As bases que estão transformando os mercados de energia no mundo podem ser resumidas em três palavras: descentralização, descabornização e digitalização. Trata-se de uma busca por uma matriz energética mais limpa e renovável, distribuída por diversas regiões e viabilizadas pelo surgimento de tecnologias que dão cada vez mais poder de escolha aos consumidores.

É consenso entre os especialistas que essa revolução energética será caracterizada pela expansão das fontes eólica e solar, pela inserção de tecnologias como carro elétrico, redes inteligentes, ampliação e modernização da transmissão e sistemas de armazenamento (baterias). Entretanto, as tradicionais fontes hidrelétrica e térmica continuarão fundamentais para fornecer flexibilidade e segurança ao suprimento elétrico.

“A geração renovável é fundamental e representa o futuro, mas sabemos também que a energia térmica é muito importante como fonte complementar para trazer confiabilidade ao sistema”, disse Viveka Kaitila, CEO da GE Brasil, na abertura do debate “O Futuro da Energia”, transmitido ao vivo pela internet por meio da plataforma YouTube, em 4 de abril.

O debate contou com a contribuição do presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Thiago Barral. Em sua visão, o setor elétrico brasileiro precisará passar por uma ampla modernização de seu desenho de mercado, pois as premissas sobre as quais foram construídas o modelo atual não estão mais presentes. Disse que os sinais econômicos estão distorcidos e não refletem a dinâmica dos diferentes atributos que esse novo setor elétrico precisará.

“Esse modelo de mercado precisa ser redesenhado, visando a sustentabilidade e eficiência na operação do sistema elétrico e também para alocar corretamente os riscos e tornar esse mercado amigável para essas novas tecnologias que a gente tem à disposição”, declarou Barral.

O Plano Decenal de Energia (PDE 2027) aponta que o Brasil precisará expandir sua capacidade de geração em 60.000 MW, volume que demandará investimentos da ordem de R$ 182 bilhões até 2027. Para o segmento de transmissão, o planejamento estima que serão necessários R$ 108 bilhões para realizar as obras de ampliação e reforços no Sistema Interligado Nacional (SIN). A projeção oficial é que a economia do país crescerá a uma taxa média de 3,9% ao ano até 2027.

Na opinião do presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, a recuperação da economia brasileira só será possível com investimentos em infraestrutura. “Apesar de todas as crises, o setor de energia sempre atraiu recursos e temos energia para sustentar o processo de crescimento da economia”, disse o executivo da maior geradora de energia da América Latina.

Também presente no evento, o diretor da área de Infraestrutura do Pátria Investimentos, Marcelo Souza, lembrou que o Brasil já ocupa uma posição de destaque do ponto de vista de alocação de capital entre os países emergentes. O país tem atraído cerca de US$ 80 bilhões de investimento estrangeiro direto. Para ele, esse volume poderia dobrar se o Brasil conseguir realizar as reformas necessárias e entrar na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Estados Unidos e Israel já declaram apoio a essa proposta.

“Eu prefiro ver o copo meio cheio e a verdade é que nos últimos anos a gente tem sido capaz de atrair os investimentos em geração e transmissão. As próprias distribuidoras têm feito as melhorias necessárias na rede”, observou o gestor do megafundo de investimentos. “Estamos numa posição bastante diferenciada do ponto de vista do setor elétrico. A regulação do setor elétrico é um exemplo quando a gente compara com os outros segmentos de infraestrutura”, destacou.

Álvaro Ferreira Tupiassú, gerente geral de Planejamento e Marketing de Gás e Energia da Petrobras, chamou a atenção para a necessidade de ampliar o uso do gás natural na matriz elétrica. O executivo pediu mudanças na regulação do setor elétrico, de forma a permitir que usinas existentes possam participar dos leilões de geração. A preocupação da empresa é com o futuro do parque termelétrico. Essas usinas são importantes para dar segurança ao sistema elétrico, permitindo a expansão das fontes com geração variável, como eólica e solar.

“O que nos preocupa um pouco hoje é que alguns desses contratos que as termelétricas têm estão chegando próximo ao seu final. É preciso tomar alguma medida para que elas possam, se for desejo do consumidor, estar disponíveis para o sistema ou, se for o caso, serem substituídas por novas usinas”, disse o executivo da petroleira.

No pico, o mercado de gás natural no Brasil consome 95 milhões de metros cúbicos, dos quais aproximadamente 40% são para as termelétricas. O market share da Petrobras no fornecimento desse insumo chega a 80%.

O presidente da Eletrobras concorda que o ideal seria a geração térmica a gás natural, mas lembrou da importância também da energia nuclear. A estatal pretende realizar no segundo semestre uma concorrência internacional com o objetivo de encontrar um parceiro para concluir a usina nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro, cujas obras estão paralisadas desde 2015.

Em 2019, a GE completa 100 anos de participação ativa do desenvolvimento da indústria brasileira. Os equipamentos da GE são responsáveis por um terço a da energia produzida pelo país. “Temos orgulho do nosso investimento em geração e transmissão, além da aposta no setor de renováveis, tanto eólica quanto hidrelétrica”, disse Viveka Kaitila, CEO da GE Brasil.

A GE participou da implementação da geração eólica no país, que hoje conta com uma capacidade instalada de 15 GW, sendo que os equipamentos da GE são responsáveis por quase 40% das turbinas em operação no Brasil.

Expansão eficiente

O papel do mercado livre também foi debatido no evento. Os agentes lembraram que os contratos de longo prazo no mercado regulado sempre foram o combustível que permitiu o sucesso da expansão da matriz elétrica brasileira nos últimos 20 anos. Porém, com a crise econômica e o encolhimento da demanda dos leilões a partir de 2015, os geradores entenderam que a expansão também teria que acontecer via mercado livre, algo que os investidores tinham aversão, principalmente pela duração dos contratos, exposição ao mercado de curto prazo e maior risco de crédito.

Os investidores entenderam esse processo e hoje a tendência é que haja uma participação expansão mais equilibrada entre mercado livre e regulado. O aspecto mais interessante desse processo é que a expansão no mercado livre é mais eficiente, pois o consumidor contesta o preço, o tipo de fonte, o submercado, a região, o prazo, a indexação do contrato.

“Do ponto de vista dos investidores é um risco maior, mas isso força as companhias a extraírem o máximo do valor dos investimentos que elas têm feito”, observou Fábio Zanfelice, presidente da Votorantim Energia.

O mercado livre hoje representa 30% do consumo nacional de energia, mas está em franca expansão. Contudo, a regulação atual não permite que todos os consumidores participem desse mercado. Existe um pleito para o governo reduza essas barreiras gradualmente. Para Mário Araripe, presidente da Casa dos Ventos, geradora e desenvolvedora de parques eólicos, a velocidade do crescimento do mercado livre dependerá do modelo que for decidido pelo governo: mais centralizado ou mais distribuído. “Espero que seja o caminho da racionalidade”, disse o executivo.

Para o presidente da EDP Brasil, Miguel Setas, o movimento de abertura do mercado livre é uma evolução natural, mas que precisa de ser feito com cautela. “A EDP defende que o mercado deveria estar totalmente aberto até meados da década de 2020”, disse o executivo.

“Mas não podemos esquecer que a maior expansão da matriz elétrica brasileira nos últimos 20 anos foi muito baseada no mercado cativo, ou seja, contratos de longo prazo, energia contratada pelas distribuidoras. Tudo isso deu uma estabilidade muito grande para o mercado e uma segurança ao investidor para fazer os investimentos de longo prazo. Portanto, não podemos simplesmente olhar para essa peça do marco regulatório e fazer um movimento muito agressivo de abertura do mercado, sem revisitar todo o resto do arcabouço regularizo”, ponderou Setas.

Também participaram do evento promovido pela GE em São Paulo os executivos José Laydner, diretor de Geração da Engie Brasil e Daniel Meniuk, líder da GE Power para América Latina, participou com mediador. Laydner disse que o mercado livre tem sido estratégico para alavancar os projetos da Engie. “No nosso portfólio de energia, mais de 50% é comercializado no mercado livre”. A empresa tem cerca de 800 MW nesse ambiente, com investimentos estimados em R$ 4 bilhões.

(Nota da Redação: Conteúdo patrocinado produzido pela Agência CanalEnergia)