O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) recomendou a substituição de todos os transformadores de corrente modelo CTH-550 de fabricação GE. Segundo o ONS, nos últimos seis anos, 53 explosões foram registradas exclusivamente neste modelo e não foram observadas ocorrências similares em equipamentos fabricados por outras empresas. A suspeita é de envelhecimento precoce da parte responsável pelo isolamento do equipamento.
A informação veio a público em reportagem da agência Reuters na última terça-feira, 15 de janeiro. A Agência CanalEnergia teve acesso ao relatório sigiloso apresentado ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) e enviado ao Ministério de Minas e Energia (MME). Caso a recomendação seja acatada pelas concessionárias, mais de 300 transformadores deverão ser substituídos.
“Até o momento, o ONS tem conhecimento de 312 unidades desses modelos em operação na Rede Básica, porém, ainda existem 621 equipamentos cujos códigos não foram identificados, o que pode elevar bastante o número atual de 312 unidades”, diz o relatório elaborado pelo o Grupo de Trabalho – GT Vida Útil de Transformadores de Instrumentos.
Segundo Mário Miranda, presidente da Associação Brasileira das Empresas Transmissão de Energia Elétrica (Abrate), o transformador de corrente é responsável por encaminhar as informações ao sistema de proteção de uma linha de transmissão ou de uma subestação transformadora de energia. Uma falha nesse equipamento pode causar interrupção da carga elétrica, por isso a substituição precisa ser imediata. “Se TC falhar, tem que ser substituído imediatamente, pois ele é um elemento vigilante que recebe as informações e as encaminha para o sistema de proteção.”
Problema pode estar no envelhecimento precoce do isolamento. Embora os equipamentos estejam em conformidade com as Normas Técnicas, não se pode descartar a hipótese de que eles tenham sido construídos com uma isolação menos robusta do que outros
Miranda explicou que as concessionárias de transmissão podem ter grandes prejuízos caso tenham que trocar todos esses equipamentos. As perdas podem acontecer tanto por conta da aquisição de um novo TC como pela perda da receita variável em razão da indisponibilidade do equipamento. “A responsabilidade pela performance do equipamento após a instalação é da concessionária”, explicou o executivo. “Contudo, não posso comentar o relatório do ONS porque ele não foi tornado público”, justificou.
Em nota enviada pela assessoria, a fabricante GE informou que não teve acesso ao relatório do ONS, mas confirmou que está ciente que ocorreram incidentes nas instalações de alguns dos seus clientes no Brasil. Entretanto, a empresa afirma que não há evidências de que a causa esteja relacionada ao design, aos materiais ou aos processos de fabricação do produto. “Este produto está instalado e vem operando há anos em todo o mundo. Há uma clara concentração de incidentes em uma parte da rede elétrica brasileira. A GE continua a fornecer total suporte aos clientes e está preparada a continuar cooperando com o operador do sistema e as empresas afetadas para endereçar a questão.”
Procurado pela reportagem, o ONS disse em nota que faz o monitoramento permanente do sistema elétrico nacional. E que quando são identificadas ocorrências com equipamentos de maior incidência, são realizados estudos mais aprofundados para que se entenda melhor a questão e recomendar ações corretivas, de forma a garantir a segurança do sistema. No caso específico deste modelo de transformador, foi criado um grupo de trabalho coordenado pelo ONS, envolvendo o MME e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), com a participação de alguns agentes do setor.
“As análises estatísticas realizadas pelo grupo de trabalho demonstraram que os transformadores de corrente modelo CTH-550 com códigos R6 e R7 apresentam taxa de falha superior ao esperado para esses equipamentos. Embora esses transformadores de corrente tenham cumprido as especificações técnicas e as normas técnicas pertinentes, assim como os Procedimentos de Rede, as estatísticas mostram que há incompatibilidade com o desempenho esperado para o SIN. Diante dos fatos, o ONS recomendou a substituição desses transformadores”, respondeu o órgão através da assessoria de imprensa.
De acordo com o ONS, o problema é monitorado desde janeiro de 2014. O órgão disse que os equipamentos vêm “apresentando falha superior ao esperado” e que o levantamento ainda está em curso. “A perda de um elemento do sistema é considerada dentro do critério de segurança N-1. São tomadas as medidas necessárias para que mesmo com essa perda não haja corte de carga. A indicação do ONS é para a substituição dos equipamentos. A forma como isso será feita é uma negociação entre o fabricante e o agente que adquiriu o equipamento, com eventual envolvimento da Aneel.” A assessoria de imprensa da Aneel disse que não é o momento da agência se pronunciar sobre o caso, pois o assunto ainda está sob a avaliação do ministério.
O QUE DIZ O RELATÓRIO
– Análises estatísticas demonstram que os TCs modelo CTH-550 com o código T.A. igual a R6 ou R7 apresentam taxa de falha muito superior ao mínimo esperado para esses equipamentos, o que demostra que esta família de TC não possui um desempenho adequado para o SIN.
– Problema pode estar no envelhecimento precoce do isolamento. Embora os equipamentos estejam em conformidade com as Normas Técnicas, não se pode descartar a hipótese de que eles tenham sido construídos com uma isolação menos robusta do que outros.
– A localização física dos TCs nas subestações (distância em relação às chaves de manobra, por exemplo) e no sistema (localização das subestações) não foi fator determinante para as explosões.
– Plano de ação para substituição dos TCs deve priorizar os fabricados entre 2006 e 2007.
– A causa raiz das explosões dos transformadores de corrente modelo CTH550 da GE deve ser indicada pelo fabricante, responsável pelo projeto e fabricação desses equipamentos.