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Ao delinear alternativas para a expansão da geração no país, a implementação de Usinas Hidrelétricas Reversíveis (UHRs) tem voltado à tona como medida econômica e sustentável em relação as termelétricas, visto poder atuar também no armazenamento de energia e na oferta de potência com a flexibilidade necessária para o atendimento da variação de carga no curto prazo, sobretudo com o crescimento de fontes intermitentes como a eólica e a solar. “É uma decisão técnica e econômica”, afirmou o Professor do Gesel, Nivalde de Castro, durante a abertura do primeiro workshop do projeto de P&D sobre a viabilidade de introdução dessas usinas ao Sistema Interligado Nacional, que aconteceu na sede do ONS, na última segunda-feira (12).

O evento oportunizou a apresentação do projeto específico Usinas Hidrelétricas Reversíveis Sazonais Combinadas com Hidrelétricas em Cascata e seus Benefícios para a Gestão do Setor Elétrico Brasileiro, que será executado pela CPFL Geração, com investimento inicial de R$ 2,8 milhões. A iniciativa envolverá o Gesel e empresas de consultoria e engenharia, além de sociedades de propósito específico em que a CPFL é acionista.

“É um P&D estruturante para o setor e com valor para as entidades financiadoras, que deseja investir futuramente em empreendimentos do tipo,” afirma Marcus Santana, coordenador de P&D da CSC Energia – Central de Serviços Compartilhados, frisando que o projeto prevê um estudo preliminar de um projeto de uma usina reversível, bem como a modelagem de sua operação no Sistema Interligado Nacional dentro da configuração do último Plano Decenal de Energia.

Roberto Brandão, Coordenador da área de Geração e Mercados do Gesel, falou em sua apresentação sobre os objetivos e fundamentações do Grupo de Estudos, mostrando benefícios como o controle da carga em momentos de pouca ou muita demanda e no vertimento das usinas, além da acomodação das fontes renováveis na rede e redução do PLD no patamar pesado. “É preciso reviver a cultura das usinas reversíveis e olhar os benefícios e os tipos de projetos que podem acontecer, tanto no quesito ambiental quanto na viabilidade econômica”, salientou.

O coordenador elencou a perda de participação das hidrelétricas na matriz elétrica nacional e estagnação de construções desse porte como um dos contextos para a alternativa das UHRs, além da questão das UHEs sazonais na Amazônia, como Xingu e Teles Pires, que geram muito pouca energia no segundo semestre, “deixando o sistema estressado”, tendo que recorrer as térmicas de partida rápida, mais caras e sujas. “É também uma alternativa de armazenamento de energia, centena de vezes mais barata que as baterias”, lembrou.

Em sua análise, Brandão afirma que a grande problemática para a questão é encontrar uma forma de remuneração adequada a esse tipo de empreendimento, cujo consumo líquido e todas suas funcionalidades de operação não são garantidas pelo preço horário. O balanço energético, normalmente negativo quanto a esses sistemas, se constituiu historicamente como um motivo de resistência à incorporação desta tecnologia em escala nacional, posicionamento que vem mudando diante da necessidade de ampliação da geração de base no setor e da própria transição energética.

“A ideia é criar um sistema de modelo de negócios para que os projetos se viabilizem, mapeando potenciais e estimando os investimentos evitados em geração de ponta e transmissão”, destacou o coordenador, citando como exemplo o perímetro da região entre as capitais regionais Brasília e Palmas (TO), onde foi identificado um bom potencial para aproveitamento de UHR como atendimento de ponta. “Uma região com boa estrutura de transmissão e onde não há um consumo efetivo”, comentou.

Esquema de uma Usina Hidrelétrica Reversível (Divulgação UFSM)

Por sua vez, Castro afirmou ser preciso a implementação de inovações regulatórias que permitam e atraiam investimentos em projetos desse tipo. Ele situou o setor elétrico como “um ponto fora da curva” na área de infraestrutura no Brasil, por nunca ter parado de investir em geração, transmissão e distribuição, “mantendo uma taxa de aportes impressionantes” frente a conjuntura atual do país. Para ele, “tudo no setor elétrico é muito discutido e demorado, mas é seguro e consistente”.

O professor revelou que uma das novidades do projeto é a utilização de um software inédito no Brasil, o Plexo. “Quantos mais modelos para acompanhar o processo de transição energética, melhor”, disse, contando que a iniciativa terá também um website próprio para divulgação de informações e atualizações. Outra atividade prevista é uma visita técnica a Portugal em dezembro deste ano, no intuito de conferir e aprender com a experiência da EDP, que possui 11 usinas reversíveis em funcionamento no país.

EPE reavalia premissas e irá contratar consultoria

O tema das UHRs foi elencado como alternativa a necessidade de aumento de potência de geração no Plano Decenal de Energia 2027 da Empresa de Pesquisa Energética, que afirmou seguir com a prerrogativa na edição do PDE 2029, ainda a ser publicado. A EPE tem trabalhado efetivamente no assunto desde fevereiro deste ano, quando lançou um estudo de inventário para mapeamento de potenciais regiões para as reversíveis, feito inicialmente no estado do Rio de Janeiro, mas que seguirá agora para São Paulo e demais unidades da federação.

De acordo com André Makishi, analista da EPE, a entidade trabalha atualmente com três frentes de atuação para o assunto: aspectos de mercado e regulação; valoração dos benefícios; e a área de engenharia. “A primeira fase é de inventário, seguido pela avaliação da viabilidade técnica e econômica em questão, para depois formalizar um projeto básico em que será detalhado a construção de uma UHR”, informou.

A ferramenta utilizada para mapeamento dos locais promissores para instalação de UHRs é a GeoUHR, que faz uma busca sistematizada a partir de premissas. O especialista explica que o melhor local deve ter um desnível o mais próximo possível e com uma área plana para o reservatório, além de estar próximo a um curso d’água. Sobre os estudos anteriores, como da Cesp em 1971, e da Eletrobras em 1988, Makishi afirma que ambos são muito antigos, com abrangência limitada e uma visão superficial. “A maioria das áreas pesquisadas nessa época constam hoje como áreas de preservação ambiental”, ressaltou.

Segundo ele, a Empresa está avançando no inventário iniciado em fevereiro, passando agora pela reavaliação de algumas premissas conforme a necessidade do tema, como por exemplo o tempo de geração necessário para passar da fase de bombeamento para geração, no caso estipulado em 3 horas. Também estão sendo repensados a parte dos estudos geológicos, geotérmicos e hidrometerológicos. Quanto a questão regulatória, está previsto a abertura de uma consulta pública em breve pela Aneel.

Sobre os próximos passos, Makishi revelou que uma empresa de consultoria será contratada para dar seguimento aos estudos em outras etapas, aprimorando as premissas e adaptando a ferramenta de mapeamento para analisar outros tipos de usinas reversíveis, como as de ciclo fechado, em que dois reservatórios artificiais provocam menos prejuízo ambiental.

Outras iniciativas citadas no evento são empreendimentos já construídos e que se enquadram como reversíveis, como os exemplos da Usina Elevatória de Santa Cecília e Vigário no município de Barra do Piraí, interior do Rio de Janeiro, e que não estão funcionando pois não possuem sinal tarifário.

Um participante na plateia lembrou de um projeto interessante nos rios Jupiá e Açu, na cidade de São Paulo, congregando geração e abastecimento de água, através de um conjunto de usinas da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), que bombeiam água para o planalto paulista, maior centro de carga do país. Caso a iniciativa tivesse andamento, outra parte dos recursos hídricos seriam escoados para os rios Tietê e Paraná, abastecendo as usinas daquela localidade. “O projeto não vai pra frente por falta de regulação”, comentou o colaborador.