Um dos principais players do setor elétrico brasileiro na atualidade, o Grupo State Grid pode ampliar o escopo do seu plano de investimentos no país com uma possível entrada no processo de desestatização da Eletrobras, que o governo federal pretende realizar no segundo semestre do ano que vem. Em entrevista coletiva realizada nesta quinta-feira (17) na sede da empresa, no centro do Rio de Janeiro, executivos das principais subsidiárias brasileiras ligadas ao conglomerado chinês detalharam os investimentos realizados desde 2010 no mercado nacional, e apontaram as perspectivas de novos negócios – entre os quais pode constar a entrada na operação de privatização da Eletrobras.

“Não temos neste momento detalhes sobre (a privatização da) Eletrobras, como serão as discussões no Congresso e qual será o modelo final desse negócio, mas, se for algo que esteja em conformidade com o nosso plano de expansão, por que não?”, comentou o presidente da State Grid Brazil Holding (SGBH), Chang Zhongjiao. Ele destacou que a companhia tem interesse direto em operações de M&A (fusões e aquisições) no mercado de energia elétrica que se adequem às diretrizes do plano de investimentos, que ao longo da última década passou especialmente pela compra de Sociedades de Propósito Específico nas áreas de geração e transmissão e pela aquisição da CPFL Energia em 2017.

O executivo explicou que não há um modelo único e estanque que agrade à empresa em torno das negociações para a venda da maior empresa elétrica do Brasil, na medida em que a State Grid tem ampliado a sua participação no mercado brasileiro de maneiras diversas em determinados projetos e ativos, tanto como acionista única quanto em forma de parceria com outras empresas. Exemplo disso ocorreu na viabilização do sistema de transmissão de Belo Monte, que interliga a hidrelétrica de 11.233 MW no Pará à região Sudeste. O braço brasileiro da gigante chinesa está presente em dois tipos de modelo de negócio nos dois bipolos que compõem o mega-empreendimento.

No bipolo 1, em operação desde dezembro de 2017 com aproximadamente 2.100 quilômetros de extensão, a empresa detém 51% de participação no consórcio BMTE, ao lado de Furnas e Eletronorte – cada uma com 24,5% do negócio. Já no bipolo 2, que entrou em operação comercial no último dia 14 de outubro, a State Grid foi é a única acionista e investidora, com 100% de participação. O projeto recebeu investimentos totais R$ 9,6 bilhões da SGBH. O linhão do bipolo 2, com 2.539 quilômetros de extensão entre os municípios de Altamira (PA) e Paracambi (RJ), é considerado o maior do mundo entre os de ultra-alta tensão – que operam na faixa igual ou acima de em 800 kV.

A segunda linha do sistema associado à usina de Belo Monte, que atravessa 83 municípios em cinco estados do país, integra o portfólio de 23 concessões de transmissão nos quais o Grupo State Grid atua no Brasil, somando mais de 15 mil quilômetros. A carteira pode ser ampliada em dezembro deste ano, após o leilão de transmissão que será promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica e no qual SGBH faz planos para aquisição de projetos. Segundo Zhongjiao, o Brasil representa hoje uma fatia de 60% dos investimentos da State Grid fora da China, totalizando US$ 12,4 bilhões. O valor dos ativos de geração, transmissão, distribuição e comercialização no país é de US$ 25 bilhões.

Relatório de sustentabilidade

Durante o evento no Rio, que contou com a presença de executivos das subsidiárias no país, a State Grid lançou a primeira edição do Relatório de Sustentabilidade das atividades desenvolvidas no Brasil, que incluem ações de apoio nas áreas social e ambiental. De 2017 a 2019, a holding investiu R$ 9,6 milhões na recuperação de áreas degradadas onde atua, e prevê mais R$ 8 milhões em 2020. A empresa patrocinou ainda o replantio de cerca de 295 hectares dos biomas Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica entre 2016 e 2019. Na vertente social, a State Grid apoia desde 2011 a Orquestra Maré do Amanhã, que atualmente integra cerca de três mil crianças e jovens que residem na comunidade carioca.