O processo de desinvestimento em fontes de geração em usinas a combustíveis fósseis da Engie Brasil Energia continua em seu curso. A empresa possui propostas recebidas no início deste ano pelo complexo térmico Jorge Lacerda (SC, 857 MW) e está otimista em fechar a transação ainda este ano. Já sobre a venda da UTE Pampa Sul (RS, 345 MW) a empresa vislumbra a retomada do processo a partir do segundo semestre, após a entrada em operação da usina, que é esperada para o final de maio.
De acordo com o presidente da empresa, Eduardo Sattamini, a negociação desses ativos segue a decisão estratégica global da holding, a Engie, de deixar essa modalidade de geração. Por isso, lembrou ele, não há pressa em vender essas usinas, pois não é a necessidade de desalavancagem da empresa ou de gerar caixa que norteia essa ação. No momento apenas a UTE Jorge Lacerda está em negociação.
“Estamos fazendo as análises das propostas colocadas no início do ano. Não temos pressa em vender, preferimos fazer isso de forma equilibrada onde o comprador entenda o risco e buscamos o preço mais justo pelo ativo que é lucrativo e gera caixa. Temos a percepção que essa transação possa ser fechada ainda em 2019”, comentou. “Já o outro ativo está na fase de comissionamento de sistemas e deveremos ter a primeira geração em fevereiro. A retomada do processo de venda deve ocorrer no final do primeiro semestre deste ano e a venda concluída em 2020”, revelou à Agência CanalEnergia.
Essa modificação do
cronograma de venda em Pampa Sul, lembrou Sattamini, reduz sensivelmente o risco para o comprador, tanto o de construção – que é eliminado – quanto da performance operacional da usina. Ao ser retomado o processo, continuou ele, o investidor tem uma visão mais clara do risco da operação do ativo.
Por outro lado, a empresa vem aumentando a participação das fontes solar e eólica em seu portfólio. Somente este mês foram autorizados pela Aneel mais de 120 MW em usinas solares (99 MW em Paracatu) e 22,5 MW da primeira fase do Complexo Eólico de Umburanas. A empresa fechou o terceiro trimestre com 7,9 GW em capacidade instalada, 11% desse volume é originada de térmicas, justamente de Jorge Lacerda. A maior parte, 81% tem origem em hidrelétricas e apenas 8% são as classificadas com complementares.
Expansão renovável
É nessa última modalidade de geração que a empresa terá o reforço de sua capacidade. Sattamini lembra que a companhia possui atualmente 1,3 GW em operação e implantação e outro volume nessa mesma grandeza em seu pipeline de projetos. Inclusive, a empresa comemorou o resultado obtido com as obras de seu parque eólico mais recente, de Umburanas, adquirido da Renova e que formou o cluster de cerca de 720 MW com o que a empresa já possuía, o de Campo Largo. A usina foi construída e entrou em operação em cerca de um ano.
A Engie conseguiu uma redução de capex ao obter sinergias entre os dois complexos eólicos na região. Sattamini não indicou em valores o quanto a empresa economizou em recursos, mas estima que a redução alcançou algo entre 3% e 4% se não houvesse essa possibilidade.
Entre as medidas adotadas para chegar a esse resultado está a padronização de equipamentos, com o uso de aerogeradores da GE em ambos os complexos, aproveitamento do pessoal que atuou nas obras de ambos os parques o que evitou a desmobilização de pessoal e a remobilização dessa mão de obra que já estava no local. Outra sinergia foi obtida nas linhas de transmissão com a GE Grid.
“Um fator importante é que nossa equipe já tinha a integração com a região e a aceitação com a comunidade local era grande, bem como o conhecimento das particularidades da região”, ressaltou.
Os próximos passos da empresa estão direcionados em 2019 para a conclusão das obras que estão em andamento, a fase II de Campo Largo, viabilizada pelo contrato da empresa com a Claro, acordo este fechado no final do ano passado e que engloba 30 MW de capacidade de geração direcionada para a empresa de telecomunicações. Aliás, Sattamini indica que o mix de contratos da empresa no mercado livre como o citado acima deverá ser equilibrado entre grandes acordos de longo prazo o que dá a segurança para o gerador investir em novas usinas e com empresas de menor porte, mas em maior quantidade para assim mitigar os riscos do negócio ao diversificar seu portfólio de contratos.
“Hoje o nosso foco é o de terminar as obras da primeira fase de Umburanas e iniciar a segunda de Campo Largo. Se houver leilões que tragam retornos adequados participaremos dessas disputas assim como à medida que tivermos novos contratos bilaterais com clientes podemos iniciar novos parques”, Eduardo Sattamini, da Engie Brasil Energia
Essa diversificação já é uma característica de longa data da geradora. Para 2018 foram dedicados 2.210 MW médios sendo que desse volume há 16 ramos diferentes da indústria atendidos que variam de 10,4% desse montante negociado a até 2,6%. Há a classificação Outros ainda que responde por 7,7% dos negócios bilaterais da empresa no ACL.
Nem mesmo o interesse da empresa na TAG deverá impactar o apetite da empresa em novos investimentos. Apesar do interesse, a empresa deverá manter seu endividamento em um patamar que o executivo classificou como confortável para manter a continuidade da sua expansão.
A divisão entre mercado livre e mercado regulado vai depender das oportunidades, mas ambos estão considerados pela empresa. Inclusive, a tendência de compartilhar os projetos para os dois ambientes é uma tendência que deve ser seguida. Na avaliação dele a expectativa de liberação do mercado livre traz potencial de crescimento para essa modalidade de contratação de nova geração. Por essa razão a empresa se mantém otimista diante do sentimento positivo em relação ao país. Ainda ontem a Apex-Brasil promoveu um seminário que contou com apresentações da CCEE e da Cela que corroboraram essa impressão acerca do
potencial de crescimento do mercado livre para as fontes incentivadas.
“Hoje o nosso foco é o de terminar as obras da primeira fase de Umburanas e iniciar a segunda de Campo Largo. Se houver leilões que tragam retornos adequados participaremos dessas disputas assim como à medida que tivermos novos contratos bilaterais com clientes podemos iniciar novos parques”, disse. “A expectativa para 2019 é boa estamos otimistas com as perspectivas econômicas, ajuste fiscal e outras questões que levarão ao crescimento do país”, definiu o executivo.