O protagonismo da gestão de ativos na estratégia empresarial esteve no cerne dos principais assuntos debatidos no 5º Encontro de Gestão de Ativos para Empresas do Setor Elétrico – Egaese, promovido pelo Instituto Brasileiro do Cobre (Procobre) em parceria com a AES Brasil, Eletropaulo, Cemig e ISA Cteep, na última semana de setembro, em São Paulo.
Desde a primeira edição do evento, os projetos multiplicaram-se e o desafio de gerenciar um grande número de ativos, executar muitas atividades de manutenção diariamente e obter indicadores de um volume crescente de dados amadureceu. Tanto que hoje é possível saber de forma individualizada, a criticidade e o retorno de cada negócio imobilizado no processo de geração, transmissão ou distribuição.
Para a engenheira eletricista Marisa Zampolli, organizadora do Egaese e consultora do Procobre, o setor elétrico passa por uma profunda transformação e ineficiências de gestão de capital, que comprometem as margens operacionais. “Implantar uma gestão de ativos e refiná-la, continuamente, é fundamental para gerar valor real para a organização. Um exemplo prático é a aquisição de equipamentos com alta eficiência energética, que ao longo da vida útil trazem melhor desempenho, com menos riscos e perdas”, comentou.
Já na visão do CEO da AES Brasil, Ítalo Freitas, a gestão de ativos se tornou um elemento-chave na estratégia das empresas e importante variável de decisão para fusões e aquisições. “Trata-se de um fator de oportunidade para investimentos”. O grupo gerador, que recentemente adquiriu o Complexo Eólico do Alto Sertão, de produção de energia eólica, em menos de um ano aumentou sua disponibilidade de geração de 93% para 97%, aplicando as boas práticas de gestão de ativos anteriormente implantadas na AES Tietê.
Carlos Macedo, engenheiro de confiabilidade à frente do projeto no Complexo Alto Sertão, ressaltou que foram identificados 14 componentes das turbinas aerogeradoras que justificavam 49% do número de atividades corretivas, sendo que a metade sofria desgaste ou tinha tempo de vida útil previsível. “Passamos a substituir as baterias das turbinas, a controlar e redimensionar os estoques, além de incluir ensaios preditivos no escopo das manutenções preventivas, com o intuito de melhorar os índices de disponibilidade dos parques”, afirmou.
Na transmissão, um projeto de padronização com redução de 402 tipos de equipamentos para 29 especificações diferentes e com melhor eficiência energética vem ajudando a ISA Cteep a determinar a quantidade ótima de estoque de transformadores de tensão e transformadores de corrente.
A iniciativa contribuiu para a empresa poupar R$ 3 milhões em compras desnecessárias de sobressalentes. Outra proposta prevê o cadastro de períodos diferentes para indisponibilidade da linha, transformador, barra, o que altera os programas de manobra e reduz o período de indisponibilidade da rede, evitando descontos regulatórios da parcela variável.
Nas distribuidoras do Grupo Neoenergia, o percentual de investimentos não reconhecido e remunerado pelo órgão regulador chegou a superar os 25%. Como meio de reduzir a glosa, a gestão de ativos físicos foi integrada à contábil, com codificação da atividade de serviço (investimento, custeio, desativação), padronização dos serviços de terceiros, controle de documentação de obra, entre outras 78 atividades padronizadas.
A Eletropaulo, recém adquirida pelo grupo italiano Enel, conseguiu em 2018 a recertificação da ISO 55001, que a coloca no patamar de 1ª empresa a fazer parte do 2º ciclo da norma. A Cemig, por sua vez, obteve o melhor índice de revisão tarifária desde 2013, com repasse de 4% da tarifa em relação à gestão operacional e ao incremento de custos operacionais.
1º Prêmio Nacional de Gestão de Ativos Engenheiro Amauri Reigado
Os projetos de gestão de ativos conduzidos pelas concessionárias e permissionárias de energia, este ano, concorreram ao 1º Prêmio Nacional de Gestão de Ativos, em reconhecimento às melhores práticas aplicáveis no setor elétrico nacional. O Prêmio leva o nome do engenheiro Amauri Reigado, da Cemig (MG), em homenagem póstuma a um dos precursores da gestão de ativos no setor elétrico no país.
Dos 50 projetos inscritos, 12 foram selecionados para compor a mesa de trabalhos do Egaese. A comissão julgadora classificou os três primeiros lugares de acordo com quatro categorias. Na de Impactos Regulatórios da Gestão de Ativos, ganhou o trabalho sobre “Redução dos descontos da parcela variável por indisponibilidade”, de Felippe Bacega, da ISA Cteep.
Representando a AES Tietê, Carlos Alberto Macedo levou o prêmio no quesito Atividades do Ciclo de Vida dos Ativos, com o projeto “Análise de falhas: a base para uma manutenção inteligente”. Já o trabalho “Excelência em controle e gestão de ativos traz resultado financeiro para empresas do setor elétrico”, dos autores Jorge Luís Facury Ribeiro / Leandro Mota – da Coelba e Celpe, respectivamente, venceu na categoria Tecnologia e Inovação em Gestão de Ativos.
Por fim o projeto de Rafael S. V. de Barros, da AES Tietê, “Sistema de Gestão de Ativos – plataforma para melhoria contínua e geração de valor”, conquistou a premiação na divisão de Gestão Estratégica.