O governo alterou novamente as previsões sobre a trajetória dos rejeitos da barragem da Vale que rompeu em Brumadinho (MG) na última sexta-feira (25) e anunciou que “a expectativa é que todo o rejeito fique retido no reservatório” da hidrelétrica Retiro Baixo, no rio Paraopeba, e não alcance a de Três Marias, no São Francisco. A informação consta do segundo boletim diário divulgado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) na noite desta segunda-feira, 28 de janeiro.
No início da tarde, o secretário de Geologia e Mineração do Ministério de Minas e Energia, Alexandre Vidigal de Oliveira, havia afirmado em entrevista que dados sobre a trajetória dos rejeitos de minério da barragem da mineradora mostravam que a lama não chegaria a Três Marias. Vidigal garantiu que as informações sobre eventuais impactos do desastre para a usina “não são preocupantes.”
Em boletim divulgado no final da manhã de hoje, o CPRM calculava que a lama da barragem deveria chegar à hidrelétrica da Cemig entre 15 e 20 de fevereiro, depois de passar por Retiro Baixo (que tem como sócias Cemig e Furnas) entre os dias 5 e 10 de fevereiro. A pluma de sedimentos, que é formada por água e rejeitos de minério de ferro, tem se deslocado à velocidade de 1 km/h.
A Agência Nacional de Águas, que trabalha em parceira com o CPRM no monitoramento do desastre, disse em nota que “está se avaliando, ainda, se a onda de rejeitos alcançará o reservatório da Usina Hidrelétrica de Três Marias, no rio São Francisco, que se encontra cerca de 30 km a jusante (abaixo) da barragem de Retiro Baixo.” A agência reguladora destacou que a barragem da UHE localizada no rio Paraopeba “está a cerca de 300 km do local do rompimento e possibilitará o amortecimento da onda de rejeitos em seu reservatório, a depender da operação da usina.”
“Esse episódio se diferencia muito do episódio de Mariana. Então, não dá para ter o evento Mariana como parâmetro e referência para esse evento de Brumadinho”, disse o secretário, ao comparar o acidente da semana passada com o rompimento da barragem da Samarco (que tem como sócias Vale e BHP Biliton), ocorrido há três anos naquela cidade mineira.
Vidigal recebeu representantes da Vale nesta segunda-feira, 28 de janeiro, em seu gabinete, e foi cauteloso depois ao falar com a imprensa sobre a possibilidade de aplicação de sanções à mineradora. Ele justificou que o processo “demanda apuração”, porque qualquer multa aplicada sem certa prudência está sujeita a ser questionada.
“Ninguém aqui sabe o que efetivam aconteceu”, disse o secretário, após explicar que a reunião teve como objetivo “tentar detectar eventuais inconsistências entre os dados, os levantamentos dos órgãos públicos e as informações que a empresa tem.” Ele acrescentou que pretende ter o mesmo tipo de reunião com as demais empresas do setor de mineração.
Executivos da Vale serão novamente recebidos nesta terça-feira, 29, no Ministério de Minas Energia. Dessa vez pelo próprio ministro, Bento Albuquerque.