A Engie Brasil Energia quer avançar no segmento de transmissão para além das disputas em leilões da Agência Nacional de Energia Elétrica. A companhia afirmou que está avaliando ativos no mercado e que pode aumentar sua presença no segmento que passou a atuar no final de 2017. A ideia original era a de ter mil quilômetros a cada dois anos mas com oportunidades sendo colocadas no mercado e diante de seu baixo endividamento, vê um janela para acelerar essa presença. No foco podem ser ativos operacionais, em construção ou até mesmo participações em grandes transmissoras, como a Taesa da Cemig.
De acordo com o presidente executivo da companhia, Eduardo Sattamini, a empresa não descarta quase nenhum ativo que possa estar à venda, a não ser aqueles que a empresa avaliou e não disputou nos últimos leilões ou que não foi bem sucedida em seu lance. “Não fazia sentido para nós antes e não seria agora que fariam. É difícil comprar alguma coisa que na origem não acreditava que fosse viável, esses estão fora”, indicou.
O atual nível de endividamento da companhia é colocado como o maior trunfo. Mesmo com investimentos dos últimos anos a relação entre a dívida líquida e o resultado ebitda passou de 0,3 vez para 1,6 vez. O endividamento líquido passou de algo próximo a R$ 2 bilhões para R$ 7 bilhões. Na avaliação do diretor de Finanças e de Relações com Investidores que está de saída da empresa, Carlos Freitas, é um patamar confortável, pois a dívida está em reais e é de baixo custo em função da qualidade de crédito da geradora. “Não há pressão de caixa e diria que o nível de cruzeiro da alavancagem da companhia ainda é de 2 a 3 vezes e ainda assim não colocamos a nossa nota de classificação em risco, mantemos em AAA”, disse ele em apresentação a analistas e investidores no encontro promovido pela Apimec-SP.
Sattamini ressaltou ainda que o baixo endividamento dá espaço para mais investimento e, caso seja necessário, a empresa pode recorrer a emissões caso haja uma boa oportunidade de negócio e que justifique o aporte. Inclusive, acrescentou que a participação na Taesa pode ser avaliada caso seja realmente colocada à venda, conforme vem afirmando o governo daquele estado. “Não vejo problema, se vir ao mercado é um ativo que olharemos sim e teríamos conversas com a ISA para verificar como se daria a operação, se por meio de uma co-gestão ou outra forma de participação na gestão da companhia”, explicou.
O presidente executivo da EBE afirmou que não há muitos ativos à venda, mas que existem oportunidades para ampliar a sua participação por meio de aquisições e nos leilões da Aneel. Mas, ressaltou que o objetivo é manter o conservadorismo nas decisões, respeitando o dinheiro do investidor. Já no caso do leilão de ativos da CEEE-GT, a EBE não vê sentido em participar uma vez que são fatias minoritárias de projetos onde a empresa não teria o controle da operação, a não ser na UHE Machadinho (RS/SC, 1.140 MW) onde a Engie é a operadora da central de geração.
“Nos demais ativos não interessa por serem participações minoritárias, não interessa a nós o investimento financeiro apenas queremos ser relevantes e influenciar na gestão. Para ter um investidor financeiro é melhor buscar um fundo de private equity que pode ser mais competitivo por ter uma taxa de retorno menor”, disse ele.
Antecipação
Dentro do que a Engie efetivamente possui em transmissão, a companhia trabalha com a antecipação do projeto de transmissão Gralha Azul em uma média de 12 meses. Localizado no estado do Paraná, a empresa estima um capex menor do que o estipulado pela Aneel e um cronograma mais célere do que o acordado com a agência reguladora para conseguir obter a rentabilidade projetada pela companhia. Sattamini destacou que a empresa vem trabalhando na obtenção das licenças ambientais e que as obras deverão ser iniciadas em novembro. “Mas se o licenciamento vier antes a gente começa as obras antes do que essa estimativa”, apontou ele.
O projeto é formado por linhas de transmissão que somam cerca de um mil quilômetros de extensão além de cinco subestações. Esses ativos estão divididos em cinco trechos e geram sinergias entre as UHEs Salto Osório e Salto Santiago. O executivo destacou que a antecipação geraria uma receita extra e que ajudou a melhorar a competitividade para a disputa do lote 1 do leilão realizado em dezembro de 2017. A empresa estima capex de R$ 1,7 bilhão ante um cálculo da Aneel de R$ 2 bilhões.