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Com uma demanda ainda menor do que era esperado, o leilão A-4 despertou diferentes reações entre executivos e especialistas, que variaram de algum otimismo a questionamentos sobre a conveniência de se realizar um certame com uma negociação tão pouco significativa no mercado regulado. O leilão realizado nesta sexta-feira, 28 de junho, contratou 81,1 MW médios, proveniente de 15 empreendimentos, entre projetos de fontes solar e eólica, pequenas centrais hidrelétricas e térmica a biomassa, com entrada a partir de janeiro de 2023.

“A gente imaginava alguma coisa muito pequena mas nem tão pequena. Alguma coisa em torno de 150 [MWmédios]”, afirmou Thais Prandini, da Thymos Energia. Em sua avaliação, o resultado faz pensar se o setor está realmente no modelo certo. “No final das contas o que está acontecendo é que muitos projetos dão um super deságio para vender energia para o mercado livre, e um leilão no mercado regulado acabou sendo uma ferramenta que você tem que pagar para ir ao livre.”

Outro ponto que ela questionou é se vale a pena organizar um leilão para acomodar uma demanda pequena, já que há um custo alto para os investidores e uma mobilização muito grande antes do evento. “É claro que se não existisse leilão a gente teria problema com as distribuidoras, uma série de outros problemas que, se fosse repensar, teria que repensar o modelo como um todo.”

A consultora disse que vê o A-6 com uma perspectiva melhor de contratação, mas ressalvou que todas as fontes vão brigar no mesmo espaço. “Vamos ter térmica, hídrica, solar ,eólica, todo mundo. Por mais que ele seja maior, não vai se enorme. Então, realmente, a gente espera uma competição muito alta.” O resultado, sem dúvida, é bom para o preço da energia, mas, como já se viu no passado, pode levar a valores que não são factíveis para o empreendimento, afirmou.

Para Rebecca Maduro, sócia da área de energia do escritório L.O. Baptista Advogados, as previsões já não eram as melhores para o A-4, mas o leilão atendeu as expectativas. “A redução da previsão do PIB (Produto Interno Bruto) de 2% para 0,8% foi um balde de água fria, mas, dentro do que os especialistas estavam prevendo, que era uma contratação de 500 MW mais ou menos e no final o leilão fechou em 401, ficou dentro da expectativa.”

Rebecca atribuiu a contratação no mercado livre à incerteza em relação à economia e acredita que houve um movimento conservador do mercado de deixar um parcela da garantia física dos projetos, na casa dos 70%, não contratada. “Só a diferença dessa parcela é que foi para leilão. Acho que é um movimento natural diante de tudo o que a gente está vendo acontecer na economia brasileira. E das perspectivas de futuro para 2023.”

A advogada acredita que tem muita coisa para acontecer até o A-6, como a definição dos termos do acordo do GSF e as medidas do mercado do gás, que vai aquecer também o segmento de termelétricas. “Pode ser que o resultado do A-6 seja um pouco melhor em relação a essas modificações no setor especificamente”, disse Rebecca. Mesmo não sendo muito otimista em relação à economia, é possível, em sua avaliação, que o desdobramento de medidas como a reforma da Previdência dê uma aquecida nos investimentos estrangeiros,não apenas no setor, como em outras áreas.

Satisfeito com o resultado do A-4 o presidente executivo da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa, Charles Lenzi, destacou a sinalização positiva do certame em termos de contratação de pequenas centrais hidrelétricas. “Se a gente comparar a proporção de contratação de PCHs em relação a outras fontes, eu acho que foi um avanço importante”, explicou Lenzi.

O executivo da Abragel disse que já era esperada uma demanda fraca, até porque ainda não houve a recuperação da economia. “A gente está vivendo um período de retração no consumo. E as previsões de crescimento de PIB para esse ano ainda são muito ruins. Não tinha como contratar muito”, admitiu. A expectativa, afirmou Lenzi, é de que no leilão A-6 o volume contratado seja maior e a participação dos investidores em pequenas usinas de fonte hídrica seja mantida. O certame está previsto para o segundo semestre desse ano.

O presidente executivo da Associação Brasileira de Pequenas Centrais Hidrelétricas e de Centrais Geradoras Hidrelétricas, Paulo Arbex, também avaliou a contração total do leilão como aquém da expectativa. Ele reconheceu, porém, que o setor sabia que a demanda era baixa, porque o país não saiu da crise em que entrou nos últimos anos. Para o A-6 desse ano, o executivo da Abrapch acredita que ainda pode haver alguma melhora de cenário.

“A gente tenta ver o lado positivo. E o lado positivo é que hoje o Ministério de Minas e Energia, a Aneel, EPE, ONS e CCEE reconhecem os inúmeros benefícios da PCHs do ponto de vista social e econômico.” Para Arbex, o aumento da contratação dessas usinas no certame foi um primeiro passo, mas é preciso que ela seja permanente para manter a cadeia de fornecedores, totalmente nacional. Ele destacou que de 2005 a 2018 as PCHs tiveram apenas 1,95% do total de energia contratado em leilões regulados, enquanto térmicas fósseis contrataram 26,05% e eólicas 17,9%.

Mesmo com os projetos fotovoltaicos sendo destaque no leilão, a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica considera que o volume de contratação ficou abaixo das expectativas do setor e das necessidades do país. “O montante contratado foi muito baixo em comparação com o número elevadíssimo de projetos participantes do leilão. Isso ocasionou uma alta competição entre os players, produzindo preços médios fora dos patamares de referência para a fonte solar fotovoltaica no Brasil”, disse o presidente executivo da Absolar, Rodrigo Sauaia. O preço médio da energia vendida pela fonte ficou em R$ 67,48/MWh.

Segundo a associação, o setor já cumpriu em 2018 a meta de reduzir os preços em cerca de 40% ate 2024, conforme previsto no Plano Decenal de Energia 2027. Cabe agora ao governo fazer sua parte aumentando a contratação anual da fonte de 1 GW para 1,9 GW.

A Associação Brasileira de Energia Eólica informou em nota após o certame que os projetos eólicos contratados no leilão representam investimentos de mais de R$ 532 milhões. Foram negociados 95,2 MW de capacidade em três projetos, dois deles localizados no Piauí e um no Rio Grande do Norte. “Vale explicar que 30,3% do montante em MWmédio viabilizado foi comercializado exclusivamente neste leilão A-4, ficando o restante disponível para comercialização no mercado livre de energia ou em próximos leilões, como fruto da estratégia dos empreendedores”, afirmou a Abeeólica.