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Com intenção de elevar seus níveis de competitividade e inovação dentro do mercado de geração e transmissão de energia elétrica, Furnas trabalha com uma expectativa de aplicar cerca de R$ 331 milhões em projetos de pesquisa e desenvolvimento nos próximos quatro anos. Em entrevista a Agência CanalEnergia, o gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da empresa, Nelson de Araújo dos Santos, afirmou que o foco atual da companhia é buscar a efetivação de novos negócios em diferentes frentes, com iniciativas amadurecidas para resultados mais rápidos.

“Aquela situação de pegar projetos embrionários ainda é importante, mas não é nosso foco atualmente. Ainda há iniciativas nesse sentido, mas estamos concentrados no desenvolvimento e reconhecimento de novas oportunidades”, comentou o executivo, afirmando que o objetivo dos aportes é adiantar a cadeia de inovação dos projetos, que passam pelas fases de desenvolvimento experimental, cabeça de série, lote pioneiro e inserção no mercado, tendo 36 meses para seu desenvolvimento a partir da definição das chamadas públicas. “A previsão é de que a maioria das iniciativas estejam contratadas até o meio deste ano, com os desembolsos também iniciando em 2019”.

Um diferencial competitivo para admissão das propostas pode ser a forma de apresentação, onde a ideia deve estar muito bem demonstrada. “Um novo processo é uma nova tecnologia, mas sempre alinhada a novos negócios”, apontou. A aplicação dos recursos ao longo do período não será uniforme, com cada etapa angariando diferentes volumes. Para este ano estão planejados R$ 61 milhões, seguido por R$ 120 milhões, R$ 100 milhões e R$50 milhões em 2022, na fase de conclusão dos projetos. “A ideia é colocar Furnas na vanguarda de determinados processos”, revelou o gerente de P&D.

Entre as iniciativas emblemáticas em desenvolvimento pela empresa, Santos destaca o reator termoquímico de resíduos sólidos urbanos em Boa Esperança (MG), que terá agora sua fase de testes para ver como se comporta para a geração a partir do lixo, além de um sistema de Armazenamento de Energia na hidrelétrica de Itumbiara, em parceria com a Aneel, e que se encontra em estágio avançado de implementação, começando a gerar resultados no final do ano. “Estamos finalizando a parte de licenciamento ambiental, complicada pela usina abranger terras em Minas Gerais e Goiás”, ponderou.

O executivo contou que as chamadas públicas anteriores receberam 200 propostas, com 37 inscritos em 2017, enquanto que no ano passado o número saltou para 155. Desse montante, Furnas trabalha para selecionar 30 projetos para contratação. Um exemplo relevante dessas CPs é a Metodologia Bim, um sistema de gerenciamento que usa realidade virtual para que o operador possa visualizar o comportamento de uma rede elétrica em tempo real, com a plataforma sendo aplicada a um sistema de inteligência geográfica ART e ao RT. “Com a tecnologia, pode-se ver e analisar tudo o que está acontecendo de dentro das subestações. É a virtualização dos processos”, definiu.

Outro projeto interessante é a pilha combustível de hidrogênio, uma iniciativa em parceria com o PTI de Itaipu e a Coppe/UFRJ que pretende estudar o uso deste elemento químico para geração de eletricidade, com previsão de começar a rodar no meio do ano. Há também o desenvolvimento em curso de pesquisas otimizadas em relação a parte de vida útil de empreendimentos eólicos, solar e hidrelétricos, com um túnel de vento associado ao projeto no laboratório de Goiânia, onde equipes técnicas realizam testes para formular metodologias que apontem para um entendimento de como determinadas centrais de geração funcionam estruturalmente, e como podem ser integradas. “Ele foi feito para parques eólicos, mas não se limita a esse tipo. Toda estrutura que sofrer carregamento de ventos poderá ser modelada nesse projeto, que será finalizado em 2020”, revelou.

Quanto a relação com startups, Nelson comentou ser “altamente desejável” ter a oportunidade de trabalhar com esse modelo de negócios, mas aponta dificuldades das empresas em lidarem com a burocracia para contratação dos projetos da companhia, que por força de lei exigem muita documentação, requisitos, cronogramas e focos específicos. “É muito mais rigoroso que uma licitação comum, e muitas vezes as startups não conseguem atender a todos esses trâmites”, explicou.

Uma das parcerias aconteceu em 2016, com uma incubada da Coppe/Tech. A Tracel nasceu na primeira fase do projeto Embarcações Elétricas, que entre outras ações construiu ônibus elétricos e híbridos, com testes sendo realizados durante às Olimpíadas no Rio de Janeiro. Já na chamada do ano passado uma iniciativa voltada para segurança na operação obteve êxito, através de um processo suportado por software que permite a visualização da área de transmissão da empresa no menor tempo possível para mitigar riscos e avaliar possibilidades de ocorrências na rede, o que confere uma maior confiabilidade ao sistema. “Esse programa tira o máximo de risco de alguma interferência, identificando quais equipamentos tem maiores chances de problema, atuando de forma preventiva com análise de risco”.

Da pesquisa experimental ao desenvolvimento de novos negócios

Se hoje o planejamento estratégico de Furnas aponta para a ampliação de novos negócios e projetos rentáveis, em anos anteriores as linhas de pesquisa tinham outras características e motivações. De 2012 a 2014 foi época para a pesquisa aplicada ao desenvolvimento experimental, sem nada relacionado a comercialização de projetos. Foi aí que se deu a concepção do ônibus 100% elétrico e híbrido, de hidrogênio e etanol, e que está atualmente na fase para o loteamento do produto. “Falta ainda parcerias externas para operar os veículos”, informou Nelson.

Uma proposta para um novo formato de aerogeradores também surgiu nesse ínterim: em vez da pá vertical, a peça seria horizontal e dobrável, num movimento que auxilia essa configuração a conseguir captar ventos mais fracos e gerar energia. A ideia está em fase de estudos para subir de categoria, do ponto experimental para cabeça de série. Já entre 2014 e 2016 houve a primeira mudança de paradigma na área de P&D, com maior valorização para soluções voltadas para a própria empresa, no intuito de resolver e/ou melhorar os seus gargalos técnicos. Foram investidos cerca de R$ 49 milhões nesses três anos, com o incremento de alguns laboratórios da empresa, como o hidráulico experimental e o de concreto e solos.

Sobre o período, Nelson lembrou do plano para identificar o real motivo das erosões nas bordas do lago de Furnas, problema que hoje está controlado. O projeto demonstrou que a responsabilidade pelas erosões era do proprietário da área contígua do reservatório. “Quando vem uma ação que pede indenização sobre um efeito nessa borda, conseguimos demonstrar que muitas das vezes a responsabilidade não é nossa. O dono da área que manejou o solo errado e causou aquela erosão”, explicou, afirmando que a proposta foi internacionalizada e dará continuidade a outra iniciativa, desta vez na área de bioenergia, associando técnicas biológicas e de engenharia para plantio e inserção de matas nativas e ciliares nos reservatórios, com previsão de ser encerrado em 2020.

Segundo o executivo, a partir de 2017, houve um redirecionamento na estratégia da empresa para elevar seus níveis de competitividade e inovação dentro do mercado, através da estruturação de sua área de P&D direcionada para ampliação de novos negócios, produtos, patentes e propriedades intelectuais. Não obstante, através de dados fornecidos pela concessionária, é possível aferir um crescimento gradual no volume de investimentos para o setor, que começou com R$ 24 milhões em 2017 para no ano seguinte quase triplicar para R$ 61 milhões. “Antes os gastos eram maiores com recursos humanos. Agora o foco mais intensivo é em material e equipamentos, numa fase pré-industrial”, complementou.