Enquanto o mercado nacional discute a modernização do setor elétrico, a chegada das novas tecnologias e a sua inserção no modelo regulatório as empresas vêm atuando de forma a viabilizar essas novas formas de fazer negócio. São termos como armazenamento de energia, flexibilidade, recursos distribuídos, off grid, dentre outros. No foco está a transformação energética pelo qual o mundo está passando, aqui em seu início e lá fora como uma realidade.
O presidente da PSR, Luiz Barroso, lembrou que o mundo já mudou e há exemplos de novas soluções das empresas diretamente ao consumidor final. E essa mudança, comentou ele, não significa que é negativa, representa apenas o fim de um ciclo e alerta que as empresas devem se preparar para enfrentar esses novos desafios. Estes todos baseados em tecnologia.
Esse foi o tema do fórum de CEOs na 16ª edição do Enase, evento realizado pelo Grupo CanalEnergia/Informa Markets, no Rio de Janeiro. No foco das discussões está a tecnologia como driver da modernização do setor elétrico.
Na avaliação do presidente da CPFL Energia, Gustavo Estrella, o avanço da tecnologia é uma megatendência que querendo as autoridades de qualquer país ou não irá acontecer. Ele apontou que este representa um desafio para o setor que é tradicional e altamente regulado. Uma das questões apontadas por ele é como adaptar o negócio se não se sabe qual o caminho será tomado aqui no país.
Ele citou os programas de P&D da Aneel como um bom exemplo para avançar em inovação e tecnologia no país. “Escala é o caminho para a tecnologia, no nosso caso a aposta recai sobre aquelas testadas no mundo todo”, disse ele. “O uso da tecnologia não será monopolizada, será difundida e disseminada em busca da melhor solução para o cliente”, acrescentou.
Luiz Fernando Vianna, presidente do Lactec, completou ao lembrar que os investimentos nesse programa vêm aumentando progressivamente. Dentre os quatro assuntos que mais demandaram investimentos tivemos a geração eólica e solar com R$ 250 milhões cada, depois veio a chamada pública da Aneel para armazenamento com R$ 400 milhões de investimentos e a mais recente, de mobilidade R$ 500 milhões. “Eu vejo as empresas investimento em P&D e de forma consciente, contribuindo, dessa forma, com a modernização do setor elétrico”, ressaltou ele.
Miguel Setas, da EDP Brasil, destacou por sua vez que a transição tecnológica no setor é uma questão inexorável, seja ela com ou sem o acompanhamento do marco regulatório. Isso porque vai no sentido de alcançar o cliente de forma direta e a sua satisfação. Para isso, citou o caso da robotização da empresa que comanda. São 180 já instalados que representaram um impacto significativo nos custos e na eficiência em ações como a supervisão de linhas. Ele citou além disso, o avanço da mobilidade elétrica, o de medidores inteligentes que pode ser que nem seja possível de ser alcançado no país por inteiro por conta da escala gigantesca com 83 milhões de unidades consumidoras.
“Se temos 30% desse mercado já estamos a falar de R$ 40 bilhões de investimentos. Ao mesmo tempo temos perspectivas com carregadores elétricos com R$ 30 bilhões de aportes e outras ações, chegamos facilmente a um mercado que demanda investimentos de R$ 130 a R$ 140 bilhões em investimentos em inovação”, disse o executivo.
Nesse mesmo mercado, o CEO da Enel Brasil, Nicola Cotugno, lembrou da atuação em medição inteligente como um dos pontos que o país abre oportunidades. E as transformações vêm a reboque da expansão das renováveis no Brasil, que está mudando o perfil do setor e da indústria que atende o mercado. “No mundo da distribuição acho que muito tem a vir não somente porque as tecnologias estão em linha com outros ativos, vemos a possibilidade de no mercado de distribuição, ao entrar na casa dos clientes, há oportunidade de oferecer uma série de serviços distintos”, apontou.
Em termos de serviços, a Comerc avançou ao hoje ter uma empresa de tecnologia criada para atender suas demandas. Só que esse segmento cresceu ao passo de se tornar um negócio economicamente viável, lembrou o presidente Christopher Vlavianos. Ele relatou em sua participação no Enase 2019 que de três anos para cá esse segmento cresceu e passou a investir em telemetria, startups, mobilidade entre outras ações. O executivo ressaltou que o consumidor e cliente estão mais participativos nesse mercado e que estão exigindo cada vez mais ações mais rápidas das empresas que precisam estar prontas para atender a essa nova demanda. “Não falo que devemos criar a roda mas sim usá-la da forma mais rápida possível”, comparou.
O presidente da Neoenergia no Brasil, Mario Ruiz, afirmou que a preservação dos principais e tradicionais elos da cadeira, a geração, transmissão e distribuição, são fundamentais para o modelo desejado de setor elétrico que traga a inovação e tecnologia para a sociedade. Ele usa a experiência da própria Iberdrola, controladora do grupo que ele dirige no Brasil, que foi a primeira a gerar energia eólica no mundo e que tem 150 anos de vida. E reforçou que a velocidade da inovação e da regulação desenvolvem-se de forma diferente.
Eduardo Sattamini, da Engie Brasil Energia, lembrou que o país ruma para o momento de adotar os preços horários com a valorização dos atributos das fontes. Ainda mais com o avanço das fontes intermitentes. Além disso há a perspectiva de leilões de lastro e energia que deve avançar caso o país pense em modernização do setor. Contudo, alertou que apesar das intenções, não se deve achar que o modelo será acertado de primeira. “Devemos ter a consciência de que não acertaremos no início e é necessário que tenhamos flexibilidade regulatória, um fator importante. O mercado liberalizado gera controvérsia e é um terreno para a judicialização voltar”, comentou ele em sua participação.