Mesmo com mais do dobro de potência do que Itaipu, a usina chinesa de Três Gargantas não superou ainda a binacional em geração de energia. A hidrelétrica asiática fechou 2018 com 101 milhões de MWh, valor inferior ao recorde mundial de Itaipu, de 103,1 milhões de MWh gerados em 2016. As duas UHEs são as únicas do planeta a ultrapassar a barreira dos 100 milhões de MWh num único ano.
Desde o começo de sua operação, em maio de 1984, há exatamente 34 anos e sete meses do início do acionamento de suas primeiras unidades geradoras, Itaipu acumula 2,6 bilhões de MWh, energia suficiente para iluminar o mundo inteiro por 42 dias com eletricidade limpa e renovável e mais barata que a termoelétrica. Já Três Gargantas acumula produção de 1,2 bilhão de MWh, menos da metade do acumulado de Itaipu.
A capacidade instalada da usina de Três Gargantas é de 22,4 mil MW, 60% maior que os 14 mil MW da Itaipu. Mas, na comparação de produtividade, a binacional mantém, além da produção anual recorde de 2016, de 103,1 milhões de MWh, a melhor média dos cinco anos – 98,5 milhões de MWh. A média dos cinco melhores anos da usina chinesa é de 97,9 milhões de MWh.
Para o diretor técnico executivo de Itaipu, Mauro Corbellini, apesar da usina apresentar uma potência consideravelmente inferior à da chinesa, a UHE supera a produção de Três Gargantas por uma série de razões que diferenciam os projetos dessas duas megausinas extraordinárias, entre eles, “os objetivos, a regularidade das vazões e os mercados de consumo.” Mas, se fosse para destacar só um dado, afirmou Corbellini, seria a produtividade da binacional.
Dança com as águas
Nos melhores cinco anos da Itaipu, todos recentes, a produtividade média tem sido de 97,8%. Isso significa, na prática, que 97,8% da água turbinável, prevista pelo projeto, foi transformada em energia, aplicada para gerar. Quase não houve desperdício.
Essa eficiência se deve ao processo interno adotado pela usina, conhecido como “a dança com as águas”. Coordenada pela Diretoria Técnica, o sistema permite sincronizar as atividades binacionais de Engenharia, Obras e Montagens, Manutenção e Operação ao sinal hidrológico, não somente da binacional, mas de seus parceiros, como o ONS, Furnas, Eletrosul e a estatal paraguaia ANDE. “É justamente essa produtividade que tem feito a diferença”, reforçou Corbellini.
O diretor-geral brasileiro, Marcos Stamm, explicou que os excelentes índices da UHE associados à afluência da Bacia Hidrográfica do Paraná e à demanda por energia dos mercados brasileiro e paraguaio, têm permitido o “excepcional desempenho operativo dos últimos anos”.
Sobre o que considera uma saudável concorrência operativa entre as usinas, Stamm afirmou que, inevitavelmente, um dia a chinesa, por ter capacidade instalada muito maior, ultrapassará Itaipu. Não se sabe quando.
Cooperação
Três Gargantas, maior hidrelétrica do mundo em capacidade instalada, foi construída no Rio Yang-tsé e tem como funções não só a geração de energia, mas também a prevenção de enchentes que provocavam catástrofes, antes da construção da barragem, além de facilitar o transporte fluvial. Ela é mantida pela holding Three Gorges Corporation, que controla várias usinas chinesas.
Boa parte do know-how utilizado no projeto daquela usina foi adquirida pelos chineses em visitas à hidrelétrica de Itaipu desde o início da sua construção, ainda em meados de 1974, nos canteiros de obra. Os dois empreendimentos possuem um ótimo relacionamento. Ambas mantêm vários protocolos de intenções para desenvolver ações conjuntas de pesquisa nas áreas de energia renovável. Itaipu desenvolve vários projetos neste setor, entre eles o do biogás, replicado em várias partes do Brasil e do mundo.
Ainda estão previstas nesta parceria a realização de seminários técnicos para troca de conhecimentos em temas operacionais, seminários setoriais, além de estágios para jovens engenheiros, projetos de pesquisa que fortaleçam os parques tecnológicos e cooperação em projetos de responsabilidade social e desenvolvimento regional.
Atualização
Itaipu também está entrando numa nova etapa, iniciando o projeto de modernização tecnológica das suas 20 máquinas, 18 das quais ainda são das décadas de 1980 e 1990. A previsão é de que tudo esteja pronto em dez anos, com um investimento previsto de US$ 500 milhões. Essa atualização vai permitir que a usina mantenha os níveis de produção que a levaram ao recorde mundial de geração de energia, em 2016.
Para chegar até o projeto de modernização, foram quase dez anos de estudos, planejamento e projetos. Com esse novo desenho, a binacional poderá integrar vários equipamentos digitais que realizam as funções desempenhadas pelos dispositivos atuais, e várias novas funções que visam aprimorar ainda mais os processos de gestão da produção de energia.
Já os equipamentos eletromecânicos pesados, como turbina, rotor, estator e transformador principal, não fazem parte do processo de atualização tecnológica, porque estão longe do final da vida útil típica para esta classe de componentes. Cada etapa está sendo exaustivamente avaliada antes de avançar para a próxima.
Se forem duas máquinas por ano, o prazo de execução dos trabalhos, com unidades paradas, é de aproximadamente dez anos, acrescidos de três para as atividades que antecedem as paradas, como projeto executivo, fabricação e ensaios. A expectativa é que em meados de 2019 o projeto saia do papel.
Itaipu atende hoje aproximadamente 15% da energia consumida em todo o Brasil e em torno de 90% do consumo paraguaio. O escoamento da energia da usina vai para o sistema interligado brasileiro, a partir da subestação de Foz do Iguaçu, no Paraná, que é feito por Furnas e Copel, sob coordenação do ONS.