Desde o final de novembro, o Pelotão Especial de Fronteira (PEF) do Exército em Tunuí-Cachoeira, no Amazonas, substituiu os geradores a diesel pela energia solar. Na última semana, um grupo de profissionais da Itaipu voltou da região após duas semanas para fazer o comissionamento de um sistema híbrido de armazenamento de energia, o primeiro deste tipo no país.
O projeto é uma parceria entre a Binacional e o Exército Brasileiro e já se encontra em funcionamento. Segundo o engenheiro Bruno Giacchetta, da Assessoria de Mobilidade Elétrica de Itaipu, que liderou a equipe de sete pessoas – quatro da usina e três da empresa espanhola Ingeteam – na missão ao Amazonas, explicou que “ainda é preciso que o pessoal de lá ajuste a instalação elétrica da comunidade, para a energia produzida chegar até eles. Mas o nosso sistema está em pleno funcionamento”,
O sistema que integra gerador, painéis fotovoltaicos e baterias de sódio recicláveis foi desenvolvido pela equipe do Programa Veículo Elétrico (VE) da Itaipu. Durante o dia, parte da energia produzida pelos painéis alimenta a rede e o excedente é armazenado nas baterias. No período noturno, quando não há luz solar, as baterias abastecem a rede. O gerador a diesel vai funcionar apenas como backup.
De acordo com o coordenador brasileiro do Programa VE e chefe da Assessoria de Mobilidade Elétrica de Itaipu, Celso Novais, o grande diferencial do projeto está no software de gestão e nas baterias de sódio 100% recicláveis. “Elas são resistentes às altas temperaturas da região, não perdendo vida útil nem correndo o risco de explosão, se comparadas com outros tipos de baterias”, conta Novais. Segundo ele, a binacional trabalha atualmente no desenvolvimento de outra bateria de sódio com características planar, ainda mais moderna e que deverá reduzir em um terço o custo de fabricação além de outras vantagens.
Na Amazônia, o sistema integrado vai abastecer um pelotão com 60 pessoas, além da comunidade de 200 indígenas das etnias coripaco e baniwa, que está localizada ao lado do posto militar. “A participação de uma comunidade no projeto foi uma exigência da Itaipu quando assinou o acordo com o Exército, em 2014”, explicou o chefe da Assessoria de Inteligência da Itaipu, Luiz Felipe Kraemer Carbonell. Na aldeia indígena, a energia vai abastecer postes de luz, uma escola, um posto de saúde e o centro de artesanato.
De acordo com Carbonell, no futuro, este modelo poderá atender outros pelotões e povos em regiões remotas do país. No total, o Exército mantém 28 destacamentos em toda a faixa fronteiriça brasileira. “Nosso maior objetivo é garantir a segurança energética desta região.” O próximo pelotão deve ser o de São Joaquim, também na Amazônia Legal, que tem uma comunidade de indígenas yonamis nas redondezas.
Logística complicada
A missão da Itaipu em Tunuí-Cachoeira é a terceira incursão da equipe à região. Na primeira viagem, eles identificaram a área onde seria colocado o sistema. Na segunda, foi feito o transporte e a instalação dos equipamentos e dos softwares. “É uma logística bastante complicada, depende do regime dos rios e das chuvas. Foi preciso o apoio de barcos da região para levar os equipamentos”, complementou Carbonell. Agora, o sistema foi comissionado e deixado pronto para uso.
A dificuldade de acesso também era um encarecedor da energia em Tunuí-Cachoeira. O litro de óleo diesel, para operar o antigo gerador, custava mais que R$ 40. “O deslocamento é complexo. O combustível acaba dividindo espaço com os mantimentos nas aeronaves ou nos barcos”, explicou Novais.
“Agora será feito um monitoramento remoto, para acompanhar o status operacional dos equipamentos”, conta. Foi necessário adaptar o nosso sistema para se adequar à banda de internet da região, que é mais lenta. “Alguns ajustes podemos fazer remotamente e outros podem ser realizados pelo pessoal local, que recebeu treinamento básico para isso. Ajustes mais complexos vão exigir nosso deslocamento à região”, concluiu.