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O polo 1 do bipolo 1 do sistema de transmissão Porto Velho-Araraquara retornou à operação neste domingo, 7 de abril, após ficar 84 dias indisponível em função de danos em equipamentos da Conversora do bipolo 1 . Nesse período, houve restrição de 1.500 MW de potência na transferência de carga para o subsistema Sudeste/Centro-Oeste. Além dos impactos irreversíveis ao Sistema Interligado Nacional (SIN), as hidrelétricas de Jirau (3.750 MW) e Santo Antônio (3.420 MW) alegam prejuízos milionários justamente no período em que as usinas a fio d’água poderiam estar com a produção maximizada.

O sistema de transmissão do Madeira é formado pelas seguintes instalações (dois bipolos e duas estações conversoras) entre Porto Velho (RO) e Araraquara (SP), uma distância de 2.400 km. O consórcio IE Madeira, formado por Cteep, Furnas e Chesf, é responsável por duas concessões do complexo do Madeira: Conversora do Bipolo 2 (polos 3 e 4) e a linha de transmissão do bipolo 1 (polos 1 e 2). O bipolo 2 (polos 3 e 4) é de responsabilidade da Norte Brasil Transmissora de Energia, consórcio liderado por Abengoa e Eletronorte. Os dois bipolos juntos têm capacidade para escocar 6.300 MW. A indisponibilidade de quase três meses do polo 1 aconteceu por um problema na Conversora do bipolo 1, de responsabilidade exclusiva da Eletronorte.

“Os prejuízos são financeiros e técnicos”, disse o presidente da Energia Sustentável do Brasil (ESBR), Victor Paranhos. “Se tivéssemos usinas com reservatório e eles estivessem baixos, poderíamos armazenar essa água. Como são usinas a fio d’água, não gerou hoje não gera mais”, explicou Roberto Junqueira, presidente da Santo Antônio Energia , que estima em R$ 50 milhões o impacto financeiro global para as duas usinas do Rio Madeira.

O problema na Conversora começou em 13 de janeiro. Um dano em um equipamento de proteção causou o desligamento do transformador conversor n° 6 da subestação Coletora Porto Velho. Nesta data, o polo 3 do bipolo 2 também estava fora, mas este retornaria dias depois. Em carta datada de 14 de janeiro, o presidente da Eletronorte, Luiz Henrique Hamann, comunicou a Agência Nacional de Energia do Elétrica (Aneel) que, diante da complexidade da ocorrência, precisou chamar um especialistas da fabricante ABB-Suécia, “para avaliação in loco da extensão das avarias e das providências cabíveis para a urgente solução do problema.”

A demora no reparo aconteceu porque o equipamento precisou ser importado. O Operador Nacional do Sistema Elétrico levou o problema para o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), informando que foram “realizadas ações junto aos órgãos da administração federal para agilizar o transporte e a obtenção de licenças de importação dos equipamentos.”

Segundo Paranhos, de novembro a fevereiro, Jirau deixou de gerar 1.658,5 MW médios, uma perda financeira direta estimada em R$ 26,8 milhões. Junqueira informa que o impacto da UHE Santo Antônio está calculado em R$ 15 milhões entre novembro e janeiro, faltando contabilizar fevereiro e março. “O mais grave de tudo é que nesse período estávamos com seca no Sudeste e com vertimento no Norte em função da restrição da transmissão do Madeira, jogando energia fora, água que poderia estar sendo turbinada”, lamentou Junqueira.

Paranhos explicou que as falhas no sistema de transmissão do Madeira também causam problemas técnicos para unidades geradoras. Desde 2013, Jirau já acumula 1.497 eventos conhecidos como Trips. “Trip é quando não tem a transmissão e a máquina para automaticamente. É igual você vir de carro a 100 km/h e ter que parar em 3 metros. Você sacrifica todo o conjunto da turbina. Tem vazamentos em juntas, prejudica as pás. É mais custo de manutenção e um risco muito grande”, alertou o presidente da ESBR.

A frustração com os problemas do bipolo do Madeira é grande por parte de Jirau e Santo Antônio. Além dos prejuízos diretos para as usinas, a baixa geração afeta o Mecanismo de Realocação de Energia (MRE), aprofundando as despesas financeiras com o risco hidrológico (GSF). As empresa entraram com pedidos na Aneel para reaver os prejuízos causados pela restrição no sistema de transmissão. Procura, a Eletronorte não respondeu aos pedidos de esclarecimentos.

(Nota da Redação: matéria atualizada às 14h50 desta terça-feira, 9 de abril de 2019,  para correção dos responsável pelas concessões do complexo de transmissão do Madeira)