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Num movimento que corrobora o entendimento corporativo de que direcionar esforços para a área de pesquisa e desenvolvimento é fundamental para qualquer organização que pretenda se manter em sintonia com as inovações tecnológicas, com as demandas dos stakeholders e com as mudanças que impactam a vida no planeta, a Engie Brasil Energia anunciou que irá investir R$ 31 milhões ao longo deste ano em projetos que já se encontram em sua carteira de execução. O coordenador de Inovação, Pesquisa e Desenvolvimento da Engie Brasil Energia, Rafael Ribeiro Calado, falou com exclusividade à Agência CanalEnergia sobre a atual fase pela qual atravessa a área de P&D da empresa, iniciada em 2017 e que se encontra em fase de validação neste ano, através de uma redefinição da rota de investimentos levando em consideração a transição energética e a estratégia global da multinacional, ancorada na digitalização e descentralização. “Atualmente temos no pipeline projetos relacionados a Energias Renováveis, Eficiência Energética e Meio Ambiente”, informou Calado.
O executivo revelou que a companhia tem trabalhado atualmente com a negociação de três contratos para continuidade em projetos relacionados à Supervisão, Controle e Proteção de Sistemas de Energia Elétrica já executados anteriormente, os quais irão para uma etapa mais avançada na cadeia de inovação, sendo dois na fase de cabeça de série – a qual considera aspectos de aperfeiçoamento de protótipo – e um na fase de lote pioneiro, etapa na qual se realiza uma primeira fabricação de produto ou reprodução de licenças para ensaios de validação, análise de custos e refino do projeto, com vistas à produção industrial e/ou à comercialização. Sobre o lançamento de uma nova chamada pública para este ano, ele esclarece que a empresa está reestruturando seus processos de P&D, incluindo a forma de captação de novos projetos. Mas que é provável que até o fim do ano seja divulgada chamada com temas alinhados à estratégia da companhia.
Quanto aos projetos em andamento, umas das linhas de pesquisa trabalhadas vem sendo a de armazenamento de energia, onde aparece um projeto estratégico de R$ 25 milhões em parceria com as empresas Companhia Energética Estreito e Guascor e executado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A iniciativa se encontra em fase inicial de implantação e visa explorar todos os possíveis papéis e caminhos que um sistema de armazenamento energético pode desempenhar. As baterias serão aplicadas em quatro contextos: usinas centralizadas de grande porte; geração distribuída de médio porte; geração distribuída de pequeno porte e veículos elétricos de transporte individual e coletivo.
De acordo com o especialista, uma bateria de íons de lítio e uma de zinco-ar serão integradas à usina solar Cidade Azul e à eólica Tubarão. As aplicações em geração distribuída de médio porte serão testadas em um laboratório da UFSC e possivelmente em clientes da própria Engie. Já o teste das aplicações para geração distribuída de pequeno porte ocorrerá em residências de funcionários da empresa e as aplicações em veículos serão avaliadas em um Renault Twizy e um ônibus elétrico da UFSC.
Outro destaque que também pende para o lado das renováveis é o projeto do Aerogerador Nacional, iniciado em 2013 e cujo objetivo é desenvolver uma tecnologia nacional em energia eólica no intuito de reduzir a dependência tecnológica do país. A ideia também é buscar desenvolver a cadeia nacional de fornecedores de componentes para a fabricação e instalação de aerogeradores de grande porte, numa iniciativa que representa o maior investimento da companhia em P&D em um único projeto: R$ 62 milhões de um total de R$ 222 milhões. O restante será investido pelas parceiras Celesc, que entrará com R$ 30 milhões e a Weg, que colocará R$ 130 milhões, sendo a executora do projeto.
No mesmo local onde está situada a UFV Cidade Azul, foi instalado um protótipo de aerogerador com potência de 2,1 MW, onde a análise do desempenho desse primeiro equipamento tem possibilitado o desenvolvimento de um novo protótipo com potência superior a 4 MW, adequado às condições de vento do Brasil. Também faz parte deste projeto a instalação da infraestrutura necessária para a conexão dessas turbinas ao sistema elétrico – implantação de uma subestação 34,5/69 KV, construção de acessos e pavimentação, aterro para instalação das torres anemométricas, nivelamento e compactação para as plataformas de montagem.
Aerogerador Nacional representa o maior investimento da companhia em um único projeto de P&D: R$ 62 milhões (fotos: arquivo Engie)
Já a solução do Hidrogênio Natural soa como uma das tecnologias mais promissoras para o enfrentamento do aquecimento global, através da eletrólise da água para produção de hidrogênio. Ao contrário da geração solar fotovoltaica e eólica, que já atingiram a maturidade, o uso do hidrogênio natural como fonte de energia ainda demanda muitos investimentos em pesquisas para se tornar um modelo de negócio competitivo, caminho pelo qual a Engie tem procurado direcionar alguns esforços. Este projeto, por exemplo, recebeu um aporte de R$ 1 milhão, tendo sido iniciado em 2017 em parceria com as empresas executoras Geo4u e Georisk, com a ideia de desenvolver uma metodologia para caracterizar o comportamento do hidrogênio natural em diferentes regiões do país.
O Brasil é um dos poucos países onde existem reservas conhecidas de hidrogênio natural, além da Rússia, Estados Unidos, Mali e região do Oriente Médio. Este estudo se encontra em andamento na bacia do Rio São Francisco e pretende pela primeira vez monitorar uma fonte de hidrogênio saindo do subsolo, para ampliar a compreensão sobre as variações de fluxo e a gênese do gás. A pesquisa utiliza detectores inovadores, recentemente desenvolvidos na França pelo Engie Lab Crigen. Para Rafael Calado, o diferencial da proposta é que ela prevê a medição do fluxo do gás de forma permanente, captando assim as variações ao longo do tempo.
Citado duas vezes já neste texto, o projeto de P&D que teve melhor relação custo-benefício para a empresa, em termos de aplicabilidade, foi o da Cidade Azul, em parceria com a UFSC e 11 empresas do setor elétrico. Concluído em 2015, o projeto contou com investimento de R$ 53 milhões ao longo de cinco anos, e consistiu na implantação de uma usina solar fotovoltaica de 3 MWp no município catarinense de Tubarão e na avaliação das principais tecnologias fotovoltaicas sob condições climáticas distintas, em oito localidades de sete estados: Aratiba (RS), Capivari de Baixo (SC), Búzios (RJ), Cachoeira Dourada (GO), Itiquira (MT), Porto Velho (RO), Juazeiro do Norte e Caucaia (CE).
Os pesquisadores estudaram sete tecnologias de módulos solares: silício cristalino sem rastreamento; silício cristalino com rastreamento; silício amorfo; silício monocristalino; telureto de cádmio; disseleneto de cobre, índio e gálio; e concentrador fotovoltaico com rastreamento. Além dos inversores e dos módulos fotovoltaicos, foram testados sistemas de aquisição de dados, sensores de irradiância e sistemas de comunicação de dados. Os resultados obtidos auxiliaram na decisão sobre qual a melhor tecnologia a ser instalada em uma planta comercial. A principal contribuição se deu em termos de capacitação técnica do pessoal da companhia, além de ter sido também uma oportunidade para capacitar a mão de obra local e criar uma rede com as empresas da cadeia, tais como fornecedores, desenvolvedores e projetistas. “A Usina Solar Cidade Azul foi o primeiro passo para a criação de um grande laboratório a céu aberto”, comentou a Desenvolvedora de Negócios da companhia, Luiza Menezes.
Por fim, cabe citar o projeto de Microrredes Inteligentes iniciado em 2011 e finalizado seis anos depois, que criou ferramentas para viabilizar o conceito de smart grid, dando maior confiabilidade, eficiência e segurança à geração, transmissão e distribuição de eletricidade. Para isso, os pesquisadores implantaram um projeto-piloto em uma planta de 30 kW, além de elaborarem um dossiê técnico e comercial para aplicação do sistema em um novo produto/serviço de fornecimento de energia a ser ofertado no Mercado Livre. O projeto aconteceu em parceria com a UFSC, a Fundação Certi e a empresa Supplier, angariando cerca de R$ 3,3 milhões em recursos.
“As microrredes funcionam como miniaturas do sistema elétrico nacional, mas dentro do próprio sistema”, comparou o diretor do Centro de Energia Sustentável da Fundação Certi, Cesare Quinteiro Pica. O objetivo dos pesquisadores foi aproximar a geração do consumo, dando assim mais poder aos usuários para adotar soluções híbridas, adaptáveis às suas necessidades. As microrredes são alternativas tecnológicas de importância crescente, pois possibilitam o aumento na diversidade de fontes e nas interconexões entre linhas – a chamada redundância –, que dá mais flexibilidade ao sistema elétrico e reduz o risco de apagões.
Projeto da UFV Cidade Azul foi avaliado como o de melhor custo-benefício para a empresa em termos de aplicabilidade
De projetos acadêmicos a grandes protótipos
Em seus 20 anos de existência, a empresa do grupo Engie alocou mais de R$ 175 milhões em aproximadamente 150 projetos de P&D, desenvolvidos em parceria com 35 instituições diferentes, entre universidades, centros de pesquisa e empresas. Nestas duas décadas, os aportes na área se caracterizaram por quatro fases distintas: a primeira priorizou projetos acadêmicos que geraram dissertações e teses; depois passou-se a desenvolver pequenos protótipos e, em seguida, grandes protótipos.
Em 2018 a companhia destinou R$ 44,8 milhões ao seu Programa de Pesquisa e Desenvolvimento regulado pela Aneel. Este valor corresponde ao percentual obrigatório sobre sua Receita Operacional Líquida estabelecido pela Lei 9.991/2000 para empresas concessionárias, permissionária e autorizadas do setor de energia elétrica. Historicamente, a principal parceira na execução dos projetos é a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), “em função da competência de seus pesquisadores e da proximidade física”, comenta Calado.
Quanto a relação com o ecossistema de negócios envolvendo startups, o especialista afirmou que há iniciativas em curso que promovem o desenvolvimento de soluções inovadoras e a validação das ideias dos empreendedores nos negócios da empresa, explicando que a multinacional trabalha em todo planeta em colaboração com startups através de chamadas públicas ou identificação de potenciais no mercado.
“Desde 2017 estamos inseridos nesse ambiente de inovação em Santa Catarina, fazendo conexões e formando parcerias com startups brasileiras”. Um dos exemplos citados é da RoadLabs, uma empresa pivotal (termo usado quando uma startup testa hipóteses para estudar possibilidades de novos caminhos) com um produto originalmente destinado a rodovias, para atender às demandas ambientais inerentes às usinas hidrelétricas.