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Finalizar Angra 3 e estabelecer um modelo que possa dar estabilidade e continuidade na expansão da geração nuclear no país são as prioridades no momento para a Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares, que enxerga um clima político favorável no Governo Federal e na comunidade energética para retomada e evolução desses projetos.
Em entrevista à Agência CanalEnergia, o Vice-Presidente da Associação, Orpet Peixoto, afirmou que o entendimento da entidade é que o melhor modelo para a conclusão da central nuclear é a definição de um parceiro participando em uma Sociedade de Propósito Específico, com controle maior exercido pela Eletrobrás, através da Eletronuclear. “É o que apresenta maiores chances de ser aprovado”, disse, afirmando que a iniciativa irá requerer investimentos anuais de aproximadamente R$ 3 bilhões nos próximos cinco anos.
Perguntado sobre a defasagem de recursos humanos e técnicos para o segmento, o executivo admitiu a dificuldade e comentou que o que manterá profissionais orbitando na área nuclear é a oportunidade de participarem de projetos contínuos e que propiciem uma carreira estável e desafiadora, chamando novamente a atenção para a necessidade de continuidade no uso e desenvolvimento da geração nuclear e em outras aplicações que a fonte proporciona para aquecer esse mercado e elevar o nível técnico de seus profissionais.
O vice-presidente da Abdan é um dos participantes do 16º Encontro Nacional dos Agentes do Setor Elétrico (Enase). O evento promovido pelo Grupo CanalEnergia/Informa Markets em parceria com associações do setor elétrico, está marcado para os dias 28 e 29 de agosto, no Rio de Janeiro. Este ano, a novidade será o evento paralelo Enase Gás, que vai discutir o mercado de gás natural no país. Confira a entrevista:
Agência CanalEnergia: Como a energia nuclear pode ser útil ao processo de transição energética? O que você destacaria como principais pontos e os desafios para esse processo? Há um modelo principal a ser seguido?
Orpet Peixoto: A energia nuclear, como outras energias, terá seu papel na matriz energética. Nesse momento de transição em que o país tem de aumentar sua capacidade geradora e atingir metas de produção elétrica relacionadas a índices ambientais, a nuclear aparece como uma das clean energies e terá um papel fundamental na substituição da geração de base de outras fontes mais poluentes ou de fontes que tenham sua aplicação direcionada a outros fins, caso da hídrica.
Destaco principalmente a resolução e finalização de Angra 3 e estabelecimento de um modelo permanente de maneira a dar estabilidade e continuidade na expansão do componente nuclear de geração. Embora as dificuldades econômicas atuais, esse modelo está sendo desenvolvido pelo governo.
Agência CanalEnergia: Como está o clima político para retomada de Angra 3? Como deixar o projeto mais atrativo e competitivo? Qual o caminho mais viável?
Orpet Peixoto: O que temos escutado do Governo é muito alvissareiro. No governo e na comunidade energética há um clima político de retomar e terminar esse empreendimento. Tempo é um fator fundamental. Quanto antes se definir o modelo e implantá-lo, mais atrativo será para a participação de parceria com investidores, que necessita ter a certeza de que o Estado terá decisões firmes e com metas bem definidas.
Isso reduz os riscos embutidos no empreendimento e facilita seu sucesso. Vários modelos têm sido estudados e estão em fase de decisão. O entendimento é de que, para Angra 3, o modelo com o parceiro participando em uma SPE, com maioria da Eletrobrás (Eletronuclear), é o que apresenta maiores chances de ser aprovado.
Agência CanalEnergia: Qual a avaliação da Associação quanto ao atual governo e a reforma pela qual o setor elétrico deve passar?
Orpet Peixoto: A avaliação da ABDAN é muito boa. Temos procurado, com apoio de nossos associados, participar ativamente da discussão da reforma do setor elétrico e das iniciativas do governo referentes, não só a energia nuclear, mas em todas as ações do modelo energético e de geração elétrica.
“No governo e na comunidade energética há um clima político de retomar e terminar esse empreendimento [Angra 3]”
Agência CanalEnergia: Quais os investimentos esperados para os próximos anos no setor e quais os principais direcionamentos do momento?
Orpet Peixoto: Somente para Angra 3 seriam em torno de R$ 3 bilhões para cada ano nos próximos 5 anos. Se o modelo das novas centrais for definido e implantado é possível chegarmos a dobrar esses valores anuais, tendo em vista que uma central representa investimentos no entorno de U$ 7 a 8 bilhões em 10 anos. Esses recursos são direcionados para a indústria, a prestação de serviços e a geração de empregos, principalmente nas locais próximos a geração.
Agência CanalEnergia: O que a Associação tem feito quanto a reposição de material humano especializado na área nuclear? Como enxerga essa questão atualmente?
Orpet Peixoto: Isso é realmente uma preocupação importante. A idade média dos profissionais que armazenam o conhecimento da geração nuclear é alta, ainda que tenhamos a formação de novos talentos de engenheiros, físicos e outras profissões, visto a engenharia nuclear ser por base uma engenharia sistêmica, com vários ramos de especialização.
O que manterá essas pessoas orbitando na área nuclear e também será chamativo para outros profissionais é a oportunidade de participarem de projetos contínuos que propiciem uma carreira estável e desafiadora. Para isso temos que ter continuidade no uso e desenvolvimento da geração nuclear e em outras aplicações da energia nuclear.
Agência CanalEnergia: Há atualmente o desenvolvimento de inciativas de P&D voltadas à energia nuclear? Se sim, destaque o que achar relevante
Orpet Peixoto: Sim. O Programa da Marinha, tanto no ciclo de combustível como no desenvolvimento do submarino nuclear (Prosub) tem em todas as suas fases Pesquisa e Desenvolvimento. Na Marinha essas etapas de tem metas específicas o que auxilia os pesquisadores na condução de seus projetos. Isso não impede que descobertas, metodologias e processos de P&D sigam também a linha de pesquisa pura e aplicada em institutos e meio acadêmico. Ou seja, ganha o projeto que tem um objetivo determinado e ganha a Ciência e Tecnologia do país (win-win).
O RMB é outro Programa com as mesmas características. E não podemos esquecer outras aplicações da energia nuclear, como por exemplo, a aplicação na medicina, que tem em um primeiro momento a prevenção e tratamento de males, mas que o conhecimento adquirido torna possível a P&D em novas metodologias e tratamentos.