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O leilão realizado nesta quinta-feira, 20 de dezembro, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) terminou com deságio médio de 46%, o que significa uma economia de R$ 986 milhões anuais para os consumidores de energia elétrica de todo o país. Foram ofertadas linhas de transmissão e subestações com investimentos estimados em R$ 13 bilhões para os próximos anos.

“O pessoal está acreditando no segmento de transmissão porque ele é de baixo risco e não depende do humor da economia”, disse Mário Miranda, presidente da Associação Brasileira de Transmissores de Energia (Abrate). O executivo destaca que o deságio verificado hoje foi menor do que no leilão de abril, mas mesmo assim terá um efeito benéfico para tarifa. “Quem ganha diretamente com esse desconto é o consumidor”, disse.

Contudo, o executivo acredita que os próximos leilões de transmissão terão deságios menores, uma vez que a Aneel estuda revisar o banco de preços que serve de referência para a precificação dos ativos levados a leilão.

O certame negociou 16 lotes com empreendimentos localizados em 13 Estados. Foram arrematados 7.152 km de linhas de transmissão e subestações que acrescentam 14.819 MVA em capacidade de subestações ao sistema. Com quatro lotes arrematados, a Neoenergia foi o grande destaque do leilão. Os investimentos previstos nesses quatro lotes são da ordem de R$ 6 bilhões.

“Esta é mais uma imensa conquista do Grupo Neoenergia, mostra a nossa força no setor de transmissão e contribui, ainda mais, para o crescimento do negócio. Com esse resultado, construiremos mais 3.000 quilômetros de linhas, um aumento de 130%”, comemorou Cristiane Fernandes, diretora de Planejamento de Redes e Investimentos da Neoenergia.

Outras empresas tradicionais no Brasil também tiveram sucesso no certame, como a Taesa, CPFL Energia, Energisa, Zopone e Brookfield. A surpresa negativa foi o desempenho da gigante indiana Starlite Power, que ficou apenas com o lote 13.

A diretora da Thymos Energia, Thais Prandini, esperava que a empresa seria protagonista no leilão principalmente porque os indianos têm um custo de capital mais baixo do que os seus concorrentes. “Mas o resultado foi muito bom. O risco de construção mesmo com esses deságios ficou muito menor.”  Prandini disse também que a redução das incertezas sobre os rumos do país também contribuiu para aumentar o número de participantes. “Talvez se a gente tivesse outro presidente teria um número menor de interessados.” No total, 38 empresas estavam cadastradas, sendo que houve 6,7 proponentes por lote.

Paulo Guilherme Coimbra, sócio da KPMG, destacou que o leilão foi um sucesso e que os lotes vendidos asseguram a realização do planejamento do sistema de transmissão. O executivo também reforçou que os ganhadores são empresas tradicionais no mercado, o que reduz a incerteza em relação à construção dos projetos. “Os ganhadores dos maiores lotes foram empresas que estão no mercado há bastante tempo e provavelmente vão ter condições de executar as obras. Acho que o leilão mostrou efetivamente como o Brasil continua em evidência”, disse.

Coimbra também destacou o processo de verticalização das empresas do setor. “O que a gente tem visto é que cada vez mais há um processo de verticalização das empresas, isso é uma tendência”, disse. Sobre os deságios, em sua opinião, as empresas estão mais eficientes, aproveitando o ganho de escala para ter uma negociação melhor com os fornecedores, melhorando a gestão da obra para antecipar a operação dos projetos, mas também vê que as empresas estão mais agressivas, apertando um pouco a margem.

Marcos Ganut, diretor de Infraestrutura da multinacional Alvarez & Marsal, disse que por atuar no pré-leilão já esperava um certame bastante disputado, o que foi confirmado devido ao grande número de participantes. Destacou que o deságio de 46%, embora menor do que no último leilão, é uma economia importante para o consumidor de energia. “O leilão foi uma demonstração clara de que o setor de energia continua atraindo a atenção do mercado mesmo em momentos de crise”, disse.

Ganut falou que a antecipação dos prazos também tem sido uma componente importante para garantir a rentabilidade dos projetos. Os pré-contratos e a busca por sinergias também têm contribuído para os deságios.

Segundo Miranda, existe um tripé que é seguido por todos os empreendedores na hora de fazer as contas. O primeiro ponto é a capacidade de antecipação das obras, pois isso permite um incremento de receita. O segundo aspecto é o custo de capital. A terceira componente estratégica são as negociações com fabricantes de equipamentos e EPCistas – que são empresas que desenvolvem e constroem os projetos.