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A decisão do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico em autorizar a geração fora de ordem de mérito de usinas com CVU de ate R$ 588,75/MWh foi visto como acertado por especialistas ouvidos pela Agência CanalEnergia. Com a decisão, o SIN teve adicionado mais duas térmicas que injetam 1,1 GW de energia que serão cobrados via encargo de serviços do sistema. Isso em pleno período úmido em função das baixas afluências e nível de reservatórios. A discussão é a dose que foi aplicada, não há unanimidade quanto ao volume que deveria ser autorizado para evitar uma situação mais pressionada ao longo do período seco.

Na última sexta-feira, 8 de fevereiro, o CMSE comunicou ainda que que passaria a se reunir com mais frequência para avaliar a evolução do quadro hidrológico. Esse fato, apontou Roberto Brandão, professor do Gesel-UFRJ, indica que o governo, a depender das condições hidrológicas, pode rever esse volume, seja para cima ou para baixo. “Eles avaliarão o volume de energia a ser despachado em intervalos mais curtos, aumentando na medida em que o horizonte das vazões for se definindo. Não faz muita diferença acionar térmicas a mais por uma semana que seja. Então, como estamos com ENA volátil faz sentido não sair gerando nesse momento”, comentou.

Para ele, a questão que se discute agora é preço e não desabastecimento, pois o sistema tem condição de atender a demanda. E há a possibilidade de que ainda sejam registradas mais chuvas. Em sua opinião, uma visão mais clara só será possível com o encerramento do período úmido.

O gerente de projetos da PSR Celso Dall’Orto lembrou que essa autorização dada pelo CMSE inclui duas térmicas a gás no despacho, a UTE Mario Lago (RJ, 923 MW) e a UTE Fernando Gasparian (SP, 640 MW) que juntas tem 1,1 GW em disponibilidade para o SIN. Em sua opinião a medida de adicionar esse volume como GFOM é sensata, até porque ainda estamos na metade do período úmido. “A estratégia a ser adotada deve ser a de aguardar e ver um pouco mais como vai se dar a evolução dos armazenamentos dos reservatórios até o final do mês de abril”, comentou ele.

O especialista da PSR corrobora seu colega da UFRJ ao indicar que é necessário aguardar o final do período de chuvas para a tomada de decisão em relação ao parque térmico para além do que o modelo aponta. E considerou como adequado o volume de GFOM ao passo que reduziu o intervalo para avaliação da situação das condições do SIN. “Os modelos meteorológicos indicam previsão de chuvas para esta semana. Credito a essa informação o motivo de não ter optado por mais geração térmica”, avaliou.

O país, continuou ele, ainda dispõe de térmicas sem contratos que poderiam ser acionadas como as usinas do PPT que estão sem gás no Nordeste mas que dependem ainda de capacidade de intercâmbio do daquela região para o Sudeste. Outras três, a UTE Cuiabá (MT, 529 MW), UTE Araucária (PR, 484 MW) e a UTE Uruguaiana (RS, 640 MW) poderiam auxiliar desde que tivessem fornecimento de gás para voltarem à operação.

Outra corrente indica que a GFOM dessa semana ficou aquém do ideal. O presidente da Thymos Energia, João Carlos Mello, defendeu que o valor a ser autorizado teria que ficar na casa dos R$ 700/MWh o que deixaria usinas a diesel de fora apenas. Ele aponta que a geração fora de ordem de mérito foi acertada diante das condições dos reservatórios que estão degradados. Esse fator eleva do PLD e traz o problema do GSF como temos visto nos últimos anos.

“Temos que fazer GFOM fora da questão racional do modelo que deveria dar a indicação correta dos valores e ao mesmo tempo temos que revisar o modelo para considerar o nível de reservatórios e ENA que estão baixos. Precisamos sentar e remodelar”, comentou o executivo. “Precisamos refletir para a próxima semana sobre essa dose, os técnicos do setor precisariam ser ais enfáticos” acrescentou.

Leontina Pinto, da Engenho Consultoria, afirmou que a situação exigiria ligar todas as usinas térmicas do país. Ela lembrou que ainda em dezembro o desligamento de térmicas com reservatórios em 20% não deveria ocorrer. Ela reconheceu que houve um volume de chuvas interessante no final da primavera, mas destacou que isso já ocorreu no passado, seguido por uma seca, mas que pode novamente ser revertido nos próximos meses já que em março e abril temos o período de grandes volumes de chuva.

“Acho importante usar todas que temos porque se não ocorrer a reversão e não chover bastante a situação ficará bastante pressionada”, afirmou. “Estamos em uma combinação vazões baixas, consumo em alta por conta do calor e a sinalização verde, que é  inadequada para esse tipo de situação”, ressaltou.

Em sua análise, o ano de 2019 será de constante despacho térmico, mesmo que tenhamos vazões retomadas em março, a questão, disse, é se esse despacho será dentro ou fora da ordem de mérito. Mas, ressaltou que é necessário que se tenha a sinalização de preços adequada ao momento.

O presidente da Associação Nacional de Consumidores de Energia, Carlos Faria, lembrou que o acionamento de térmicas não é novidade e vem acontecendo desde 2012, sendo que no ano passado foram cinco meses de bandeira vermelha no patamar e térmicas acionadas em dois meses. Ele reforça o fato de que estamos sob bandeira verde, mas sem recuperação aparente dos reservatórios. E ainda disse que a alta do PLD em curto espaço de tempo sugere um panorama setorial ao consumidor que não é o verdadeiro.  “Não estamos sinalizando ao consumidor que é preciso economizar energia”, definiu. “Pelo contrário, toda sinalização que se dá é que está tudo bem, mas o momento é crítico”, alertou o executivo que também defendeu a revisou do modelo.

O presidente da MCE Consultoria, José Marangon, destacou ainda que o cenário pode se complicar caso o país volte a crescer caso se confirme as expectativas de expansão mais expressiva da economia. Isso porque a demanda por energia aumentaria o consumo trazendo uma perspectiva ruim para o balanço energético. Quanto à dosimetria aplicada ao GFOM, o executivo disse não dispor de dados para avaliar o tema, mas destacou que é necessário alterar o Newave bem como o histórico de parâmetros, como o da hidrologia que o histórico de 87 anos já não reflete a realidade.