O avanço das novas tecnologias seja em geração, transmissão e distribuição é inexorável ao setor elétrico. No âmbito desse cenário está o processo de modernização do marco regulatório e a separação entre lastro e energia que está em audiência pública na Aneel. As distribuidoras afirmam que os investimentos nos próximos anos serão necessários para adaptar a rede existente, pois com a geração distribuída a remuneração dos aportes se torna cada vez mais importante para a manutenção do equilíbrio econômico financeiro das concessionárias.
Luís Henrique Ferreira Pinto, vice-presidente de operações reguladas da CPFL Energia, no âmbito do avanço das novas tecnologias no setor elétrico, as distribuidoras não podem fugir de seu desafio maior que é oferecer qualidade de fornecimento. E para isso ocorrer deve ser feito investimentos e uma operação de uma rede mais complexa. Segundo ele, a mudança do setor é fundamental para evitar problemas econômico-financeiros das companhais, se não mudar a regra, no futuro essa condição poderá levar as concessionárias a quebrar, primeiro as de pequeno porte até chegar às de grande porte.
Segundo a avaliação da CPFL Energia, com base nos projetos de geração distribuída que desenvolveu em sua área de concessão, quando a GD entrar massivamente no sistema a rede de distribuição mudará. Ele alertou que o segmento precisará de investimentos visando mitigar os problemas identificados. Entre eles está a sobre tensão na rede secundária que pode modificar a configuração da rede, que hoje é convencional, no futuro.
“Provavelmente a rede não fará mais o que se faz hoje, precisa de investimentos em controles, pois com a GD passa de uma rede ativa para reativa e isso bagunça o controle de tensão pois hoje a característica do fluxo é da fonte para a carga, no futuro não será assim e isso demanda investimento”, apontou o executivo ao participar do Smart Grid Forum 2019.
Um ponto importante para o segmento, defendeu o CEO da Enel Distribuição SP, Max Lins, é a separação do fio e energia. Segundo sua avaliação, o país está atrasado na adoção de medidas como essa, inclusive em relação a países vizinhos como o Chile e a Colômbia, regiões onde a Enel possui participação. “A precificação horária vem para mitigar a lacuna, mas não resolverá necessariamente o problema da remuneração”, comentou ele em sua participação. “A Enel tem experiência onde a regulação já avançou nisso, fazer as mudanças é importante para que possamos atender a evolução tecnológica que, queiramos ou não avançará, é inexorável esse caminho”, destacou o executivo.
O CEO da EDP Brasil, Miguel Setas, corroborou a necessidade de que o arcabouço regulatório precisa avançar. Para que se avance na tecnologia e estabelecimento da infraestrutura para o fluxo bidirecional da energia devemos ter regras para os ativos existentes e para a remuneração dos novos investimentos. “Atualmente na distribuição não temos incentivo para a flexibilidade operativa que o setor demanda”, destacou ele.
Setas citou as perspectivas de expansão da fonte solar que vem de duas formas, na geração centralizada e distribuída, cuja participação deverá se inverter, sendo que a segunda deverá liderar o processo de expansão no país. “Hoje temos cerca de dois terços dos investimentos na centralizada e um terço na distribuída, mas já em 2027 essa relação será inversas o que mostra quão disruptivo serão os próximos anos no país”, ressaltou.
A avaliação do diretor presidente da Celesc, Cleicio Martins, é de que a digitalização é um caminho sem volta. Tanto que já há fabricantes que somente possuem em seu portfolio de produtos medidores inteligentes apenas.
Essa visão tem chegado ao órgão regulador. De acordo com o diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica, Sandoval Feitosa, o medidor é o hub entre o consumidor e o fornecedor de serviços. E nesse processo é ele quem dará o drive de modernização do setor elétrico. Contudo, em resposta às manifestações dos agentes afirmou que a agência não fará “da noite para o dia” uma nova regulação, mas sim caminhará nesse sentido ao “fazer ajustes necessários para que tenhamos melhor definidos os atributos de cada fonte e a sua remuneração adequada”.
Ele citou os exemplos de regras nos últimos anos que a Aneel tem apresentado. Algumas delas foram bem executas e outras nem tanto. Todas no sentido da modernização do setor elétrico. Uma das que estão no segundo grupo é a dos medidores eletrônicos, ele admitiu que “não ficou boa”. “A questão é não impor nada e se adaptar aos momentos. Com massa critica vamos tomar a decisão com as motivações necessárias”, finalizou.