Com a incipiente abertura do mercado do gás natural proposta pelo governo federal, a Siemens tem buscado se movimentar para acompanhar as mudanças e avaliar novas oportunidades dentro do segmento. Em reunião com jornalistas na manhã desta quarta-feira, 7 de agosto, o CEO da multinacional no Brasil, André Clark, confirmou que a empresa irá investir diretamente em projetos termelétricos, a exemplo do Porto de Açu, informando que hoje há 26 iniciativas do tipo sendo analisadas pela companhia em todo país. “A atual disseminação da estrutura do gás traz diversas possibilidades. Há muita coisa sendo feita aqui e nas fronteiras”, comentou.
Segundo o executivo, os projetos envolvem usinas de termogeração a gás natural de alta eficiência, utilizando GNL ou gás explorado do pré-sal. “Só com esses empreendimentos as emissões de carbono podem cair de 5% a 6%”, prevê, afirmando que os ativos podem sair do papel num prazo de dois a quatro anos, com a indução também da formação de leilões térmicos a gás por diversas regiões no país.
Em sua fala, Clark chamou a atenção para a quantidade de discussões que está tendo com os representantes do governo federal e do MME sobre a questão da descarbonização no Brasil, afirmando que as autoridades estão tratando o tema com grande importância, estabelecendo metas. “Só a nossa meta de redução é a produção da França e da Alemanha juntas”, afirma.
Ele conta que após uma conversa que teve com representantes do governo ontem, ficou definido um plano para substituir 5 GW atuais da produção de térmicas a diesel para 19 GW em UTEs de grande porte e movidas a gás natural, isso para os próximos dez anos. “O diesel é muito sujo do ponto de vista climático, ambiental e econômico”, citando o preço da energia da fonte, que estava a R$ 1000 o MWh, enquanto os leilões das renováveis ofertavam abaixo de R$ 100.
Outro ponto levantado para o escopo do planejamento foi a segurança em se ter mais GW que podem ser utilizados para demanda latente, com energia despachável de base, fator importante para um cenário em que a demanda por energia é crescente. “Está posta como política pública, até para gerar emprego”, completou.
Sobre o Complexo do Porto do Açu, o CEO afirmou que a planta significa a tendência de modelo de investimento da empresa para o setor, num caso inovador de parceria com a petroleira BP e a Prumo Logística, dona do terreno em que os ativos estão sendo implementados. “O mais interessante é que o projeto está situado entre dois megadutos de gás que acabaram de ser privatizados, podendo configurar um hub para distribuição do combustível no país”, comenta.
Ministérios correlatos e prioridades
Perguntado sobre a avaliação do governo federal até aqui, no que tange os interesses da Siemens, o presidente afirmou que a interação com a chamada “agenda econômica expandida”, formado pelos blocos dos Ministérios da Economia, Minas e Energia, Infraestrutura, PPI, Agricultura e Ciência e Tecnologia, é muito boa e está avançando positivamente, num movimento com características que impressionaram o executivo, como o fato de nas seis pastas citadas nenhuma ser comandada por político, e sim por um profissional técnico.
“Em 20 anos de infraestrutura nunca vi isso antes. Corremos o risco de dar muito certo”, assinala, afirmando que essa forma de atuação do atual governo gera ruídos no Congresso porque é um outro jeito de gerir o estado e tem suas consequências. Além dos ministérios estarem se comunicando, “completamente correlatos e com um diálogo impressionante”, Clark saúda a escolha de trazer ex-militares, que se aposentaram ou estão na reserva, para ajudar na transformação do estado, aplicando técnicas de gestão a projetos e a todos processos básicos e gerenciais. “São pessoas que possuem formação acadêmica de excepcional qualidade, em diversas áreas. É um alento enorme”, comemora.
Sobre a reforma pela qual o setor elétrico deve passar, Clark disse que o assunto está sendo discutido e em certo ponto pressionado, mas que o governo está priorizando atualmente outras decisões mais emergenciais, como a votação da reforma da previdência e tributária, para depois discutir o marco do setor elétrico. “É uma questão importante mas há outras coisas urgentes no caminho. É a quarta ou quinta prioridade para o congresso”, avaliou.
Para ele, mais importante do que a série de correções a serem feitas para proteger os modelos de negócios das distribuidoras e outros casos, é a criação de novos mercados que o marco pode oferecer, com a tarifa horária e com o advento da geração distribuída, onde novos elementos na cadeia de valor brasileira serão impostos, “o que é fundamental pois afeta diversos áreas, inclusive na geração de empregos.” E é claro que irá movimentar os negócios da multinacional, que possui expertise e um portfólio de soluções tecnológicas que prometem dar conta do futuro do setor elétrico, da chamada transição energética.
*O repórter viajou a convite da Siemens