A perspectiva de adoção do PLD horário a partir de 2020 com a adoção do modelo Dessem pode levar a uma maior amplitude da volatilidade do valor da energia. E o problema é um velho conhecido, trata-se da incorreção nos dados de entrada do Decomp. Essa é a análise do diretor da PSR, Bernardo Bezerra. Um dos fatores que contribuem com essa perspectiva é a alocação flat das renováveis ao longo das horas do dia, desconsiderando os horários que mais ocorrem naturalmente.
Segundo o executivo, só o fato de indicar que venta menos do que a realidade durante a madrugada, por exemplo, o próprio Decomp levaria a uma diferença de preços mais elevada. Parte dessa volatilidade horária pode ser capturada ao aperfeiçoar os dados de entrada no modelo. Ainda há, contudo, uma outra discussão acerca da volatilidade de preços de um dia para o outro com a entrada do modelo no ano que vem.
“Na nossa visão se começar a mudar a perspectiva de vazão a cada dia por uma série de questões técnicas na formação de preços vai aumentar a volatilidade. Mas acho ainda que esse ano será de discussão sobre esse tema e de como será feito”, disse ele, após participar de um seminário promovido pela Refinitiv, em São Paulo. Inclusive, lembrou ele durante a mesa redonda sobre os desafios do preço horário com o modelo Dessem, a volatilidade de preços que vemos atualmente é composta por três fatores de incerteza. O primeiro é que o atual modelo semanal é determinístico, tem-se o preço sem saber a vazão da semana que vem à frente. O segundo é que as chuvas têm uma forte influência para a perspectiva de seis meses futuros e tem peso maior que o nível atual dos reservatórios. O terceiro fator, destacou, é a mudança semanal da previsão de vazões pelo ONS.
“Se não fosse realizada essa alteração de previsões, na maior parte das vezes o operador teria acertado o volume de vazões. Com isso, se trouxer o arcabouço do Dessem com as mudança da vazões diárias só veremos o aumento da volatilidade e isso traz mais ruído do que sinal para o setor”, ressaltou ele em sua participação.
Ao se confirmar a adoção do preço horário a partir do ano que vem outros problemas para as empresas do setor serão a questão da adaptação dos seus sistemas e dos procedimentos internos para lidar com a mudança das rotinas. Ele toma como base as demandas de agentes que chegam à PSR. “Eles passarão de uma preocupação semanal para uma atualização diária dos preços de energia. A questão é como fica a governança interna das empresas diante dessa nova dinâmica das atualizações de preços, registros de contratos e mudança de posição que poderá passar a ser diferente a cada dia”, avaliou.
Outro aspecto que o preço horário deverá trazer é a análise de riscos das empresas, isso porque sempre atuaram por patamar de preços, apesar dos contratos apresentarem a modulação horária. Há agentes, relatou ele, que não estão olhando para o futuro e as oportunidades que podem se abrir no mercado nacional. Com a alteração do ano que vem há uma mudança na estratégia para o mercado livre das empresas, pois começam a estar mais expostas ao PLD do que no passado, essa condição ficava invisível no modelo atual pela precificação estar atrelada aos patamares de carga, cujos preços não apresentavam diferença muito significativa entre si.
Além disso, com o granularidade horária as empresas deverão pensar em novos modelos de negócios como atividades de regulação de tensão, modulação de contratos de serviços, compra de energia de madrugada para fazer swaps intradiários. Segundo ele, são novas oportunidades de negócios que poderão surgir com o PLD horário.
Preço nodal
Com a adoção do PLD horário será possível a adoção do preço nodal, ou seja, o preço por subestação da rede do país, um nível acima de granularidade de valores de energia de acordo com sua localização e por horário. Essa é uma possibilidade, mas não no curto prazo e sim para o futuro. Até porque, destacou o diretor da PSR, os contratos atuais são regidos pela entrega no centro de gravidade e em preço por submercado, aliás, valor este que deixaria de existir para dar lugar ao preço nodal.
Para ele, se essa modalidade fosse adotada sem um período de transição seria uma fonte de possível judicialização do setor por já terem os acordos as condições e ponto de entrega e valores regionais estabelecidos. Seria necessária a discussão sobre onde seria registrado o contrato o que leva a um desafio regulatório tanto para contratos no ACL quanto para o ACR.