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Delineando seu planejamento para um futuro cada vez mais competitivo, digital e inovador, a Cemig definiu a agenda estratégica para a área de Pesquisa e Desenvolvimento em 2019, onde planeja investir R$ 120 milhões em projetos que envolvam novas tecnologias digitais que possam ampliar a forma de atuação da companhia em seus ativos, auxiliando na tomada de decisões com aumento da produtividade e eficiência operacional. Em termos de inovação, a concessionária pretende direcionar seus esforços para o atendimento ao cliente, com melhorias nos indicadores de qualidade e sustentabilidade, garantindo retorno aos mais de 8 milhões de consumidores, além de acionistas e a sociedade mineira em geral.
Segundo o gerente da área responsável por P&D na empresa, Frederico Ribas Soares, o modelo tradicional de pesquisa e desenvolvimento é baseado em parcerias com universidades e se mostra fundamental não apenas para a formação de recursos humanos qualificados, mas também em termos de desenvolvimento tecnológico. “Hoje o movimento se ampliou e surgiram diversos parques tecnológicos, incubadoras e aceleradoras de projetos, que atuam com as startups no nosso chamado ecossistema de inovação”.
A Cemig tem trabalhado junto a esse ecossistema e no último Edital de Chamada Pública do Programa Cemig 4.0, aprovado em meados do ano passado, teve foco estratégico fortemente galgado na digitalização, com a seleção de projetos estruturantes, de alto impacto prático e com possibilidade de gerar soluções em novos serviços, produtos e negócios. Soares conta que um dos critérios de pontuação é a integração entre os atores desse ambiente, e que a pretensão do programa é de ser um instrumento de mudança da empresa. “O resultado foi promissor, com mercado, academia, estado e a Cemig trabalhando em conjunto”, comentou.
O executivo também revela que neste ano será iniciado um grande movimento com a Fiemg em benefício da indústria e do estado, dos clientes e da própria concessionária, através da geração distribuída. De acordo com ele, a empresa especializada do Grupo, a Cemig GD, será responsável por investir cerca de R$ 300 milhões na área em sociedade com o setor privado, o que terá um efeito altamente positivo para a companhia e a diversos setores da sociedade mineira, incluindo tarifas mais acessíveis para a indústria, comércio e até para os clientes residenciais. “Minas Gerais ganhará muito com isso. Empregos e renda serão gerados e os clientes terão energia mais barata e acessível. Há questões regulatórias importantes a serem resolvidas no plano federal, mas tratamos esse tema com a importância que merece”, avaliou.
Hoje a companhia trabalha com duas visões quanto a estruturação do seu programa de P&D: uma transversal, com o portfólio parecido com os 12 macro temas definidos pela Aneel, como fontes alternativas, gestão de bacias, entre outros, chamado assim “pois cruza todos os negócios da empresa de uma maneira geral, com uma temática por exemplo de supervisão de controle acontecendo tanto na geradora, quanto na transmissora e distribuidora”, explicou Soares. Já a outra visão está inserida no plano estratégico de tecnologia digital realizado desde o ano passado e que coloca o paradigma novo de três eixos verticais para a empresa: digitalização, centralização e descarbonização. “Contratamos uma consultoria e trabalhamos internamente ouvindo diretorias, especialistas e lideranças, muito por conta das transformações digitais acontecidas em todo mundo e que afetam todas as áreas da empresa”, revelou.
“A descentralização é tida como um movimento natural em todos setores, com o advento da geração distribuída constituindo um exemplo disso, que muda o paradigma do setor de acesso, de renda e serviços”. Ele também lembra da importância para a agenda de descarbonização, que dialoga com o G-20, Xcom, CVE e Fórum Econômico Mundial quanto a redução das emissões de carbono que contribuem para o aquecimento global.
O gerente aponta que o planejamento da distribuidora para este ano desmembra esses três eixos em macroações e diretrizes específicas que indicam necessidades da empresa em realizar conexões internacionais, melhorar o arranjo produtivo local, e do ponto de vista de competências tecnológicas importantes, investir em seus talentos para uma era digitalizada, olhando para outras fonte de fomento que não o P&D, que para ele não é suficiente para todas as transformações que o setor exige. “Precisamos também trabalhar a questão da cibersegurança, vital para esse processo tecnológico e para o engajamento com os ecossistemas de inovação que não sejam aqueles tido exclusivamente como clássicos”, lembrou.
Em 2018 foram 129 propostas submetidas, com sete sendo selecionadas por uma forte pegada na questão da digitalização. “São projetos desafiadores, ousados, estruturantes e transformadores, que começamos a partir de dezembro do ano passado”. O executivo também computa um interessante projeto que está parado, mas que irá voltar. Trata-se do desenvolvimento de uma tecnologia e arranjo produtivos locais voltado para exploração de resíduos de biomassa, haja visto que o Atlas de Biomassa de Minas Gerais aponta um potencial energético de 3 GWh disponível da fonte na região. “Hoje o estado tem 3 GWh que está sendo jogado fora”, bradou, afirmando que a ideia é fazer o aproveitamento desse resíduo com foco de atuação em 3 setores: suinocultura, bovinocultura e vinicultura. “Precisamos de um consórcio que apresente uma solução tanto tecnológica quanto de arranjo produtivo para explorar esse potencial”, definiu.
Projeto em parceria com Alsol combina 1 MW em armazenamento de energia solar e geração distribuída de 300 kWp
Ecossistemas de inovação
Sobre o engajamento com startups, o executivo conta que tudo começou há cerca de três anos, “quando resolvemos nos conectar a esse tipo de ecossistema de negócio, participando de fóruns e tendo maior interação com a linguagem e com as modalidades e parcerias”. A ideia era simples: entender a linguagem, ideias e propostas e como poderiam se conectar à questão para acompanhar a dinâmica desses ecossistemas, cujo “setor elétrico tem entrado de forma vigorosa”.
O programa de P&D no passado já previa esse tipo de relação com startups, que na época eram chamadas de incubadas. “Da UFMG algumas cresceram muito a partir da simbiose com nosso edital”, lembra Frederico Soares, citando como exemplo a Enacom, Inacom e Invision, que possuem uma metodologia ainda orgânica.
Um dos pontos dessa relação é conturbado pelo fato da Cemig ser uma empresa de economia mista juridicamente, o que impõe dificuldades para entrada e administração nesse tipo de modelo de negócios, de ir ao mercado e fazer um investimento direto em uma startup. A questão de como essas conexões podem acontecer está sendo discutida, mas é um ponto ainda complexo para se tratar, além do que, na opinião do especialista, a agenda de parceria, desenvolvimento de protótipos, estudos e soluções já é bem trabalhada no âmbito do programa de P&D.
“Temos experimentado colocar empresas de base tecnológicas ou fundações do país para fazer a transações dessas entidades. Em geral utilizamos esse agente intermediário, numa experiência que foi descoberta para uma transição de forma mais suave”, explicou o executivo. Ele afirma que a cada edital aberto, há espaço para aceleradoras e startups participarem junto com os agentes clássicos. Dos 51 projetos em 2017, sete foram realizados com esse tipo de contratação, numa metodologia ainda orgânica.
O Programa Fiemig 4.0, por exemplo, é uma aceleração B2B (de empresa para empresa) voltada para problemáticas da indústria, com a temática centrada em processos tecnológicos colocada a partir de dois desafios: atendimento ao cliente e tecnologias avançadas e complexas através de sistemas modernos de supervisão e monitoramento que utilizam Big Data. “O edital fechou em abril e a seleção começará em breve, com a definição final de 10 startups para trabalharmos nessas duas frentes”, noticiou.
Para o especialista na área é interessante perceber uma distinção entre startups que buscam soluções de interface e interação com o cliente final, através de aplicativos e smartphones, e outro conjunto chamado pelo mercado de High Tech, com tecnologias um pouco mais complexas e que se encaixam na demanda do setor elétrico, como por exemplo na supervisão, controle e automação da rede e dos ativos, que envolvem uma grande massa de informações e variáveis técnicas que só podem ser tratadas por um “sistema de big data violento”. Para ele não se fala em transformação digital se não há a disposição para ter um sistema de engenharia pesada de TI que opere esse tipo de transformação. “A grande maioria das startups estão preocupadas com aplicativos, o que não é suficiente para o setor”, definiu.
P&D recebeu R$ 600 milhões entre 1998 e 2019
A Cemig já desenvolvia projetos de pesquisa mesmo antes da promulgação da lei 9991, em 1998, quando quatro projetos angariaram 640 mil reais. Hoje a carteira da empresa gira anualmente em torno de aproximadamente 44 milhões, mas como por vezes há estoque de caixa, a companhia realiza editais superiores a esses montantes. Em 2017, por exemplo, foram R$ 110 milhões aportados, enquanto que no ano passado foram R$ 50 milhões em recursos empreendidos.
Desde 2000 para cá, quando de fato houve uma estruturação da área de P&D, o setor tecnológico da empresa foi sistematizado, passando por mudanças de manuais estratégicos. A mais importante é a que insere os três últimos elementos da cadeia de inovação, quando também o portfólio começa a mudar, de uma perspectiva mais academia para parcerias com o setor industrial e produtivo. Em termos de volume foram R$ 600 milhões investidos na área entre 1998 e 2019, num total de 500 projetos avaliados ao longo deste período.
Se antes a agenda prioritária era dividida pelos temas da Aneel, hoje as áreas da empresa são ouvidas e questões como meio ambiente e fontes alternativas surgem como pertinentes. Há uma prioridade de chamados dentro de uma esfera deliberativa mais próxima da diretoria corporativa, com muito mais demandas problemáticas do que recursos para fazer os projetos. Por esse motivo são estabelecidas ordens prioritárias para o chamamento. No decorrer do processo é realizado um workshop e eventos para integração dos agentes, para, além de apresentar e explicitar as demandas da companhia e tirar dúvidas, criar uma agenda de conexão com os atores, bem como a combinação de parcerias entre fundações de pesquisas, startups, fabricantes, associações e outras entidades.
Em 2017 foram 29 demandas e 350 propostas captadas, enquanto que no ano passado foram captadas outras fases subsequentes de projetos anteriores, havendo 51 atualmente nesse estágio. Um dos destaques são os projetos de armazenamento de energia que estão sendo desenvolvidos há dois anos: um com o grupo Algar, e outro com a FMG, em Belo Horizonte. Há também o desenvolvimento de uma solução que leva em consideração geração solar, baterias e grid, em Uberlândia, para utilizar esses três recursos em apoio a rede, melhorando a qualidade de energia ou servindo como solução especifica para algum cliente de médio ou grande porte. É planejado um contêiner de bateria de 1,4 MW plenamente conectado a rede, em 400 kW. “Qual direção energética está fluindo naquele momento, a migração do grid e diversas questões de contingência poderão ser aferidas a partir desse triangulo”, explicou Soares.
Alguns projetos de alternativas energéticas são trabalhados pela concessionária apenas a nível de prototipagem, como experimentação para avaliar a viabilidade técnica de tecnologias de vanguarda para serem aplicadas, como aproveitamento térmico e cogeração, que acontecem há dois anos no Centro de Assistência Gerencial de Minas Gerais (Ceag-MG) e no Conselho Estadual de Assistência Social (Ceas). Já o primeiro projeto para geração distribuída tem a ver com perdas comerciais. É uma ferramenta de cálculo especifico relacionado a capacidade desses sistemas quanto a medição e faturamento. Antes o cálculo era demorado, levando semanas, o que dura agora apenas 15 minutos.
Quanto a identificação de irregularidades no sistema elétrico, a companhia desenvolveu o Focus, uma plataforma computacional que fareja e vistoria possíveis alvos de inadimplência ou crimes à rede, através de estudos de comportamento, por exemplo. “A Cemig tem 8 milhões de consumidores, sendo impossível vistoriar todo mundo. Então temos que ter uma chance induzida para escolher alvos”, afirmou Soares. As versões iniciais foram melhoradas e a ferramenta conta hoje com um índice de 90% de assertividade em seu funcionamento.
Por fim, cabe destacar ainda o treinamento para realidade virtual e aumentada realizado entre 2013 e 2015, em que usinas em 3D foram utilizadas para habilitar os operadores a chegar ao ponto de supervisão e controle em terceira dimensão. “A rotina não permite levar os trabalhadores pro campo, por isso a ideia de explorar a temática da realidade virtual”, explica o executivo, que aponta o mapeamento das usinas e subestações em 3D como o primeiro passo para os treinamentos virtuais. “Depois vamos avançar isso na área de supervisão, trazendo variáveis ao online que estejam acontecendo naquele momento. Queremos alcançar esse desenvolvimento”.