Com o avanço da geração descentralizada ocorrendo a passos largos, perspectiva de modernização do setor e abertura do mercado uma pergunta que vem permeando as discussões do setor elétrico é qual será o futuro da geração centralizada. Na avaliação de especialistas reunidos esta semana em São Paulo, durante o evento bianual Brazil Energy Frontiers, promovido pelo Instituto Acende Brasil, a resposta é as duas modalidades deverão ainda conviver e formar a expansão do setor no futuro.
É unânime a avaliação de que a expansão no país se dará majoritariamente por meio das renováveis, solar e eólica. Inclusive, os dados da GD solar vêm se destacando no momento com a expansão acima do que se esperava. Semana passada, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica, essa modalidade ultrapassou 1,5 GW de potência instalada, a maior parte, viabilizada a partir de 2015 com a REN 687. Além disso, a expansão nos leilões mostra a predominância das renováveis na matriz o que acende o sinal de alerta quanto a necessidade de termos energia firme no sistema.
Acontece que a contratação por preços mais baixos pode trazer um problema. A questão dos atributos de cada fonte. Nesse sentido, lembrou o presidente da PSR, Luiz Barroso, temos a batalha do século no setor elétrico que atende pelo acrônimo LCOE – ou, em inglês, o levelized cost of energy – que refere-se à comparação de forma equânime para saber qual é a fonte mais vantajosa do ponto de vista econômico.
No Brasil, comentou ele, a mudança será mais sofrida por conta do legado, são pontos que ainda estão em aberto no setor e que não são de fácil resolução, como o MRE, cotas e as diversas especificidades que são nossas. Além disso, na questão das redes, englobando transmissão e distribuição, deve existir a integração quando se pensa no planejamento para a aplicação de novos critérios probabilísticos. Assim, é possível ter o sinal de preços para diferentes serviços e produtos que virão em decorrência da maior granularidade do preço.
“A expansão do futuro não será apenas centralizada ou distribuída será uma integração entre as duas formas de atuar no mercado”, definiu Barroso. “Para alcançar o planejamento, operação e a regulação adaptados para lidar com esta nova configuração do sistema, flexibilidade na regulação e cultura do mindset são necessários”, acrescentou.
De acordo com o Instituto Acende Brasil, a flexibilidade realmente é cada vez mais importante. Na avaliação da entidade, o setor precisa chegar à tarifa binômia, separando de uma vez a questão da infraestrutura de rede da energia. Isso porque o avanço tecnológico é inexorável e chegará. São oportunidades de negócios em áreas novas com a introdução de baterias, um dispositivo que será relevante no processo de expansão da GD. Aliás, destacou a entidade, o planejamento do sistema com o aumento da inserção da geração distribuída desafia o modelo que considera a geração centralizada e a contratação por leilões para o mercado regulado por conta da introdução da incerteza como uma das variáveis.
Um movimento que começamos a ver no exterior e que foi apresentado durante o evento por Barroso, da PSR, é o chamado hosting capacity. Esse conceito ainda é novo e envolve a distribuidora de forma mais incisiva na questão do planejamento. A GD acaba entrando como uma forma de auxiliar no desenho da rede. Para o presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Thiago Barral, esse desafio que vemos em outros mercados chegará ao Brasil sim. Em sua avaliação, a interação entre a transmissão e a distribuição precisa evoluir.
“A GD afetará a forma do Operador operar o sistema com a inserção dos montantes de recursos distribuídos. Essa é uma frente nova de planejamento na expansão e da operação e não é exclusividade nossa, é um desafio mundial”, comentou ele após sua participação no Brazil Energy Frontiers. “Atualmente não temos análise detalhada no nível da distribuição e a interação será maior com o ONS. Mas vamos buscar identificar nos próximos anos o planejamento da expansão, esse é um aspecto importante. Quando olhamos a expansão decenal o crescimento da GD é uma variável exógena obtida a partir de um modelo comportamental relacionado à escolha de um consumidor, nesse sentido uma evolução que a gente tem no horizonte é fazer exercícios de modelagem de forma endógena encontrando os níveis ótimos de GD e a representação dessas redes são fundamentais nessa análise, mas ainda não temos a modelagem”, acrescentou.
Barral finalizou ao afirmar que no futuro as distribuidoras deverão ter um papel mais ativo na questão do planejamento ao ter mais informação das características da rede, assim como terão maior participação na operação do sistema. “A distribuidora do futuro terá como um dos desafios compreender sua rede, implantar tecnologias visando a gestão”, opinou.