A EDP lançou oficialmente o projeto que implantará a primeira rede de recarga ultrarrápida para veículos elétricos no país. Participam 10 empresas deste empreendimento que deverá consumir R$ 32,9 milhões ao longo de três anos e que ao ser finalizado integrará as regiões sul e sudeste em uma rede de abastecimento elétrico em uma área equivalente ao Reino Unido ou Itália. A iniciativa é uma das aprovadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica na chamada pública de mobilidade elétrica que soma ao total cerca de R$ 450 milhões.
A divisão local da empresa portuguesa é responsável por três projetos contemplados que juntos representam cerca de 10% dos valores que serão investidos. E o lançado nesta terça-feira, 22 de outubro, é o maior deles. Envolve ainda três fornecedoras de carregadores elétricos, a ABB, Siemens e Efacec (por meio da Electric Mobility Brasil), bem como as montadoras Porsche, Audi e Volkswagen. E do lado acadêmico, o Gesel-UFRJ.
O projeto é constituído pela implantação de 30 novas estações de recarga ultrarrápida de veículos elétricos cobrindo todo o estado de São Paulo em sete diferentes rodovias. Assim será possível conectar um total de 64 pontos de carregamento que interligam São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória, Curitiba e Florianópolis, formando um corredor de abastecimento de automóveis elétricos com mais de 2.500 quilômetros de extensão. Os equipamentos que serão utilizados possuem potência de 22 kW, 150 kW de 350 kW que são capazes de abastecer uma bateria até 80% de sua capacidade entre 25 e 30 minutos.
De acordo com o CEO da EDP, Miguel Setas, a companhia será responsável por 78% dos aportes no projeto. Os 22% restantes divididos entre os parceiros nessa empreitada que começa a ser implementada ainda este ano e as primeiras inaugurações estão programadas para 2020. A conclusão é prevista para daqui a três anos.
“Esse projeto surge da experiência de duas experiência que já temos nesse campo. O primeiro é o corredor elétrico entre São Paulo e Rio de Janeiro e o segundo ainda em implantação é o corredor elétrico com oito eletropostos no Espírito Santo, onde atuamos na distribuição de energia”, disse o executivo no evento de lançamento.
Setas afirmou que os eletropostos que já foram alvo de projeto de mobilidade da empresa não entram na conta desse projeto. Assim como as duas iniciativas originais da empresa, a distância entre os pontos não deverá ultrapassar 150 km de distância, facilitando o deslocamento em toda essa região já que as baterias dos veículos das montadoras parceiras nesse projeto atendem tranquilamente a essas distâncias.
Ao final desse P&D, o objetivo é de estudar e desenvolver um modelo de negócio e de cobrança, aplicável a todo o território nacional, para a venda de soluções de carregamento para o cliente final, além de aplicações tecnológicas para informar os condutores de veículos elétricos sobre a localização e disponibilidade dos postos de recarga de cada região, com a possibilidade de reserva antecipada. Assim como nos projetos anteriores não há cobrança pelo recarregamento dos veículos elétricos.
Paralelamente, explicou a empresa, também será pesquisado um modelo de oferta de serviços para motoristas de aplicativos. Por fim, os estudos realizados no âmbito do P&D permitirão criar e aperfeiçoar um carregador móvel para socorrer os condutores, cujas baterias descarreguem antes de chegar a um eletroposto.
Avanço dos elétricos
A parceria com três montadoras não veio ao acaso. Todas as parceiras, cuja origem é na Alemanha, estão com planos de seguir pelo caminho dos carros elétricos híbridos ou puros no país. No caso da Audi, a ideia é de lançar no país seu primeiro modelo elétrico, um SUV até maio do ano que vem. No mundo a empresa planeja colocar no mercado 30 modelos eletrificados até 2025.
Andreas Marquardt, diretor-presidente da Porsche Brasil, lembrou que a montadora lançou recentemente o Taycan, primeiro esportivo puramente elétrico da marca. O modelo chegará ao mercado em 2020 e com a estação de carregamento rápido de 350 kW é capaz de carregar 80% da bateria em 22,5 minutos, o equivalente a um alcance aproximado de 400 quilômetros.
O presidente e CEO da Volkswagen América Latina, Pablo Di Si, lembrou que os planos da montadora para a região que lidera são mais agressivos. Em termos globais a empresa tem um plano de investimentos de 9 bilhões de euros a serem aplicados até 2023 para o desenvolvimento de 20 modelos. A meta é de ter 1 milhão de unidade elétricas comercializadas por ano a partir de 2025. Somente na América Latina serão seis modelos como o Golf híbrido cuja autonomia, segundo dados apresentados pelo executivo, é de 900 km.
Essas ações vêm na esteira de outras que começaram ainda no Salão do Automóvel de 2018 e que foram se acumulando ao longo dos meses. Montadoras como a Nissan, GM e mais recentemente a JAC Motors apresentaram seus produtos para este mercado. Apesar desse número crescente de opções o preço ainda é visto como uma barreira, afinal, de todos o mais barato ainda está na casa de R$ 120 mil para um modelo equivalente a um carro compacto nacional.
O executivo da Volkswagen apontou que esse fator é momentâneo e depende da evolução das vendas. Quanto maior o volume de mercado, menor o preço fica em uma lei natural da economia de escala. Pessoas ligadas à indústria apontam que a estimativa é de que em mais dois anos os preços recuem a patamares abaixo dos R$ 100 mil.
Veículo elétrico sendo recarregado em São Paulo
Esses investimentos que começam a ser feitos nesse momento preparam o país para atender a demanda futura. André Clarck, CEO da Siemens, destacou que no Brasil em apenas cinco ou seis cidades vive uma parcela significativa da população e que a transição energética pela qual o mundo vem passando tem como objetivo deixar esses ambientes mais limpos, mais silenciosos e eficientes. E, acrescentou o presidente da ABB, Rafael Paniágua, nesse sentido, os veículos elétricos ganham um capítulo especial no setor de energia por estar na eletrificação o futuro da mobilidade.
De acordo com uma recente pesquisa publicada pela Bloomberg New Energy Finance (BNEF), os veículos elétricos representarão 57% das vendas em todo mundo até 2040, com mais de 56 milhões de unidades, contra os dois milhões registrados em 2018. Paralelamente a esse movimento, o mercado de automóveis a combustão deve encolher para 42 milhões de unidades em pouco mais de duas décadas, ante os 85 milhões registrados no ano passado.