A Cemig vai priorizar neste ano a continuidade do seu programa de desinvestimentos, a começar pelo processo de venda da participação acionária na Light. A holding mineira indicou a realização, até o final do primeiro semestre de 2019, de um “follow on” (oferta de ações subsequente) no mercado de capitais, pulverizando assim o bloco de controle de 49,99% detido na distribuidora carioca, segundo afirmou nesta quarta-feira (3) o diretor de Gestão de Participações na estatal, Daniel Faria Costa, durante teleconferência com analistas de mercado para detalhar os resultados financeiros de 2018.

“A empresa está preparada para realizar esse negócio e quer acelerar bastante esse processo. Vemos uma janela interessante até o meio do ano”, disse o executivo, que destacou na conversa o grande interesse por parte de investidores na aquisição concessionária de distribuição do Rio de Janeiro. Ele observou que o modelo de negócio que pautará o desinvestimento desse ativo ainda não está decidido, pois falta ainda a apreciação e a confirmação do Conselho do Administração da Cemig. “Tudo leva a crer que seja realmente através de um follon on“, comentou Costa, com os analistas.

Além de deter diretamente 26,6% das ações da Light, a Cemig também está presente na composição acionária da concessionária por meio de duas subsidiárias nas quais possui 100% de controle: a Rio Minas Energia (RME), que detém uma fatia de 10,90% na empresa carioca; e Luce Empreendimentos e Participações, cuja presença é de 13,03%. Juntas, a Cemig, a RME e a Luce controlam 49,99% das ações da Light S.A., holding que tem sob o seu guarda-chuva controladas nas áreas de distribuição, geração (incluindo a usina hidrelétrica de Belo Monte), comercialização, serviços e tecnologia.

A oferta de ações da Light virá depois de a estatal ter efetuado, no final de 2018, a compra de ações da RME em poder dos bancos do Brasil, Votorantim e Santander. A liquidação da cláusula “put” totalizou para a Cemig um desembolso de R$ 659 milhões na aquisição de uma parcela de 2,7% dos papeis. Os recursos que garantiram a execução da cláusula vieram principalmente da negociação de ativos da empresa na área de telecomunicações, gerando um ganho de R$ 654 milhões. Além disso, a empresa obteve R$ 570 milhões em receitas financeiras com operações de hedge no mercado.

Maurício Fernandes, da Cemig (crédito: Euler Júnior)

Santo Antônio e Renova Energia

Além do follow on, o processo de desinvestimento que a empresa vai tocar em 2019 envolve ainda a venda de participações da holding estatal em negócios diversos, entre os quais uma fatia de 8,53% na Santo Antônio Energia – controladora e operadora da usina hidrelétrica de Santo Antônio (RO – 3.568 MW). De acordo com o diretor de Finanças e Relações com Investidores da Cemig, Maurício Fernandes, trata-se de um “ativo complexo”. “Tivemos alguns óbices no ano passado, as conversas continuam em andamento e temos boas perspectivas”, afirmou o executivo, na teleconferência realizada hoje.

Outro ativo no pacote de desinvestimentos é a Renova Energia, apontada por Fernandes como “uma das missões mais difíceis”. O processo na geradora renovável inclui a conclusão da venda do parque eólico baiano Alto Sertão III para a AES Tietê – que segundo ele deverá ser concretizada antes do fim do semestre – e o que chamou de “frente societária”, representada por uma reestruturação de participação que envolverá a emissão de debêntures a fim de fazer frente a desembolsos. Outro ponto na Renova envolve a precificação das ações da geradora, cuja maior dificuldade está na falta de liquidez.

“Estamos encontrando uma solução definitiva para a Renova”, afirmou o diretor de Finanças. Na conversa com os analistas, ele e demais executivos destacaram, entre as ações de 2018, a emissão de US$ 500 milhões em eurobonds para o pagamento de vencimentos programados no fim do ano. O reperfilamento do conjunto da dívida da empresa, que totalizava R$ 13,1 bilhões em dezembro, alongou o prazo médio de pagamentos de 2,2 anos para 4,1 anos. Outro destaque foi a capitalização de R$ 1,1 bilhão na subsidiária Cemig Distribuição – que já havia recebido aportes de R$ 1,5 bilhão em 2017.