A operação local da indiana Sterlite Power finalizou seu primeiro ativo no país. Com cerca de 28 meses de antecedência, a companhia colocou em operação o Projeto Arcoverde, em Pernambuco, arrematado no leilão de transmissão no. 5/2016. A transmissora considera este um marco para sua atuação por aqui. Ela foi alvo de dúvidas levantadas por outros agentes quando surgiu nos leilões em decorrência dos elevados deságios ofertados nos projetos arrematados. Não raramente chegavam a mais de 50% ante a receita anual permitida máxima pela Aneel. Até o momento já foram envolvidos cerca de US$ 2 bilhões em aportes no país, 50% de sua meta de investimentos em cinco anos.
Ao total a companhia, que já acumula 10 projetos em 11 estados. São 29 linhas que somam 4.424 km de extensão e mais 34 subestações. A receita com esses projetos é de R$ 728 milhões. A meta, disse o CEO da Sterlite Power, Pratik Argawal, é de permanecer de olhos nos leilões de transmissão para aproveitar as oportunidades que são colocadas. O interesse da empresa nos próximos anos, comentou, continuará sendo por novos projetos.
“Nossa estratégia é de buscar empreendimentos greenfield, a nossa grande vantagem competitiva é construir novos projetos, nossa meta não é a de apenas adicionar ativos ao nosso portfólio, para aquisições há outros players”, afirmou ele em entrevista coletiva na sede da empresa no Brasil, no bairro Vila Olímpia, zona sul de São Paulo, berço de transmissoras tradicionais que operam no país. A empresa ainda projeta aplicar os US$ 2 bilhões adicionais que tem nos próximos 2 a 3 anos.
Esses valores foram revelados em setembro do ano passado. Naquele mês, a companhia promoveu um encontro com a imprensa para apresentar seus planos para o país, principais executivos e o CEO para a operação brasileira, Rui Chammas. E ainda confirmou que continuaria investindo localmente diante das oportunidades que o Brasil apresenta neste segmento.
Agora a empresa volta-se para os próximos projetos. O primeiro nessa linha deverá ser o de Vineyards, no Rio Grande do Sul. O mais emblemático, contudo, é o chamado Novo Estado na região Norte do País. São 1.831 km de extensão em linhas, 4 mil torres e 32 mil km de cabos. Nesse caso a empresa esperar obter a licença de instalação nas próximas semanas. A obtenção do documento abre o caminho para o início das obras, que poderão envolver a técnica de usar helicópteros para reduzir o impacto dos canteiros de obras naquela região. O projeto passará por áreas de floresta amazônica e atravessará rios.
“Está tudo correndo bem no processo, o Ibama está na fase final de análise da documentação e acredito que não deveremos enfrentar dificuldades que possam atrasar a emissão da autorização”, comentou o CEO brasileiro. Nesse projeto o deságio ofertado foi de 35,7%, a proposta foi de RAP de R$ 313,1 milhões e o investimento previsto pela Aneel era de R$ 2,8 bilhões, com 60 meses para a entrega.
Em paralelo, a companhia está em fase final de contratação dos fornecedores de equipamentos e de EPC. A ideia é a de iniciar a construção logo após a estação chuvosa no Norte. As atividades, comentou, devem ocorrer a partir de março de 2020. O compromisso da empresa com a Aneel é de entregar o projeto em março de 2023. Mas nesse caso deve ser verificada nova antecipação, a empresa prefere não estimar em quanto tempo. “Vamos planejar muito bem, como fazemos para entregar antes, mas não posso dizer hoje qual o prazo, precisamos assinar os contratos antes”, acrescentou.
Questionado sobre o interesse no Linhão de Manaus-Boa Vista, Chammas preferiu não indicar se a companhia poderia entrar no projeto. Ele limitou-se a comentar que esse empreendimento está em boas mãos, referindo-se à Eletronorte e Alupar, os concessionários que arremataram o projeto em 2011. E ainda, não avaliou se seria necessário um novo leilão do projeto para que fosse atrativo ao mercado diante das condições atuais do segmento de transmissão. “Esse é um assunto de Estado, o governo é quem deve ver o que fazer, pois há um problema que não é apenas do empreendimento”, disse.
Antecipação
O projeto Arcoverde é formado pela subestação que dá nome ao empreendimento com 400 MVA de potência por 139 quilômetros de linhas de transmissão, envolveu 281 torres e ainda a ampliação de outras duas subestações, Garanhuns II e Caetés II. O investimento na obra de acordo com as estimativas da Aneel era de R$ 164 milhões, mas a empresa não revelou o montante que aportou. Esses ativos atendem ao escoamento de energia eólica que é produzida naquela região.
Argawal, ao lado de Chammas, comentou que essa antecipação é o resultado da política da empresa de realizar um planejamento detalhado antes de iniciar as obras. A companhia, continuou ele, vem se utilizando de sistemas de digitalização e uso de outras tecnologias para acelerar o processo de desenvolvimento e construção. No caso do empreendimento inaugurado, foram oito meses para ter o licenciamento e 12 meses para as obras, que contaram até mesmo com o uso de drones para o içamento de cabos.
Assim como Argawal comentou em setembro do ano passado, a companhia tem uma cultura de cooperação entre as equipes dos dois países onde cada dia conta para o atendimento dos prazos. Contudo, admitiu que os prazos atuais que a Aneel estabelece para os projetos fornecem o tempo suficiente para que os empreendimentos sejam colocados em operação dentro do cronograma.