O presidente Jair Bolsonaro defendeu o acordo de compra de potência de Itaipu, assinado em maio desse ano com o governo paraguaio, mas voltou a afirmar que “não quer prejudicar o Paraguai.” Bolsonaro acenou com a possibilidade de anular a ata bilateral para rever os termos da negociação. “Eu determinei, dei o aval para que fosse denunciado o último acordo nosso. Eles vêm para conversar”, disse nesta quinta-feira, 1º de agosto, na saída do Palácio da Alvorada.

As declarações do presidente acontecem em meio à crise política desencadeada pelo vazamento do documento no mês passado, que pode levar ao impeachment do presidente Mario Abdo Benítez. O documento foi firmado entre a estatal elétrica paraguaia Ande e a Eletrobras em 24 de maio desse ano, sem qualquer divulgação pública. Seu conteúdo vazou na semana passada, quando o então presidente da empresa paraguaia, Pedro Ferreira, renunciou ao cargo após se recusar a assinar o documento.

Mário Abdo Benítez foi acusado por opositores de fazer concessões ao Brasil, abrindo mão da soberania paraguaia. O acordo visto como prejudicial ao país levou à demissão de quatro funcionários de alto escalão do governo, entre eles o chanceler Luis Alberto Castiglioni. Bolsonaro tem demonstrado preocupação com a situação política do dirigente paraguaio, de quem se diz aliado.

“O problema do Paraguai é que um impeachment ali se faz em 72 horas. A gente não vai interferir na política do Paraguai. Me dou muito bem com Marito”, afirmou hoje em conversa com jornalistas. O presidente criticou o Partido dos Trabalhadores e disse que “o problema é que o PT fez concessões absurdas no passado com dinheiro do povo brasileiro”, em referência a concessões feitas no passado ao Paraguai que fizeram com que o consumidor brasileiro pague uma energia mais cara da hidrelétrica que o paraguaio.

Itamaraty

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil disse que “acompanha com grande atenção os acontecimentos no Paraguai que envolvem o processo de “juízo político” contra o Presidente Mario Abdo Benítez.” Na nota, o Itamaraty diz que reitera o respeito ao processo constitucional do Paraguai e confia em que ele “será conduzido sem quebra da ordem democrática, em respeito aos compromissos assumidos pelo Paraguai no âmbito da cláusula democrática do Mercosul – Protocolo de Ushuaia.”

O comunicado também destaca “o excelente nível do relacionamento” entre os presidentes Mario Abdo e Bolsonaro, “a inteira convergência de valores” e de visão estratégica entre os dois governos na promoção da democracia na região e na proteção dos direitos da família. “O Brasil espera que essa cooperação com o Presidente Mario Abdo possa prosseguir, o que permitirá a plena implementação das iniciativas em curso e a consecução de novos avanços, inclusive no que tange à implementação, em benefício mútuo, dos compromissos dos dois países ao amparo do Tratado de Itaipu”, afirma a nota da diplomacia brasileira.