O volume de sistemas de geração distribuída em 2024, segundo Nota Técnica da Agência Nacional de Energia Elétrica que balizará o aprimoramento da Resolução 482/2012 está 30% menor do que a previsão anterior. A atual perspectiva da agência reguladora aponta para um número de 886.726 unidades de geração distribuída ante cerca de 1,2 milhão estimados anteriormente. Ao se confirmar as projeções, o país alcançará 2024 com menos de 1% das unidades consumidoras contando com essa modalidade de geração.
Na avaliação do presidente executivo da Absolar, Rodrigo Sauaia, essa redução da Aneel é até otimista para o período. Ele toma como base as perspectivas que a própria entidade têm. Enquanto a agência reguladora aponta para um volume de 638 MW divididos entre 174.233 sistemas, a associação acredita que o país possa alcançar algo próximo a 600 MW em cerca de 150 mil sistemas.
“São linhas de projeções próximas sim e na mesma ordem de grandeza que podem variar para cima ou para baixo, mas esse número é ruim porque a projeção oficial que tínhamos para 2020 no documento de 2015 era de que chegaríamos a 224.555 sistemas e 894 MW de capacidade de geração”, afirmou Sauaia.
Segundos os cálculos da Absolar, a GD solar fotovoltaica está presente em apenas 0,048% das unidades consumidoras do país quando se considera os números da Abradee referentes a 2017 quando havia 82,5 milhões de clientes atendidos pelas concessionárias de distribuição no Brasil. Os números oficiais da Aneel indicam cerca de 40 mil sistemas de GD solar fotovoltaica. “Quando avaliamos as projeções de 2020, serão 0,2% dos consumidores gerando sua própria energia e 0,93% em 2024 caso as previsões de crescimento da GD solar e do número de consumidores das distribuidoras, que é de 1,8 milhão ao ano, sejam confirmadas”, indicou Sauaia à Agência CanalEnergia. “Além disso, precisamos ressaltar que esses sistemas tem um ator de capacidade relativamente controlado e que não é alto, e por isso a demanda é menor do que 1% da carga das distribuidoras, são valores pequenos, praticamente irrisórios”, destacou ele.
Sauaia defende que, sendo assim, a agência reguladora não altere significativamente a regulamentação do sistema de compensação nessa próxima revisão da resolução 482/2012 e posteriormente transformou-se na 687/2015. De acordo com a Aneel o aprimoramento deverá entrar em vigor no final do segundo semestre de 2019. E a alteração mais significativa que está no foco é a de permitir o net metering entre diferentes concessionárias.
Essa posição da Absolar é justificada quando colocada frente a frente com a indicação das distribuidoras de que a regra precisa mudar para que as companhias possam garantir sua sustentabilidade, uma vez que essas concessionárias atuam apenas como repassadoras da energia adquirida e precisam da remuneração pelo investimento na rede. A separação entre o fio e a energia é apontada como fundamental para essa sustentabilidade e não proporcionar um subsídio dos mais pobres – e que ficam conectados à rede – para aqueles consumidores que possuem capacidade econômica para implantar um sistema de GD Solar.
No contraponto que a Absolar coloca está o fato de que em 2024 o Brasil ainda não terá nem 1 milhão de sistemas ante um universo de cerca de pouco mais de 95 milhões de unidades consumidoras no mercado regulado. E descreve ainda que o país continua atrasado no desenvolvimento dessa fonte quando comparado com outros países que já ultrapassaram esse volume de sistemas, como, obviamente, os Estados Unidos, Austrália, Japão, China, Índia e Reino Unido.
“Nossa visão, de olho nos dados e reflexão ponderada de onde estamos e para onde estamos caminhando trazem a tranquilidade de comprovar que a GD está ainda em fase de estruturação e o modelo atual dá resultado”, analisou o presidente executivo da Absolar. “Estamos a uma longa distância do potencial de impacto que a GD pode ter sobre uma concessionária de distribuição”, acrescentou ele que apontou a necessidade de que se realize um estudo técnico mais aprofundado do tema para avaliar as mudanças para avaliar os impactos da GD no segmento de distribuição. Sauaia diz que fazer qualquer alteração sem essa visão seria prematuro para o desenvolvimento da fonte por aqui.
O executivo baseia-se em estudos realizados que apontam uma possibilidade de que uma rede de distribuição poderia ter cerca de 10% de penetração da GD com redução de custos para o sistema como um todo e até 30% na hora de pico de demanda a depender da distribuidora. Ele cita um estudo apresentado pelo National Renewable Energy Laboratory (NREL) em outubro de 2016 no qual esse indicador foi apresentado quando se analisou o grid no estado norte-americano da California.
E lembrou ainda do caso da CPFL Energia – que foi
noticiado pela Agência CanalEnergia – onde seu projeto P&D Telhados Solares que estudou o impacto da microgeração solar nas redes elétricas de baixa tensão apontou que, a partir dos hábitos de consumo dos clientes participantes do projeto e da energia gerada, verificou-se que as redes de distribuição estão preparadas para suportar uma penetração de até 20% pelos sistemas.
“Ou seja, com base nesses números verificados inclusive no Brasil, mostram que com menos de 1% de GD na nossa rede vemos que esses sistemas não terão impacto significativo quando olhamos para 2024”, argumentou. “Precisamos lembrar ainda que a inserção da GD traz benefícios líquidos importante com a redução de custos para o sistema, redução de perdas e manutenção com mais prazo para ser realizada. Por tudo isso não devemos desincentivar a expansão do sistemas de GD no Brasil”, defendeu.