Com o objetivo de encontrar soluções tecnológicas para a questão das ocupações irregulares em áreas próximas a linhas de transmissão, a Isa Cteep lançou um edital de pesquisa e desenvolvimento, por meio da Aneel. Entre as propostas selecionadas, destacou-se uma parceria entre UFSCar, IPEF, Imagem e Noví, numa pesquisa conta com investimentos totais previstos de R$ 4,9 milhões.
O gerente da área de Soluções Socioambientais da transmissora, Osni Campos, afirmou que há uma grande preocupação da empresa com essas ocupações, que trazem riscos à segurança das pessoas e podem impactar no funcionamento do sistema de transmissão e afetar a sociedade. “Esse projeto irá nos ajudar a identificar as melhores alternativas de ocupações sustentáveis e seguras das faixas, que respeitem as normas de uso permitidas para essas áreas”, complementa.
Usos alternativos podem ser benéficos não só para a companhia, como também para a população vizinha. Entre os usos que estão sendo levados em consideração, destacam-se parques lineares, hortas e geração de energia fotovoltaica, que além de prevenir a ocupação irregular da área, podem ainda contribuir com a qualidade de vida da população.
Para o Professor Dr. Paulo Molin, da UFSCar Campus Lagoa do Sino, o problema das apropriações de terra deve ser enfrentado com diversas abordagens, incluindo ações preventivas para evitar novas ocupações. “Por isso ter um planejamento territorial e ambiental adequado, que leve em consideração a gestão da paisagem é fundamental”, conta ele. Diante deste contexto, a proposta do grupo de pesquisadores foi utilizar a inteligência geoespacial, composta por um sistema auto-alimentável e dinâmico.
Na prática, em um primeiro momento é mapeada toda a faixa de servidão e identificadas todas ocorrências de ocupações irregulares atuais. Esse banco de dados alimenta um modelo que ajuda a prever futuras ocorrências que, com ajuda de indicadores socioeconômicos e biofísicos, gera um mapa de probabilidade de futuras invasões.
Uma outra frente de trabalho utiliza imagens de satélite para detectar mudanças de uso e ocupação das faixas. Com base nos mapas gerados, uma equipe de monitoramento faz visitas direcionadas às regiões de criticidade mais alta, ganhando eficiência e eficácia no campo. A equipe de campo compõe a terceira frente de trabalho – equipados com tablets dotados de GPS e software dedicados, avaliam as possíveis ocorrências, gerando relatórios, fotos e mapas que em poucos segundos alimentam o servidor central da Isa Cteep e geram informações para tomadas de decisões imediatas.
A equipe ainda conta com drones equipados com sensores infravermelhos que mapeiam, qualificam e quantificam as ocorrências registradas. Por fim, os novos registros alimentam novamente o modelo de predição e dinamicamente atualizam o mapa de probabilidade de novas ocorrências, fechando um ciclo de gestão territorial usando inteligência geoespacial.
Existe ainda a uma quarta frente de trabalho, em parceria com o Instituto de Pesquisa e Estudos Florestais (IPEF), que utiliza as informações especializadas para propor usos alternativos das faixas de servidão.
O projeto iniciou oficialmente em julho de 2018 e seguirá em execução até dezembro de 2019. Em contrapartida ao desenvolvimento da pesquisa, a UFSCar recebeu a doação de cerca de R$500 mil em equipamentos e software de geoprocessamento, contribuindo para o crescimento do Centro de Pesquisa e Extensão em Geotecnologias (CePE-Geo).
A pesquisa tem se mostrado eficiente também no engajamento de alunos de graduação e pós-graduação, com seis estudantes diretamente contemplados por bolsas. Os resultados preliminares devem ser publicados ainda esse ano, através de artigos e apresentações em congressos, além de trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses.