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Depois de 9 dias desde a última paralisação, a hidrelétrica de Retiro Baixo (82 MW) voltou a encher seu reservatório e retomou a operação de uma de suas duas turbinas ao meio-dia da última terça-feira (19), gerando cerca de 30 MW de acordo com as vazões afluentes e o nível do lago, que fechou o dia com 63,1% da capacidade de armazenamento. Técnicos da usina avaliaram que às características da água que chega dos vertedouros não impõe restrições aos equipamentos e à geração de energia, trabalho corroborado pela análise de pesquisadores da Fundação Joaquim Nabuco, que também estiveram no local e atestaram a qualidade dos recursos hídricos.
A UHE teve sua operação interrompida por duas vezes desde o rompimento da barragem de minérios da Vale em Brumadinho (MG). No próprio dia do desastre, 25 de janeiro e depois em 11 de fevereiro, após previsões baseadas em monitoramento dos órgãos competentes e especialistas indicarem consideráveis possibilidades de que a lama carregada de rejeitos da Mina do Feijão pudesse chegar ao lago da hidrelétrica, que fica localizada no curso do Rio Paraopeba, na altura do município de Felixlândia, a 228 Km abaixo da barragem partida. Hoje essa possibilidade é avaliada como menor, embora não haja consenso ainda entre os especialistas.
Desde a catástrofe, órgãos públicos e autoridades divulgaram que a expectativa é de que os rejeitos sejam contidos pela usina, impedindo assim que a poluição alcance o lago de Três Marias e o Rio São Francisco, o maior dos temores. Na última sexta-feira (15) a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) informou que a “pluma de rejeitos” já tinha percorrido uma distância de 125 Km no Paraopeba após o local de rompimento da barragem.
Em nota enviada à Agência CanalEnergia, a Retiro Baixo Energética, consórcio responsável pelo empreendimento, formado por Furnas e Cemig, declarou que considera a análise realizada pelas autoridades competentes, mas que irá avaliar permanentemente a necessidade de “eventuais novas manobras” de acordo com os próximos dias, e que caso este cenário mude poderá voltar a paralisar a turbina e fazer o controle do nível da barragem pelo vertedouro, conforme condições de segurança do empreendimento. Segundo a empresa, não há risco estrutural para o reservatório da usina.
Quanto aos possíveis prejuízos com a paralisação da hidrelétrica, o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (ONS), Luiz Barata, afirmou que o período de inatividade da UHE não comprometeu o Sistema Interligado Nacional, haja visto que é um empreendimento não tão relevante para o SIN em termos de volume de energia compartilhada. Já a RBE declarou ainda não ter o levantamento sobre possíveis prejuízos financeiros e operacionais com as paralisações, e que a preocupação no momento é com as ações mitigatórias no sentido de garantir a segurança das pessoas, do meio ambiente e dos equipamentos da usina.
Pesquisadores visitam reservatórios
Neison Freire, pós-doutor em risco de desastres naturais, e Beatriz Mesquita, especialista em pesca artesanal visitaram o lago de Retiro Baixo na última segunda-feira (18) e agora partem para uma expedição no município de Três Marias (MG), onde os rios Paraopeba e São Francisco se encontram após a Hidrelétrica de Três Marias. Eles são pesquisadores da Fundação Joaquim Nabuco e estão indo a campo para analisar a turbidez das águas dos rios atingidos pelo derramamento de rejeitos da mina da Vale e constatar as alterações nos recursos naturais. Com os resultados, os colaboradores poderão validar as imagens de satélite que têm em laboratório e comprovar os estudos que estão conduzindo, assim como os que fizeram em Retiro Baixo.
Além do alto teor de argila presente na lama, a maior preocupação dos profissionais é a possível presença de materiais pesados nas águas, principalmente em período chuvoso. “Não é apenas uma onda de contaminação que veio e foi embora. É um processo contínuo de chuva, erosão e carreamento desse material”, ressaltou Freire.
Também faz parte da agenda de pesquisa entrevistar pescadores, moradores da região e gestores na área de infraestrutura e meio ambiente dos municípios vizinhos. No lago de Retiro Baixo, por exemplo, ele contou ter sido possível registrar a presença de peixes.
Segundo a Fundaj, a pesquisa completa será elaborada em um dossiê preliminar denominado “Monitoramento Geoespacial da Contaminação do Rio São Francisco Pós-Brumadinho: Possíveis Impactos na Economia, Meio Ambiente, Saúde Pública e Pesca Artesanal”. Vale conferir.