O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica, André Pepitone, afirmou que o episódio da exposição financeira da Vega Energy no mercado livre não afetou as operações da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica nem o consumidor de energia do mercado regulado. Ele explicou que as garantias financeiras aportadas pela comercializadora serão suficientes para a liquidação de dezembro do mercado de curto prazo, que acontece agora em fevereiro na CCEE.
A empresa registrou no ano passado uma quantidade de operações muito superior ao seu portfólio, mas foi surpreendida pelo aumento expressivo do Preço de Liquidação das Diferenças e não conseguiu contratar energia para recompor os contratos. Os problemas de liquidez da Vega afetaram mais de 50 comercializadoras, que são credoras da empresa em mais de R$ 180 milhões.
O PLD médio projetado pela CCEE para 2019 seria de R$ 89/MWh. Com a piora no cenário hidrológico, o preço aumentou nas últimas semanas até atingir R$ 450/MWh na semana iniciada no último dia 2 de fevereiro. Para Pepitone, cada um tem a liberdade para avaliar o nível de risco que quer correr e, nesse caso, fez-se uma aposta que deu errado, porque o preço subiu bastante.
Para o diretor da Aneel, “o importante é que nesse episódio o sistema não foi contaminado”. “A regulação operou de maneira efetiva, as proteções funcionaram, a garantia foi suficiente para fazer frente [aos compromissos assumidos] e não causar nenhum distúrbio na liquidação de dezembro, e a empresa esta impedida de registrar contratos agora em janeiro, pelo fato de estar operando em regime de contingência”, explicou o diretor nesta terça-feira, 5 de janeiro.
A ameaça de default (calote) não vai causar qualquer perturbação ao consumidor que paga sua conta de luz no dia a dia, mas existem transações da Vega no ambiente livre, em contratos de gaveta firmados com diversos players, que não foram registrados na CCEE, lembrou Pepitone. Ele destacou justamente essa característica do mercado, que permite a seus operadores decidirem por conta própria o risco que pretendem assumir.
“O ambiente livre é um ambiente de risco. Um ambiente onde se ganha ou se perde dinheiro. Então, vemos com toda naturalidade que em um ambiente de risco em algum momento, até pela postura de atuar no mercado, alguém possa vir a ter problema”, ponderou.
O dirigente da Aneel reconheceu que uma discussão sobre até onde seria possível operar com níveis de risco elevados teria de ser tratada com o próprio mercado. Destacou, porém, que há resistências a qualquer tipo de limite regulatório, já que o ambiente de atuação é livre. “No passado, quando essa discussão foi alçada ao mercado, muitos agentes se manifestaram de maneira reticente, requerendo a liberdade do ambiente para fazer suas transações.”