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Uma combinação entre regulação adequada, avanços tecnológicos e novos modelos de negócios é apontada por especialistas como determinante para o futuro das usinas termelétricas a gás no Brasil, no contexto da integração entre os setores de gás natural e de energia elétrica. Essas usinas são vistas como âncora do crescimento do mercado do gás no país, mas há grandes desafios a serem enfrentados para que a demanda pelo insumo se concretize, afirmaram participantes de workshop sobre térmicas a gás, organizado pelo Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura (Ceri) da Fundação Getúlio Vargas para a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia.

O MME divulgou durante o evento na última quinta-feira (3) o plano de trabalho do grupo que vai analisar o diagnóstico e as medidas de integração já propostas pelo Subcomitê 8 do programa Gás para Crescer. O cronograma de trabalho vai até 2021, mas já em 2020 espera-se que estejam criadas as condições para o pleno aproveitamento do gás em novos projetos termelétricos. “Este talvez seja um dos temas de maior complexidade nessa agenda. E eu já me permito dizer que uma das razões é que a reforma do setor elétrico, hoje discutida no âmbito do GT de Modernizaçao, tem contornos ainda não claramente definidos, fruto da reestruturação que vive o setor em âmbito mundial e seus reflexos no país”, avaliou a diretora do Ceri, Joísa Dutra.

Para a economista, o que se sabe é que o futuro da energia tem uma vocação renovável, característica já presente no setor elétrico brasileiro, e mais descentralizada. Há oportunidades para o aumento da penetração de gás natural nesse cenário de crescimento das novas renováveis e de aumento de incertezas quanto a afluências, por exemplo. A questão é como aproveitá-las de modo eficiente. Por algumas razões, destacou Joísa, não foi possível até agora materializar o esforço de aprovação da reforma do setor de gás, com mudanças na lei, mas um conjunto de medidas infra legais colocaram em curso o processo e já produzem resultados palpáveis, como a venda de ativos de transporte da Petrobras para a Brookfield e a Engie.

A Diretora do Departamento de Gás Natural do MME, Symone Araújo, disse que o setor de gás e o setor elétrico terão que se reinventar para que haja integração entre eles. Ela desafiou o mercado a pensar diferente e a abandonar a velha tecla da térmica na base. “Olhem a solução de Marlim Azul. Conclamo o setor elétrico a desapegar-se dessa bendita inflexibilidade”, disse Symone.  A térmica localizada em Macaé (RJ) é o primeiro projeto a vender energia em leilão com gás do pré-sal.

Symone também provocou a plateia no fechamento do evento, ao lembrar que o Brasil não é só o litoral. “Nós temos na mão uma grande chance de tornar o gás um fator de desenvolvimento. Temos chance de interiorizar o gás”, disse, acrescentando que isso não significa construir gasodutos que vão dar em lugar nenhum, e sim encontrar soluções criativas como a da Eneva para o gás em Roraima. A empresa é uma das vencedores do leilão que contratou soluções de suprimento para atender o sistema isolado de Boa Vista e localidades a ela conectadas. O estado é o único do país fora do Sistema Interligado.

“Sem duvida, é importante harmonizarmos os ambientes regulatórios do setor de gás com o setor de energia elétrica, que é exatamente um dos desafios para assegurar a adequada integração. Para isso, é necessária a compatibilização na oferta de gás com os diferentes perfis de usinas térmicas a gás , que podem ser tanto atendendo a base como a ponta do sistema”, afirmou o diretor Rodrigo Limp, da Agência Nacional de Energia Elétrica.

No ano passado, a Aneel aprovou aperfeiçoamentos nas regras que tratam da aplicação de penalidades por falta de combustível e também o pagamento de receita às térmicas pela prestação do serviço de geração complementar de energia para manutenção da reserva operativa. “Estamos avançando, mas ainda temos um longo caminho a percorrer”, observou o diretor.

O superintendente de Infraestrutura e Movimentação da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustiveis, Hélio Bisaggio, disse que a geração de energia elétrica é um dos possíveis usos para o gás, e é necessário incentivar o aproveitamento da produção nacional, especialmente com soluções criativas de utilização do insumo, como a do projeto Marlim.

Ele lembrou que o gás previsto nos 52 projetos de térmicas cadastrados inicialmente para o próximo leilão A-6 era majoritariamente importado. “Seriam necessários mais de 160 milhões de metros cúbicos de gás, e o que a gente vê desse leilão é que da oferta apenas 14% dos empreendimentos utilizavam gás natural nacional, 1% gás importado da Bolívia e os outros 85% é GNL(Gás Natural Liquefeito)”.

O diretor de Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis da Empresa de Pesquisa Energética, José Mauro Coelho, observou que dentro das discussões do GT de Integração é fundamental estudar modelos de negócio que permitam o aproveitamento do gás natural produzido em território brasileiro e a ampliação da malha de gasodutos, que tem apenas 9,4 mil km e não permite a interiorização do energético.

O subsecretário de Planejamento, Energia e Loteria do Ministério da Economia, Leandro Caixeta Moreira, afirmou que a tendência da matriz energética é de que ela seja cada vez mais elétrica. O carro chefe da mudança no setor de energia é a descarbonização, em um cenário de fontes de geração eólica e solar mais competitivas, mas ainda dependentes de uma fonte firme para estabilizá-las, na ausência de baterias. Com as dificuldades de construção de novas hidrelétricas, a aposta natural parece ser o gás, afirmou o representante da Economia.

Executivos do setor privado trouxeram para o debate experiências e reflexões sobre modelos de reestruturação do setor de gás adotados em outras partes do mundo, a questão tecnológica, a transição para um futuro de energia renovável, com predominância das fontes solar e eólica, e a inserção das térmicas nesse processo.

O presidente da Wärtsilä no Brasil, Jorge Alcaide, afirmou que existe um mercado estável, com crescimento contínuo dessas fontes no mundo inteiro, e o mundo caminha para uma participação 100% renovável. As duas consequências principais desse novo cenário são grandes oscilações na energia produzida ao longo do dia e o desafio de operar o sistema nessas condições. “Esse desafio vai ao encontro da discussão sobre flexibilidade”, destacou o executivo.

Para Alcaide, é necessário se preparar para usinas que trabalham pouco durante o ano, mas ligam e desligam muitas vezes para compensar a variabilidade das fontes intermitentes. Ele deu o exemplo de uma usina de 160MW da Wärtsilä no Texas (EUA) que foi acionada 1192 vezes no período de um ano, com pelo menos três entradas por dia. Alcaide vê no Brasil potencial para conversão de usinas a óleo para gás.

Newton Duarte, presidente da Associação das Industrias de Cogeração de Energia, apresentou exemplos de projetos de cogeração existentes no pais e falou de possibilidades como substituição do diesel e instalação de usinas híbridas. Armando Juliani, da Siemens, também citou o exemplo de uma planta de partida rápida desenvolvida pela empresa que usa pouca água, tem baixo nível de emissões e gera de maneira contínua. Para Juliani, a geração do futuro será descentralizada e próxima da carga. “Não pensamos mais em produzir grandes blocos de energia.”

Olivier Duprat, da Engie, relatou as experiências da empresa no uso de tecnologias de armazenamento de gás na Europa e apontou a estocagem como uma ferramenta importante e de bastante valor para a situação do Brasil. Ele citou como vantagens a possibilidade de entregar o produto no momento em que ele for demandado; confiabilidade, por ser uma tecnologia aprovada; e mitigação dos riscos de acidente. A Engie tem 21 instalações de estocagem de gás no subsolo na França, Alemanha e Inglaterra.

Entre os especialistas que participaram dos debates estavam ainda Alexandre Americano, da Mercurio Partners; Celso Silva, da Golar Power; Guilherme Penteado, da GNA e Guilherme Perdigão, da Shell. Eles também trataram de novos modelos de negócios, estruturação da cadeia de gás natural para atendimento a térmicas, suprimento, alternativas de monetização e armazenamento de gás. Em seguida Andrew Haynes, da Angra Energy Partners; Damian Popolo, da Eneva ; Álvaro Tupiassú, da Petrobras e Pedro Bittencourt, da GreenAnt, falaram sobre integração entre os setores, contratação e regras de mercado.