Depois da Ponte da Integração Brasil-Paraguai, que liga Foz do Iguaçu a Presidente Franco, foram lançadas no último sábado (20) as bases e condições do processo de licitação pública para a terceira ponte entre os dois países sócios de Itaipu, unindo o município paraguaio de Carmelo Peralta a Porto Murtinho, no Mato Grosso do Sul (MS). As duas obras, tanto a ponte sobre o Rio Paraná, na tríplice fronteira, quanto a Ponte Internacional Bioceânica, sobre o Rio Paraguai, serão bancadas pela Binacional.

A solenidade envolveu mais de 800 pessoas, entre elas, o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, ministros, o governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, e a diretoria de Itaipu. Durante o evento, o presidente paraguaio destacou o bom momento vivido entre os dois países, referindo-se a própria gestão e a do presidente Jair Bolsonaro. “Passaram 54 anos da construção da primeira ponte entre os dois países, em uma época em que a nossa economia era muito pequena”, diz, citando a exemplo o PIB paraguaio, que era de 2 bilhões de dólares e hoje é de 40 bilhões. “Construímos pontes naquele tempo e eu não queria ser o presidente que não deixaria uma nova ponte ser erguida”, comentou.

Mario Benítez lembrou o comentário do presidente chileno, Sebastián Piñera, na última Cúpula do Mercosul, ao elogiar a construção da tão sonhada ligação entre os oceanos Atlântico e Pacífico, feito que deve promover o desenvolvimento de toda a região. “É uma obra estratégica, pois melhora a conexão logística. O Mato Grosso do Sul poderá exportar sua produção de grãos e o Paraguai, que sequer tem litoral, terá uma ligação com os dois oceanos”, concluiu Benítez.

O diretor-geral paraguaio de Itaipu, José Alberto Alderete Rodríguez, reforçou que a iniciativa possibilitará transformar a economia regional, beneficiando o setor de agronegócios, a produção industrial e toda a cadeia que envolve o turismo, assim como o intercâmbio cultural e tecnológico.“É um dia histórico para os dois países e para a usina, que nasceu de um grande conflito e se converteu numa grande solução. O Rio Paraná e o Rio Paraguai nos unem e não nos separam”, declarou. Para o executivo, a Ponte Internacional Bioceânica irá beneficiar todos os países da América Latina, convertendo Porto Murtinho, que antes era ‘fim de linha”, em uma ponta do desenvolvimento. “Estaremos aqui em 2023 para inaugurar essa ponte”, garantiu.

O diretor-geral brasileiro de Itaipu, general Joaquim Silva e Luna, fez referência à frase de Neil Armstrong, ao dar o primeiro passo na Lua, feito épico que completou exatos 50 anos no último sábado (20). “Um pequeno passo para o homem, um grande passo para a humanidade”, afirmando ser um dia histórico. “Quando vi a extensão desta ponte, percebi que estamos criando um fato irreversível da ligação oceânica em nosso Cone Sul, este é um grande passo que não tem retorno”.

Para ele, as novas construções, junto a boas rodovias e ferrovias constituirão um marco de desenvolvimento e integração de toda a região. “Será possível atingir o antigo sonho de unir os oceanos Atlântico e Pacífico, criando-se um corredor de exportação para nossos países”, explicou, afirmando que a integração será ampliada também para outros países da região, porque uma das maiores carências é justamente a da infraestrutura logística que permita escoar nossas riquezas”.

Sacrifícios

Silva e Luna ainda afirmou que a binacional precisará fazer grandes sacrifícios, como já vem fazendo, para viabilizar a construção das pontes, citando o combate ao desperdício e o redirecionamento de recursos para obras de grandes impactos socioeconômicos para as populações do Brasil e do Paraguai, sem onerar os custos da energia elétrica.  “Se no passado fomos capazes de superar obstáculos diplomáticos e geográficos para erguer essa grande epopeia chamada Itaipu, tenho a certeza de que juntos venceremos esses novos desafios”, assinalou.

O general disse que tudo será feito dentro do princípio da boa gestão pública, em consonância com as diretrizes dos governos brasileiro e paraguaio, “da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficácia, que nos permitirão deixar como herança para as gerações do presente e do futuro essas duas pontes. Um marco que colocará Brasil e Paraguai na vanguarda do Mercosul”, definiu.

Para o governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, a iniciativa é o grande passo para o tão sonhado projeto da conexão bioceânica, ligando o Porto de Santos (SP) e de Paranaguá (PR), no Atlântico, aos portos do Chile (Pacífico), o que facilitará o escoamento da produção agrícola do MS e do Mato Grosso, principalmente, para os países do Oriente.

Mais oportunidades e qualidade de vida

A ponte entre Carmelo Peralta e Porto Murtinho contará com um aporte de aproximadamente US$ 75 milhões, valor similar ao da Ponte da Integração. A construção terá uma extensão de 680 metros, com 380 metros de vãos livres e 22 metros de altura, com duas torres de mais de 100 metros de altura e viadutos de 150 metros em ambas as cabeceiras, além de pilares preparados para o trânsito de veículos de grande porte. A obra deve gerar mais de mil empregos.

Porto Murtinho, no Mato Grosso do Sul, é uma das 32 cidades gêmeas do Brasil, isto é, aquelas situadas na linha de fronteira, seca ou fluvial, que apresentam grande potencial de integração econômica e cultural com o município do país vizinho. A cidade possui 15.372 habitantes, de acordo com o senso do de 2010 do IBGE, e suas principais atividades econômicas são a agropecuária e a extração de tanino, da planta chamada quebracho, e utilizado como insumo no processo de beneficiamento de couros.

A exemplo da maioria das cidades gêmeas, Porto Murtinho tem um baixo Índice de Desenvolvimento Municipal (IDHM), de apenas 0,666, menor que a média brasileira, que é de 0,727 e inferior até mesmo à média das 32 cidades gêmeas, que é de 0,674. Para comparar, o IDHM de Foz do Iguaçu é de 0,751, conforme o documento “Diagnóstico do desenvolvimento das cidades gêmeas do Brasil”, publicado pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteira (Idesf).

O IDHM leva em consideração quatro indicadores: renda, longevidade da população e educação. Longevidade, no caso de Porto Murtinho, é o que ajuda a elevar a média (o índice é de 0,830). Já a educação, o que também ocorre nas demais cidades gêmeas, à exceção das gaúchas Porto Xavier e Uruguaiana, é o indicador com pior resultado, com 0,526.

Porto Murtinho também consta na “rota do crime”, segundo a publicação. Como as demais cidades gêmeas que fazem fronteira com o Paraguai, entram por ali contrabandistas em geral, além de traficantes de drogas e armas, trazidos por barcos da “gêmea” paraguaia de Carmelo Peralta. A construção da ponte sobre o Rio Paraguai deverá movimentar não apenas a economia local, mas a de toda a região, o que poderá contribuir para melhorar os indicadores de qualidade de vida e dar novas oportunidades aos moradores.