Apesar do surgimento cada vez mais acelerado de novas tecnologias de produção e consumo de energia, o processo de transição energética é de longa duração e irá além da simples substituição de fontes de geração. A avaliação foi feita pelo diretor de Estudos Econômico-Energéticos e Ambientais da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Giovani Machado, durante palestra na 3ª edição do “Ciclo de Debates sobre Transição Energética”, promovida nesta quinta-feira (19) pela estatal e pelo Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), no Rio.

Na avaliação do diretor da EPE, o cenário atual de mudanças climáticas impõe às indústrias e aos governos uma velocidade maior na transformação da base de utilização de recursos para produção de energia, mas dentro de um ritmo histórico. “Ainda que esse processo seja mais rápido que antigamente, e de fato está sendo, ele não é rápido em si. São mudanças estruturais que exigem um conjunto de décadas para acontecer”, avalia Machado, ressaltando que fatores como a digitalização são primordiais para acelerar essa disrupção no setor de energia no mundo.

Apesar de projetar a transição em velocidade menos intensa do que as análises de mercado preveem, a estatal de planejamento vê o Brasil em posição vantajosa na discussão em torno de alternativas e soluções energéticas, em especial no que se refere a pontos como geração distribuída e mobilidade. O dirigente reforçou em sua apresentação que o país permanecerá com uma matriz majoritariamente renovável ao longo das próximas décadas, com a vantagem competitiva de ter iniciado cedo a migração para um modelo econômico pautado em baixo consumo de carbono.

Palestrante no evento, a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica, Elbia Gannoum, destacou que o futuro energético do Brasil será limpo, renovável, competitivo e livre de subsídios, com projetos híbridos abarcando eólica e solar e tecnologias de armazenamento em larga escala. O perfil da demanda no país, segundo ela, é outro ponto peculiar do cenário brasileiro. “O Brasil não está substituindo o uso de energia, está na verdade expandindo, já que o consumo per capita ainda é muito baixo na comparação com o de países desenvolvidos”, avaliou.