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Com um aporte de aproximadamente R$ 161 milhões aplicados nos últimos cinco anos na área de P&D, sendo R$ 48 milhões somente em 2018, o Grupo Neoenergia planeja elevar consideravelmente seus investimentos para o segmento em 2020 e para os próximos anos, num esforço que será “substancialmente maior”, segundo o gerente corporativo de P&D da Neoenergia, José Antônio Brito, que conversou com a Agência CanalEnergia sobre os principais projetos e rumos do programa de inovação da empresa, destacando o plano estratégico de direcionar esforços para eixos como qualidade, eficiência operacional, tecnologias inteligentes, segurança e sustentabilidade dos negócios.
Uma outra abordagem, e que atende a solicitação da Aneel, é desenvolver produtos que sejam utilizados tanto pelas empresas quanto para disponibilização ao mercado, trazendo resultados de relevância para o setor elétrico brasileiro. Um desses é o chamado Desenvolvimento de Tecnologias para Redes Inteligentes, que já resultou em diversos produtos patenteados e comercializados para as subsidiárias do Grupo e para o mercado em geral. O principal é um sensor para redes de distribuição que passou por diversos aperfeiçoamentos e que tem uma aplicação tanto para a atualidade quanto na eficiência operacional, combatendo as perdas e fraudes de energia.
Brito afirma que a solução foi adaptada para se comunicar com aplicativos que trabalham com analytics e que acessam várias informações que antes eram coletadas de maneira independente. “Com base nesses dados, direcionamos melhor nossos investimentos para melhorar a qualidade e as perdas em relação ao sistema”, resume, afirmando ser o projeto mais bem sucedido da carteira de P&D da empresa, tanto do ponto de vista de aplicação quanto de comercialização e obtenção de royalties e premiação.
Neste ano inclusive, um dos aplicativos foi apresentado no evento Cired, em Madri, sendo o único trabalho brasileiro do evento selecionado para ser apresentado em plenário. A iniciativa também foi reconhecida como melhor trabalho docente de 2018 em uma premiação nacional, com base na qualidade de Recuperação de Receita, levando também a medalha de olho no Latin América Utilites, realizado em 2016 em São Paulo. Em termos de comercialização, foram mais de 2 mil unidades vendidas através da fabricante Tecsys, parceiro industrial da Neoenergia nesse projeto.
Sensor para redes de distribuição é considerado o grande trunfo do programa de P&D da empresa (foto: Neoenergia)
Perdas e danos
De acordo com o gerente, numa etapa posterior, foi destinado mais um aporte de R$ 45 milhões para transformar o plano estruturante em um mais abrangente, cuja maior parte já foi realizada, do qual o sensor e os aplicativos associados fazem parte. As perdas comerciais e técnicas passaram a ser melhor identificadas por meio da análise de muitos dados, que usam mapeamento do calor para selecionar as áreas de maior incidência dessas ocorrências. “Conhecendo essa relação, fica mais fácil direcionar os investimentos em áreas prioritárias”. A preocupação com a questão decorre dos diversos casos de fraudes e irregularidades que as concessionárias passam diariamente. Um exemplo é o episódio recente de uma rede com cinco hotéis em Salvador, todos do mesmo dono, e que estava roubando energia da rede.
José Antônio conta que durante uma inspeção de blindagem do sistema em um bairro da capital baiana, para tornar inacessível os medidores, foi constatado ao longo do tempo um desvio de 10%, com as equipes da área de fraudes achando inicialmente se tratar de problema da tecnologia, pois tudo havia sido revestido. Ao chegar ao local, notaram que estavam sendo feitos gatos diretamente do sistema de iluminação pública.
É por conta desses casos que a companhia também desenvolveu um padrão de blindagem para não permitir mais situações como essas. Com o sensor, que está sendo utilizado para qualidade e recuperação de receita, foram descobertas outras irregularidades curiosas e ousadas, como uma subestação clandestina de energia de 1 MVA. “É um equipamento que permite boas análises, sem necessariamente precisar utilizar os medidores eletrônicos dos clientes”, lembra.
Outro projeto tocado atualmente é o aperfeiçoamento do caminhão com braço robótico para podas de árvores, responsável por resolver um dos principais itens de custeio da distribuidora: a vegetação na rede. “A companhia está buscando parcerias com fabricantes para comercializar, temos patentes depositadas tanto aqui no Brasil quanto nos Estados Unidos”, informa.
Relação da vegetação com a rede elétrica demanda esforços da área de distribuição da companhia (foto: Neoenergia)
Fernando de Noronha e Bahia
A lista de projetos mais interessantes da companhia é completada pelo sistema de armazenamento de energia que está sendo implementado na ilha de Fernando de Noronha (PE), e que possui uma matriz com o biodiesel como principal fonte, sendo complementada por painéis fotovoltaicos. “Tudo que pudermos fazer para reduzir o consumo estaremos contribuindo para redução de custos e menor impacto ambiental”, pondera. Avaliado em R$ 20,8 milhões, o programa de desenvolvimento elétrico na ilha paradisíaca também tem uma geração centralizada prevista. “É uma demanda muito maior, apesar de ser um sistema isolado, devido aos turistas”, justifica.
Brito conta que já há uma rede de armazenamento instalada na Ilha, na Usina Termelétrica de Tubarão (4,2 MW), significando a otimização da utilização do consumo de diesel pela usina, o que acaba reduzindo a conta do combustível, as emissões de CO2 pelo empreendimento e a dependência da energia térmica, provendo maior sustentabilidade ambiental ao ativo e a região. “Como foi um projeto piloto, ele está dando indicativos muito bons”, revela.
Após avaliação criteriosa, a Neoenergia identificou que a geração distribuída aliada ao armazenamento pode contribuir em muito para redução do consumo do combustível na localidade, visto tornar a curva de carga mais plana para o gerador. “Se evita tanto os vales durante o dia, no momento que carrega a bateria, e entra a noite. A economia é da ordem de 5%, e isso é muito significativo”, calcula, afirmando que a expectativa é de que seja inaugurado até o final do ano. Ele lembra que a ilha também conta com duas usinas solares, Noronha 1 e 2, num sistema composto por dois módulos com tecnologia de armazenamento em baterias em íons de lítio, cada módulo com 280 kW de potência.
Outra iniciativa na linha de sustentabilidade e na relação com a sociedade é o conhecido programa Luz para Todos, que no caso da Bahia é o maior do país, sob orientação da Coelba, e que prevê a extensão da rede e sistemas individuais de geração solar. No entanto a concessionária identificou e aprovou um projeto para examinar um outro tipo de padrão: sistemas centralizados de energia solar e armazenamento com baterias para atender as casas das famílias.
Segundo o executivo, uma vez comprovando a viabilidade econômica quando comparada a outros padrões, a adoção da padronização será debatida com a Eletrobras e o Ministério de Minas e Energia. “São várias localidades no interior baiano, em áreas remotas e isoladas da rede, como Casa Nova, Sento Sé e Augustina. Levar uma extensão de rede de 20, 30 Km é um impacto do ponto de visto de custos e do regime tarifário alto”, avalia. A ideia é procurar alternativas que atendam tecnicamente e que sejam razoáveis do ponto de visto econômico.
UFVs em funcionamento na ilha abastecem imóveis e recarregam baterias para geração após o por do sol (foto: Neoenergia)
Atendimento ao cliente
Uma das novidades de P&D do Grupo é um projeto estruturante que será iniciado ainda este ano na área comercial da empresa e voltado para o lado do consumidor, nas quatro regiões de concessões. Chamado de Transformação Digital da Experiência do Cliente, prevê múltiplos objetivos utilizando principalmente os conceitos de assistência virtual e inteligência artificial, robotização de processos, monitoramento em tempo real dos consumidores e ferramentas analíticas para verificar a melhor maneira de prestar o serviço.
A proposta inclui a parte de segurança cibernética, inclusive um novo módulo está sendo desenvolvido um concentrador de comunicação, com hardware e software para garantir a segurança dos equipamentos de rede, tanto concentradores de medição quanto medidores, o que está alinhado com a política global da Iberdola para o assunto.
“Há muito tempo abandonamos aquela ideia dos projetos muito acadêmicos. Isso pra gente é importante, mas secundário no momento. O que interessa são produtos inovadores, não adianta ter boas ideias e não as executar. Inovação é isso”, define o dirigente, complementando que o conceito de machine learning ou aprendizado paralelo voltado para ferramentas de prospecção de mercado será utilizado. “O Brasil com suas variáveis macroeconômicas nos faz buscar e melhorar as ferramentas para previsão de mercado”, comenta.
Perguntado sobre parceria com startups, Brito conta que há uma área de inovação voltada para esse tipo de negócio com horizonte mais curto e custo reduzido, independente do programa de P&D da Aneel, que não prevê ainda esse tipo de projeto, mas que abriu uma consulta pública para debater sobre os mecanismos de investimentos e os aportes diretos em startups.
“Propomos um conceito de inovação que tem que ser mais abrangente, o que importa é que tenhamos um produto implementado e que ele significa melhoramento de processos e desempenhos operacionais. Se é através de métodos tradicionais ou outros mais arrojados não importa: importa é esse objetivo final”, pontua, contando que de uma maneira geral as empresas apoiaram esse tipo de abrangência e é provável que no próximo manual de P&D da Aneel esse modelo seja incluso.