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O leilão de transmissão realizado na última quinta-feira, 20 de dezembro, foi o maior que a Agência Nacional de Energia Elétrica, já realizou em termos de investimentos. Um dos pontos que foi destacado é a alteração do edital que proporciona o enquadramento ao benefício do REIDI e possibilidade de financiamento dos projetos via debêntures de infraestrutura, que são concedidos junto à assinatura da outorga da concessão. Esse é um dos fatores destacados pelo Ministério de Minas e Energia como um dos pontos que ajudaram na atratividade de investidores.

Alguns vencedores fazem mistério e outros abrem um pouco mais como será a busca por recursos para os aportes a serem feitos nos lotes arrematados na tarde de ontem. Mas o que se percebe é que essa opção dada deverá ser usada largamente. Um dos que apontaram essa opção foi a Energisa, que levou o lote 4 que interliga o oeste da Bahia com o sul e centro do Tocantins, inclusive chegando à capital Palmas, área de interesse direto da companhia por ser a controladora da distribuidora local.

O lote 4 é formado por 772 quilômetros de linhas de transmissão de 230 kV além de duas subestações de 500/230 kV e 150 MVA e 230/138 kV e 200 MVA. A estrutura também servirá para escoar a energia proveniente da geração hidráulica e fotovoltaica da região. O prazo para conclusão das obras é de 60 meses, com entrada em operação comercial até março de 2024, mas a Energisa prevê antecipar a entrada em operação das instalações de transmissão em até 14 meses. O epecista contratado é a I.G. Transmissão, que inclusive disputou o certame como investidor em alguns lotes.

Segundo o vice presidente financiamento do Grupo Energisa, Maurício Botelho, a companhia tinha um interesse específico nesse lote que ajudará, inclusive a reduzir o volume de perdas na concessionária de distribuição tocantinense ao disponibilizar mais um ponto de conexão para a companhia.

“A companhia tinha um interesse específico no lote 4 que ajudará, inclusive a reduzir o volume de perdas na Energisa Tocantins, concessionária de distribuição do grupo naquele estado”, Maurício Botelho, da Energisa

Ele indicou que o projeto deverá contar com uma alavancagem de 80%. O investimento estimado pela Aneel é de R$ 699,4 milhões, mas ele apontou que desse valor a companhia poderá ser reduzido em algo entre 15% e 18% com o benefício do Reidi. E ainda poderá contar com recursos da Sudam e da Sudene por estar em uma região de atuação atendida por esses programas de fomento.

“Outra opção é o financiamento via debêntures de infraestrutura, instrumento que a companhia já usa normalmente. Acessar o mercado de dívida está melhor do que imaginávamos em 2017, quando conseguimos nosso primeiro lote de transmissão”, comentou ele em teleconferência com analistas nesta sexta-feira, 21 de dezembro. “Vamos buscar a melhor alternativa dentre as disponíveis quando da contratação da linha e financiamento”, acrescentou.

Por sua vez, a Taesa, que ficou com o lote 12, localizado no RS, parte do Lote A da Eletrosul no passado, com 587 quilômetros de extensão com investimentos de R$ 610,4 milhões também aponta para uma provável redução de capex e antecipação de obras em decorrência do conhecimento prévio do empreendimento. José Ragone, diretor de Desenvolvimento de Negócios, comentou ainda ontem que a companhia focou nesse e em outros três lotes, o 2, 3 e 4.

Em todos, comentou o executivo, a companhia tinha conhecimento por, inclusive, já ter estudado os ativos quando a Eletrosul colocou-os à venda. “Em nossas negociações conseguimos reduções de valores de investimentos não menor do que 10% e que chegaram a algo próximo a 25% quando comparado ao capex de referência da Aneel”, revelou ele.

A perspectiva é de antecipação das obras por conta do início do processo de licenciamento dos projetos que a própria Eletrosul já promoveu desde que havia arrematado o Lote A, isso em 2014. No caso da Taesa, o financiamento deverá passar também por debêntures de infraestrutura. A companhia relatou já ter conseguido obter outros financiamentos por este instrumento com prazos acima de 12 anos, carência elevada e amortização customizada. “Temos conseguido alavancagem de cerca de 90%do projeto. Saímos do BNDES pois temos conseguido condições mais favoráveis no mercado”, acrescentou.

“Em nossas negociações conseguimos reduções de valores de investimentos não menor do que 10% e que chegaram a algo próximo a 25% quando comparado ao capex de referência da Aneel”, José Ragone, da Taesa

Durante a coletiva de imprensa, representantes do Consórcio Chimarrão (formado pela espanhola CYMI e a Brookfield) bem como a Neoenergia não deram detalhes sobre as estratégias de financiamentos dos lotes que arremataram, resumidamente disseram que estudam as alternativas colocadas pelo mercado. Outro caminho apontado é buscar ser mais eficiente em termos de desenvolvimento da engenharia para minimizar os custos de implantação em relação ao capex indicado pela agência reguladora.

A Neonergia, nos quatro lotes que arrematou, apresentou um deságio médio de 50% com RAP ofertada de R$ 500 milhões para fazer frente a investimentos que somam R$ 6 bilhões. Por sua vez, o consórcio Chimarrão ficou com o segundo maior lote do certame, o 10, que contém parte do Lote A da Eletrosul e demanda aportes de R$ 2,4 bilhões. Para ficar com o projeto o deságio oferecido  foi de 42,38%, um pouco menos que o deságio médio do leilão que ficou em 46,08% segundo cálculos da Aneel.

A indiana Sterlite, a maior vencedora do certame realizado em junho, teve atuação mais discreta dessa vez. Entre lances com menor nível de deságio ou falta de interesse em apresentar proposta financeira por projetos em que foi habilitada a empresa arrematou o lote 13. O projeto envolve um investimento de R$ 776,8 milhões para a construção de 316 quilômetros de linhas e 1.544 MVA de capacidade de transformação de energia em uma subestação no Rio Grande do Sul. Em comunicado a companhia afirmou que agora conta com um “portfólio de 10 projetos e foco no comissionamento antes do previsto, a empresa está pronta para desempenhar um papel maior no país”.

Já a CPFL Energia teve uma performance diferente dos últimos leilões dos quais participou quando levou um lote apenas. Dessa vez a empresa conquistou dois, os de número 5 e 11 que referem-se a projetos nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Apresar disto a empresa manteve a sua estratégia de investir no que chama de ‘transmissão de nicho’, que são ativos que possuem sinergias operacionais com os nossos empreendimentos de geração tradicional e renováveis.

Subestação Morro Agudo da CPFL no estado de SP

Em junho deste ano, o Grupo arrematou a concessão da subestação Maracanaú II e trechos de linha no Ceará, que receberão investimento previsto de R$ 102 milhões. Em 2016 e em 2017, a companhia inaugurou as subestações Piracicaba e Morro Agudo, respectivamente, totalizando investimento de R$ 200 milhões.

Os novos ativos estão próximos das hidrelétricas do Grupo CPFL no Sul do País e dos ativos de distribuição da RGE e RGE Sul, as duas outras concessionárias de distribuição que a companhia controla. Os dois lotes, que compreendem novas subestações e linhas de transmissão totalizam investimentos de R$ 715 milhões, de acordo com o banco de preços da Aneel. São os primeiros projetos de transmissão do grupo nos dois estados.