A criação de um mecanismo de compartilhamento de risco para as fontes eólicas foi sumariamente descartada pelas autoridades do setor elétrico presentes nesta quarta-feira, 29 de maio, no Brazil Windpower, evento realizado pela Informa Markets | Grupo CanalEnergia em parceria com a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) e o Conselho Global de Energia Eólica (GWEC), em São Paulo.
O diretor geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata, lembrou que o Mecanismo de Realocação de Energia (MRE) foi criado em 1998 para otimizar o despacho das hidrelétricas em um contexto em que a matriz era hidrotérmica. “Não vejo razão para se criar um mecanismo como esse, seja para as eólicas, solar, ou até térmicas”, afirmou.
Rui Altieri, presidente do Conselho de Administração da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), disse que em não havendo despacho centralizado de eólicas, um MRE específico perde todo o sentido. “A variabilidade anual das eólicas é muito pequena, não faz sentido esse compartilhamento de risco. Concordo com o Barata, não faz sentido um MRE eólico”, opinião.
O diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval Feitosa, também disse não acreditar ser viável tal mecanismos para as eólicas. O secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia (MME), Ricardo Cyrino, colocou que, um vez que se decida pelo desenho do setor elétrico mais pró-mercado, o que terá que ser feito é reduzir o escopo do MRE hídrico e não criar um novo MRE. “A gente deveria olhar um modelo mais pró-mercado e menos um modelo de compartilhamento (…) Não precisaria ter um mecanismo dessa natureza”, disse Cyrino.
Para Erik Eduardo Rego, diretor de Energia Elétrica da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), no tema da modernização do setor, cabe discutir o MRE como um todo. “Não sei se criar um MRE por fonte seria o melhor caminho de alocação de custo.”
VILÃO DO MRE
Altieri ainda afirmou que de forma alguma as eólicas perturbam o MRE e disse que o que tem afetado o MRE é a energia de reserva. “De maneira nenhuma qualquer fonte afeta o MRE. O que afeta é a forma de contratação dessas fontes”, declarou.
Para ele, a energia de reserva é o grande vilão do MRE. A entrada em operação da usina nuclear de Angra 3, em construção no Rio de Janeiro, deve piorar esse quadro se nada for feito. Em suas palavras, a entrada em operação de Angra 3 vai causar uma grande desorganização comercial, uma vez que a planta foi contratada na modalidade de energia de reserva. Altieri lembrou que a CCEE tem uma proposta para resolver o problema da energia de reserva. A proposta é fazer a transferência desses contratos de maneira escalonada para as distribuidoras.
Veja mais:
Impacto da energia de reserva no MRE pode ser reduzido, aponta CCEE