnico da EPE, Luciano Basto Oliveira, articulou sobre como o planejamento pode se adaptar a “nova era da energia”, trazendo questões como o progresso de armazenamento de energia com baterias e a complexidade da nova rede com o fluxo bidirecional, bem como necessidade de economicidade para os projetos na área e os potenciais de inserção eólica e solar na malha energética.
Entre os destaques de sua fala, o especialista trouxe como exemplo um projeto inovador de geração maremotriz que está sendo pensado pela Coppe e por Furnas, para ser realizado na Ilha Cagarras, no Rio de Janeiro. “Ao invés de ancorar o equipamento na costa, como no Porto Pecém, vamos utilizar o movimento vertical fora da costa, ancorando o equipamento no fundo do mar, e aproveitando esse movimento em um ponto fixo”. No entanto, a grande aposta de Luciano para os próximos anos fica para a adoção progressiva do ônibus elétrico, que ainda depende do “gargalho tecnológico” das baterias.
No painel “Geração Distribuída e Modernização das Tarifas”, o coordenador do Programa de Planejamento Energético Coppe/UFRJ, Maurício Tolmasquim, discorreu sobre as três tendências que irão produzir as rupturas no setor elétrico tradicional: eletrificação, descentralização e a digitalização, as quais irão mudar o relacionamento entre consumidores e produtores de energia, exigindo alterações na estrutura regulatória. “A grande questão é que irá aumentar o problema da governança do setor, das tarifas, da operação, vai ficar muito mais complexa pelo número de agentes e energia em várias direções”, afirmou Tolmasquim.
Um dos problemas será enfrentado pelas distribuidoras, que terão que repensar sobre suas receitas e na viabilidade de suas atividades para o futuro. Outro ponto são os riscos técnicos e regulatórios do crescimento da geração distribuída, que devem ser muito bem compreendidos e analisados. Também foi chamada a atenção para o poder de otimização da rede com os veículos elétricos, que possibilitam “uma carga durante à noite e uma fonte durante o dia”, mas que ainda esbarram na falta de eletrovias e ao alto custo para a construção dessas estações de recarga.
Na sessão “Novas Tecnologias Limpas e Novos Ambientes de Negócios”, os assuntos abordados concentraram-se nas Smart Grids, com os sistemas inteligentes de controle e medição, e a análise de dados por inteligência artificial e internet das coisas, que vem aquecendo um interessante debate sobre o uso de dados e a questão da privacidade.
Marciano Morozowski Filho, especialista em Planejamento e Regulação de Sistemas de Energia Elétrica da WeSee, destacou o prevalecimento da fonte solar na distribuição de energia para o futuro e também a importância das usinas reversíveis, que possuem grande potencial para utilização, mas poucos estudos para efetivar operações do tipo. “Há um projeto da Eletronorte nesse sentido, mas esbarra em problemas de licenciamento ambiental”, contou.
Representando a ABstartups, Hudson Mendonça falou sobre a inovação como a maior força transformadora do século XXI, e que um dos problemas que acometiam os projetos inventivos na área de energia, até os anos 2000, era a falta da reunião entre as ideias e o dinheiro para colocá-las em prática, o que em parte vem sendo suprido em parte pelo financiamento de risco e o modelo de negócio de cooperação entre as corporações, com seus conhecimentos e experiência, e as startups, com o apetite pela inovação, criatividade.
Tratando da expansão das “Fontes Renováveis e Geração Flexível”, um dos temas trazidos por Leontina Gomes, Diretora Executiva da Engenho Consultoria, foi a complementação da geração das térmicas do país com a inserção de fontes limpas, ressaltando que o Brasil é “o único lugar do mundo onde é possível mitigar riscos climáticos com as renováveis”. Segundo dados apresentados, com a substituição das termelétricas do país por energia fotovoltaica, haveria um ganho de 8 bilhões ao longo de cinco anos e uma economia de aproximadamente 17 mega tonelada de CO2, equivalente ao reflorestamento de 33% da cidade de São Paulo.
Uma das soluções apresentadas no seminário são as térmicas de partida e parada rápidas, que servirão para complementar a geração renovável quando não houver vento ou sol, por exemplo. “As usinas flexíveis podem atingir a carga de 0 a 100% em apenas dois minutos com um motor de combustão”, revelou Gabriel Cavados, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Wärtsilä, multinacional dinamarquesa que tem expandido seus negócios sobre o mercado de energias renováveis.
Sobre a importância do seminário para o debate e futuro do setor energético nacional, o Professor do IFRN, Neílton Fidélis, mostrou-se satisfeito com a quantidade de temas levantados e outros assuntos e discussões que acabaram surgindo no debate, que abre um leque de questões que precisam avançar no país.
“Hoje falamos do potencial solar e eólico e de startups, mas temos que começar a pensar na definição de ocupação desse território, em como vamos avançar essa energia no Nordeste e no semiárido, uma região que era apontada recentemente com escassez e agora aparece com essa abundância”, comentou o professor, lembrando também que apesar do ufanismo tecnológico, há muitas pessoas no planeta sem acesso à eletricidade e isso deve ser levado em consideração.
“O Brasil é um país em que se mata e morre pela ocupação de terra e esquecemos também das pessoas que se tornaram invisíveis, sem eletricidade em suas casas. Parabenizo a realização desse seminário por apontar também esse lado e assim caminharmos na melhor direção para esse futuro”, assentiu Fidélis.