Atualmente responsável pela maior parte da produção de gás natural nacional do país, a Petrobras já trabalha com uma perda relevante da sua participação no mercado interno, com base em projeções traçadas pela própria empresa. De acordo com o gerente geral de Planejamento e Marketing das Operações de Gás e Energia da Petrobras, Álvaro Tupiassu, a estimativa é que a fatia de participação da estatal na produção brasileira do energético caia dos atuais 80% para menos de 50% em menos de 10 anos, isso considerando o aumento do volume de gás que será explorado e ofertado dentro do país, especialmente a partir das reservas dos campos do pré-sal já em operação e ainda em fase de desenvolvimento.
Durante participação em painel sobre as perspectivas de oferta interna promovido pelo Enase Gás, no Rio de Janeiro, o executivo abordou a visão de futuro que a empresa – principal player do setor – tem do mercado gasífero brasileiro. Segundo ele, a oferta de gás nacional terá uma pequena elevação no curto prazo para, logo depois, sofrer uma queda decorrente do declínio natural de parte dos campos em operação. A previsão de aumento para o próximos anos, explicou Tupiassu, está particularmente associada à entrada do gasoduto Rota 3, previsto para 2020. O duto de escoamento terá 355 km de extensão entre o polo da Bacia de Santos e a unidade de processamento do Comperj, em Itaboraí (RJ).
Com a previsão de entrada da Rota 3 do pré-sal para o ano que vem, somada às Rotas 1 e 2 – já em operação –, a capacidade de escoamento de gás natural explorado a partir das reservas do pré-sal chegará a cerca de 50 milhões de m³/dia. Tupiassu falou ainda sobre o modelo de negócio para eventuais novos projetos do mesmo tipo. “Os projetos de constituição de rotas de escoamento não se justificam com base em apenas um projeto de upstream. Tem que haver vários desses projetos reunidos, que se mostrem viáveis, para que investimentos em novas rotas se justifiquem”, explicou o representante da Petrobras durante o debate promovido no evento, realizado no Rio de Janeiro.
O custo do escoamento associado à exploração do gás natural do pré-sal também foi abordado pelo diretor analista de Gás e GNL para América Latina do escritório Wood Mackenzie, Mauro Chávez. Segundo ele, há um desafio financeiro envolvendo o custo de oportunidade de capital para a realização desses investimentos. “Mais que olhar a produção bruta, os cálculos também têm que levar em conta o transporte do insumo”, destacou ele. Outro ponto ressaltado por Chavez envolve a capacidade de processamento desse gás, que, segundo cálculos, permaneceria com um gap de 14 milhões de m³/dia mesmo após a entrada em operação da UPGN do Comperj, atualmente em fase de construção.
O gás natural boliviano mereceu especial atenção no debate do Enase Gás. O representante da Wood Mackenzie observou que os fluxos de exportação do produto pela Bolívia para a Argentina tendem a cair nos próximos anos, em razão da exploração das reservas de gás não-convencional em território argentino. Com isso, a tendência é que a disponibilidade de gás natural da Bolívia para o Brasil aumente em um cenário de médio prazo. Com relação à oferta de gás natural liquefeito, Chavez sublinhou a existência, atualmente, de uma conjuntura de sobre oferta de GNL no mercado brasileiro, quadro que acaba impactando diretamente em um preço de comercialização reduzido, em torno de US$ 6 por milhão de BTU.