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O governo tenta construir um modelo de parceria para Angra 3 que atenda a exigência legal de manter a Eletronuclear como majoritária no empreendimento e garanta, ao mesmo tempo, participação relevante a um investidor privado. Ele entraria não apenas com o apoio financeiro mas também deve agregar expertise na operação de plantas nucleares, afirma a secretária especial do Programa de Parcerias de Investimentos, Martha Seillier.
“Temos alternativas de investidores para casar conosco nesse projeto, e a modelagem vai fazer muita diferença. Então, acho que esse é o desafio agora: encontrar uma modelagem que permita dar segurança para esse investidor e traga os recursos necessários para finalizar o empreendimento”, disse em entrevista à Agência CanalEnergia. A expectativa do governo é de que o leilão para a escolha do parceiro seja realizado no segundo semestre de 2020.
Servidora de carreira e especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, Martha está à frente do PPI desde julho desse ano, quando o programa foi transferido da Secretaria de Governo para a Casa Civil da Presidência da República. Ela explica que a transferência também significou mudança de foco, com a busca para ampliar a abrangência da carteira de projetos; apoiar estados e municípios em seus programas de concessões e privatizações e desenvolver parcerias com a iniciativa privada em setores ainda pouco explorados, como saneamento básico.
Desde que o governo declarou o linhão de interligação de Roraima estratégico, um grupo coordenado pela secretaria do PPI tem se empenhado em avançar com a Licença de Instalação do empreendimento. A ideia é de que o licenciamento ambiental esteja equacionado, independentemente do desfecho da disputa entre o concessionário e a Agência Nacional de Energia Elétrica em torno do valor necessário ao reequilíbrio econômico-financeiro da concessão. Há uma discussão em andamento nas esferas administrativa e judicial sobre o assunto.
Outro tema importante da agenda é a privatização da Eletrobras, cujo projeto de lei foi enviado à Câmara dos Deputados. A secretária lembra que, sem os recursos da capitalização, a estatal não terá como realizar no ano que vem os R$ 14 bilhões em investimentos necessários para manter a competitividade e a fatia de mercado. Os investimentos totais previstos na lei orçamentária de 2020 somam R$ 19 bilhões. “As estimativas dizem que talvez ela (Eletrobras) tenha condições de investir R$ 3 bi. Ou seja, muito aquém do que se precisa. Esses números, essa avaliação, é que a gente vai precisar levar para o Congresso, para discussão com os parlamentares.” Veja abaixo a entrevista:
Agência CanalEnergia: O que mudou basicamente com a ida do PPI para a Casa Civil? Houve um reforço no programa?
Martha Seillier: Sim. Houve um reforço no programa, houve um reforço no papel de coordenação do PPI, porque é atuação clássica da Casa Civil fazer a coordenação de governo. Então, esse papel de sentar com os ministérios, entender as prioridades, dialogar, coordenar, ficou muito reforçado com a vinda do PPI para dentro da Casa Civil da Presidência da República.
O ministro Onyx [Lorenzoni] também nos deu um desafio importante de diversificação da carteira. Pediu para o PPI sair um pouco da zona de conforto daquilo que ele já sabia e já acompanhava há bastante tempo para começar a estruturar parcerias em novas áreas ou apoiar parcerias em áreas que contavam com pouca possibilidade de parceria com a iniciativa privada, ou que ainda não tinham projetos qualificados no âmbito do PPI.
Nos pediu para focar muito também no apoio aos subnacionais, porque temos uma agenda superimportante de prestação de serviços públicos por empresas públicas ou por autarquias no âmbito dos estados e dos municípios. E até então o PPI era muito focado em concessões e privatizações do que era de competência do governo federal. E hoje nós estamos com um programa muito focado também em apoiar os programas de desestatizações, de concessões dos estados.
Então, o PPI tem dialogado com o que a gente chama dos PPIs estaduais, que é um movimento interessante que a gente tem visto também, que os governos estaduais estão criando seus PPIs. Então, tem o exemplo do PPI de Santa Catarina, que a gente tem tido uma ótima interlocução, em que está buscando apoiar projetos de presídios, projetos de mobilidade urbana, projetos de creches e educação infantil, iluminação publica. Enfim, toda uma agenda, de resíduos sólidos, de políticas que são subnacionais, mas que a experiência de parcerias que o PPI tem no governo federal tende a ajudar muito os estados, e até mesmo os municípios, a avançar com parcerias.
Então, o PPI entra não só com expertise, mas, às vezes, com toda a parte de estruturação. Por exemplo, saneamento básico, que é uma agenda superimportante para o país para trazer investimento privado. Como não é de competência do governo federal, o que o PPI pode fazer? Sentar com os municípios, tentar convencê-los a optar por uma concessão à iniciativa privada, consorciar esses municípios para ganhar escala, trabalhar os estudos de viabilidade por eles. Então, trabalhamos em conjunto com o BNDES, por exemplo, com a Caixa Econômica, para ter esse apoio de estruturação, estudo de viabilidade técnica-econômica-ambiental, estudos de engenharia, para ajudar em todo o processo, porque o processo de concessão e desestatização leva tempo e é complexo. A ideia é que a gente possa levar isso para os subnacionais para incentivá-los a fazer mais parcerias.
Agência CanalEnergia: Principalmente os municípios, eles tem muita dificuldade em fazer qualquer tipo de projetos não é? Falta know how, assessoramento adequado…
Martha Seillier: Falta equipe técnica, falta conhecimento do assunto. E como o governo federal tem um histórico de realizações de parcerias e também de diálogo muito importante com o Tribunal de Contas [da União], com o Congresso, certamente ajuda os municípios a encurtarem caminhos, já levando as melhores práticas, experiências do que dá certo, do que não dá, do caminho que considera mais adequado, mais célere. Então, a ideia é realmente ajudá-los a cortar caminho para seguir em frente com mais parcerias.
Essa seria a principal mudança do PPI antigo para o PPI de hoje. Essa maior abrangência da carteira, esse maior apoio aos subnacionais e essa busca por novas parcerias com a iniciativa privada em setores que eventualmente ainda tem muito pouco, como é o caso do saneamento básico.
Agência CanalEnergia: A gente sempre associava o PPI à área do ministro Tarcísio de Freitas, de Infraestrutura, que tinha muito projeto, mas na área de logística e transporte. Era basicamente nessa área de transporte que estava acontecendo muita coisa. Agora, a tendência é abrir mais esse leque?
Martha Seillier: Isso. A gente continua firme em tudo aquilo que é tradição do PPI, que é rodovias. A carteira de rodovias está bem cheia, vamos dizer assim. Tem 16 mil km de rodovias em estruturação hoje. É muito desafiador, porque é mais do que o Brasil já concedeu à iniciativa privada em termos de rodovias o que a gente está estruturando hoje. A carteira de aeroportos também está a pleno vapor, porque esse ano foram concedidos 12 terminais e ano que vem a gente está estruturando mais 22. 2021 já tem um pipeline de mais 22 aeroportos. Então, realmente é uma carteira robusta de concessões.
Setor portuário também sai com arrendamentos diários dentro dos portos públicos. Foram feitos 13 leilões esse ano. Seguimos com vários processos de arrendamento em fase de estruturação e provavelmente vamos qualificar mais algumas áreas agora na reunião de novembro, mas a novidade da atuação do PPI no setor portuário esse ano e que, de mãos dadas com o Ministério da Infraestrutura, a gente está começando a modelar a venda do porto como um todo. E isso é novidade, porque até então você tinha o administrador portuário público, que é a companhia docas, e leiloava-se espaços dentro dos portos públicos para a realização de algumas atividades específicas. Então, às vezes para a exploração de granéis líquidos, sólidos, contêiner, enfim, com obrigações de investimento por parte do privado.
O que a gente está estruturando hoje, além de continuar com esse processo em áreas portuárias, é a venda do porto organizado como um todo. Estamos estudando qual seria o melhor caminho. Se seria conceder esse porto por 30 anos para a iniciativa privada, se seria privatizar de fato a companhia docas para um privado fazer a gestão daquele porto, sem prazo da concessão. Tudo isso esta sendo analisado hoje no âmbito do PPI com o Ministério da Infraestrutura para o setor portuário.
Então, acho que vai dar um grande passo em termos de melhora de eficiência e de parceria com a iniciativa privada nesse setor. A gente tem três portos em reestruturação hoje, e um deles é o porto de Santos, que é o maior porto da América Latina. Então, quando viajamos para esses road shows para conversar com os investidores é muito no sentido de levar essas oportunidades para que eles saibam dessa estruturação. Porque eles também demandam tempo para avaliar, entender, estudar o porto. Então, não é ideal chegar num país apresentando projetos apenas aqueles que já vão acontecendo naquele ano ou no ano seguinte. O ideal é já começar a sinalizar projetos que estamos começando a estudar, a estruturar, que vão levar algum tempo para conseguir levar a leilão, para que eles também comecem a se estruturar e fazer os seus estudos etc, para que tenha mais interessados no leilão.
Agência CanalEnergia: E os projetos do setor elétrico? Finalmente foi enviado ao Congresso o projeto da Eletrobras; tem a questão de Angra 3, que o PPI também está envolvido nessa discussão de modelagem de parceria; e tem a questão do linhão de Roraima. São os projetos mais estratégicos.
Martha Seillier: A gente tem uma área aqui no PPI que foi criada para ajudar os projetos estratégicos do governo a terem um apoio para licenciamento ambiental e desapropriações. Que era sempre um gargalo em grande obras de infraestrutura. É o caso do linhão. O licenciamento ambiental atrasou esse processo desde que teve a concessão do linhão para as empresas, que não conseguiram avançar com esse licenciamento e hoje tem toda uma discussão acontecendo inclusive no âmbito da Justiça e relação aos valores que a Aneel aceitou rever por conta do atraso do licenciamento. A concessionária postou lá um outro valor, então está tendo uma disputa em relação a isso.
Enquanto isso, o que o PPI pode fazer e tem priorizado? Correr atrás da licença de instalação. Esse mês mesmo, acho que dia 12 [entrevista realizada semana passada], vai ter uma reunião importante com os indígenas que estão avaliando o Plano Básico Ambiental. Esse Plano Básico Ambiental é uma etapa primordial para conseguir avançar com a Licença de Instalação, e o time do PPI, que é a secretária Rose, está 100% envolvido para que isso aconteça o quanto antes. Dessa forma, assim que tiver a resolução da questão dos valores, que é uma disputa da concessionária com a agência, pelo menos a Licença de Instalação vai estar equacionada para a gente resolver essa infraestrutura tão importante. Então, de fato, é um projeto prioritário, hoje muito focado no licenciamento.
Angra 3, idem. Eu estive lá pessoalmente com o comitê que foi criado para ajudar a estruturar essa solução de parceria com a iniciativa privada. Foi qualificado no PPI e, ato contínuo, criou-se um comitê interministerial que tem a presença do MME, do PPI, do GSI (Gabinete de Segurança Institucional da Presidência), que já estão com o BNDES trabalhando no apoio adicional de consultoria para buscar as melhores formas de estruturar essa parceria com a iniciativa privada.
Já foi feito um market sounding pela própria Eletronuclear lá atrás, tentando sondar um pouco quais são as empresas potenciais que teriam interesse em entrar nesse projeto. Lembrando que é uma parceria diferente das que a gente está acostuma a estruturar aqui. Normalmente, o PPI estrutura a venda de controle ou concessão completa para a inciativa privada e o setor nuclear tem imitações constitucionais, então a gente não poderia vender o controle de Angra 3. A gente está estruturando algo que mantenha a Eletronuclear como majoritária, mas que a gente consiga ter uma participação relevante de um player privado, que entraria não só com o apoio financeiro, porque é um empreendimento que ainda envolve R$ 16 bilhões para terminar a obra, mas que traga também expertise na operação de plantas nucleares etc, para estar atuando de mãos dadas com a Eletronuclear.
Hoje, a discussão dos estudos gira muito em torno de qual seria o modelo ideal e, para isso, e importante também avaliar o apetite dos players. Por isso, esse diálogo acontece com potenciais investidores. Fomos agora à China e sabemos que os chineses tem muito interesse nesse projeto. Diálogo com coreanos, russos, franceses, os próprios americanos. Então, temos alternativas de investidores para casar conosco nesse projeto, e a modelagem vai fazer muita diferença. Então, acho que esse é o desafio agora: encontrar uma modelagem que permita dar segurança pra esse investidor e traga os recursos necessários para finalizar o empreendimento.
Agência CanalEnergia: O processo do linhão tinha a expectativa de que a Licença de Instalação saísse logo, mas não saiu. A ideia era retomar no segundo semestre, mas, como o processo não é simples, ficou para 2020 já, não é?
Martha Seillier: Nesse governo, foi editado um ato que incluiu o linhão naqueles projetos estratégicos de segurança nacional, e isso permite acelerar o rito do licenciamento. Então, ajudou bastante nesse sentido. Eu acredito que com essa reunião que vai acontecer agora no dia 12 gente já vai ter condições melhores de avaliar os próximos passos do licenciamento. Mas meu sentimento é que a coisa está caminhando bem agora, com a discussão do Plano Básico Ambiental. E, superada essa questão do licenciamento, realmente agora tem a pendência da concessionária. Da discussão dos valores.
Agência CanalEnergia: E Angra? Ficou para 2020 também?
Martha Seillier: Para 2020.
Agência CanalEnergia: Segundo semestre, provavelmente, não é?
Martha Seillier: O leilão sim. Agora, a publicação do edital talvez no primeiro. Do edital para o leilão normalmente a gente busca deixar ali um prazo razoável de 100 dias. Ultrapassa às vezes os três meses para dar bastante tempo para os players se estruturarem e entrarem de fato. Então, acho que se conseguir avançar com o edital no primeiro semestre, no segundo cumpre o planejamento.
Agência CanalEnergia: E a Eletrobras? Como é que o PPI entra nessa discussão do modelo?
Martha Seilier: Eletrobras não é uma discussão nova. Desde o governo passado já se tem a percepção clara de que não é um bom caminho mantê-la como está. A participação de mercado dela reduzindo, pela própria dificuldade dela de realizar investimentos. E a gente olhando o PLOA (projeto de lei orçamentária) 2020, ou seja, o que o governo federal terá condições de investir no próximo ano, ainda com uma situação fiscal muito comprometida, e olhando o que a Eletrobras teria que investir de fato no setor para se manter competitiva, para manter a sua participação de mercado, os números não batem. A gente tem R$ 19 bilhões em 2020 para o governo federal inteiro. Portos, aeroportos, DNIT (rodovias). O que você imaginar de investimento público, a gente está falando de R$ 19 bi.
Só a Eletrobras teria que, alguns estudos dizem, investir no ano que vem R$ 14 bilhões para conseguir se manter competitiva e manter sua participação de mercado. Não investirá isso. Se a participação inteira do governo federal é R$ 19 [bilhões] de onde virão os R$ 14 bi para a Eletrobras? As estimativas dizem que talvez ela tenha condições de investir R$ 3 bi. Ou seja, muito aquém do que se precisa.
Esses números, essa avaliação, é que a gente vai precisar levar para o Congresso, para discussão com os parlamentares. Mostrar porque a capitalização da Eletrobras é tão importante para o país, para o usuário, para trazer investimentos para o setor, para ter um potencial de redução das tarifas para o usuário no fim das contas e porque a manutenção da Eletrobras como está é custosa para todo mundo. Onera todo mundo. Onera a capacidade de investimento do país, de retomada do emprego. Onera a tarifa do consumidor enfim.
O PPI teve envolvimento direto agora na discussão com o MME e a Economia na elaboração desse projeto de lei. Aproveitamos a cerimônia dos 300 dias para formalizar o encaminhamento ao Congresso. O PPI atua muito no Congresso Nacional, junto com a Secretaria de Governo da Presidência da República, para destravar os projetos que são importantes para a agenda de infraestrutura. Fazemos isso sempre de mãos dadas e coordenado com os nossos ministérios. Agora, é todo o apoio para que essa comunicação aconteça bem, esse convencimento dos parlamentares, e que esse rito seja relativamente célere para que a gente consiga aprovar esse projeto em 2020. A expectativa é essa.
Agência CanalEnergia: Como fica a posição do TCU nessa interlocução? Também vai ser um ator importante nesse processo.
Martha Seillier: Com certeza. Inclusive acho que já até pediu informações formalmente sobre o processo. A interlocução com o TCU é permanente e é muito bom que seja assim, porque a gente consegue, ao fim e ao cabo, já ir explicando, ao longo do processo, porque governo federal está tomando alguns caminhos e optando por algumas soluções. E isso ajuda quando entra na etapa formal de aprovação pelo TCU de alguns processos. Ele já tem conhecimento do histórico de porque a gente foi por um lado e não por outro, quais decisões foram tomadas e porque.
Então, as reuniões com o tribunal não acontecem só quando a gente formaliza a entrega de um estudo, edital etc. A gente começa antes. Por exemplo, parques nacionais. Ingressaram agora no PPI três parques. Nós nunca tínhamos feito concessão de parque e o próprio TCU não tem expertise em concessão de parques, porque também é novidade para eles. Então, mesmo antes de começar a ter os números, os estudos de viabilidade etc, já estamos buscando o tribunal de contas para entender como vai ser a estrutura lá, quem vai ser a equipe para a gente dialogar, quais são as preocupações deles, explicar o que a gente está fazendo desde o início, porque se de alguma forma a equipe técnica apontar algum ponto de preocupação em relação à forma como a gente está conduzindo os processos, eles não precisam nem formalizar, instruir um processo. Essa preocupação deles já nos preocupa. Já é um motivo para rever a forma como a gente está atuando e tentar alinhar os ponteiros. Diria que, na medida do possível, cada um com as suas competências, tem sido uma parceria a atuação do tribunal de contas.
E o exemplo da cessão onerosa é sempre um bom exemplo porque muitos questionam ‘ah, por que o TCU tem sempre que entrar nos processos de concessão, de privatização, acaba atrapalhando, atrasando etc’, mas, se tivessem conduzido a cessão onerosa como tinha pensado lá atrás, hoje nós não estaríamos arrecadando os R$ 70 bilhões que o governo federal vai arrecadar esse ano. E o TCU bateu muito firme no processo como ele vinha sendo conduzido lá atras. Dizendo que tinha que ter um novo leilão, tinha que abrir para a concorrência, tinha que levar o excedente para a oportunidade, que é a apreciação do mercado etc, que não podia ser uma apreciação pura e simples com a Petrobras. E isso fez com que tivesse o maior leilão de óleo e gás do mundo. Então, apesar de o sentimento do controle, às vezes, poder causar desconforto, para o país é muito importante a atuação do TCU.
AgênciaCanalEnergia: Vocês vão atuar de alguma forma na abertura do mercado do gás? Eu sei que quando a senhora fala em parceria com os estados inclui essa parte de gás também, a questão das distribuidoras estaduais. Vocês estão participando de alguma forma?
Martha Seillier: Foi criado um comitê técnico também para avaliar as oportunidades de desverticalização. Romper o monopólio da Petrobras no mercado de gás. Acho que tem uma avaliação gigantesca de oportunidade de investimentos nesse setor, de redução do preço do gás para o consumidor final, por conta da possibilidade de ter concorrência no setor, que hoje praticamente não tem. E esse comitê foi interessante porque envolveu o próprio Cade na discussão. E por conta dessa participação do Cade, um compromisso da Petrobras em vender [a participação nas] distribuidoras. A Casa Civil participa dessa discussão, mas com a SAG, que é a Secretaria de Assuntos Governamentais. Estamos avaliando a possibilidade de dar um apoio para a SAG nesse comitê, como PPI, tendo em vista nosso papel aqui de buscar investimentos, e dialogando muito com a própria Petrobras, inclusive buscando qualificar no PPI o apoio para a venda de alguns ativos.
Recentemente conversamos sobre as refinarias, pois nesses road shows que fazemos, muitas vezes investidores perguntam sobre essa venda de ativos de Petrobras. E a Petrobras, quando desinveste, não precisa qualificar o ativo no PPI. O PPI assumiu as funções do PND, que é o Programa Nacional de Desestatização. Então, uma lei diz que para vender o controle da companhia tem que passar por aqui. Mas, para desinvestimentos não. E a Petrobras tem feito isso muito bem sem necessariamente qualificar os projetos no PPI. Mas, como nos temos recebido muita demanda de investidores e o PPI tem muita visibilidade, aqui e lá fora, de repente a gente faz essa parceria com a própria Petrobras para dar o apoio na própria divulgação dos ativos, na explicação da modelagem, receber as preocupações dos investidores e levar para a Petrobras. Fazer um pouco o papel que a gente faz com outros ministério e com outras empresas também.
E acompanhamos no Congresso o projeto de lei também que, no fim das contas, é o que vai ajudar nesse processo de abertura do mercado de gás. Transforma o regime atual de concessão em autorização. Temos acompanhado isso bem de perto junto com o MME. Então a gente atua, digamos assim de forma indireta nessa questão do novo mercado de gás.
Agência CanalEnergia: O governo tem conseguido se articular com todas as instâncias? Hoje não é só Minas e Energia e PPI. Tem a Economia bem atuante nessa história e às vezes tem um sombreamento lá dentro. Vocês conseguem se articular bem com eles sem dar um curto circuito?
Martha Seillier: A junção da Economia com o Planejamento fez com que muitas áreas acabasse refletindo interlocuções com ministérios. Então, o Planejamento, por exemplo, por muito tempo foi a cabeça do PAC, o Programa de Aceleração. Acompanhava durante muito tempo investimentos. Fazia isso de uma forma mais de coordenação estratégica em relação a quais investimentos priorizar etc.
A partir do momento em que o PAC sai da mesa e o Planejamento junta com a Economia, acaba que tem uma equipe lá pensando investimentos de longo prazo etc, e é importante que tenha, porque é normal que o ministério setorial fique envolvido com o dia a dia das políticas e com as entregas. Então, muitas vezes é difícil conseguir, no âmbito do setorial, pensar o longo prazo junto com os outros ministérios. Porque quando você pensa infraestrutura não é só transporte. O ideal seria que a gente conseguisse pensar transporte com energia, transporte com todos os investimento do agronegócio por conta da logística. Porto junto com ferrovia. E muitas vezes cada um está pensando no seu quadrado. Então, ter uma área dentro do governo que pense o planejamento de longo prazo é sempre importante.
Esse exercício de coordenação entre os interesses de cada ministério acaba ficando muito com a Casa Civil. Então, é o nosso papel tentar entender as preocupações da Economia no planejamento de longo prazo, as preocupações de cada ministério setorial de infraestrutura no seu planejamento e fazer com que tudo isso convirja. E o que o ministério quer mais é investimento, mais rápido, com mais apoio para a infraestrutura, e a Economia menos gasto, menos incentivos, menos distorções tributárias. A gente está vendo isso acontecendo agora nas discussões da BR do Mar a Infraestrutura com um posicionamento e a Economia com um posicionamento diferente, e a Casa Civil tem que atuar para conseguir sopesar todos essas prioridades e valores e chegar num texto de consenso do governo federal para levar para o Congresso. É natural que seja assim. Eu acho que é benéfico, porque todo mundo pensando igual muitas vezes a gente perde a oportunidade de melhorar algumas coisa ou até mesmo de fazer uma autocrítica. Então, é importante ministérios distintos com pessoas com cabeças diferentes pensando políticas públicas e reforça o nosso papel aqui , na verdade, de coordenação e de ajuste nos ponteiros ministeriais.
Agência CanalEnergia: O que vem mais aí até o fim do ano?
Martha Seillier: Teremos uma nova reunião. Até porque foram muitos leilões esse ano, então esvaziou um pouco a nossa carteira, o que é excelente, porque a carteira do PPI é um fluxo. Esse ano 35 ativos foram leiloados no âmbito do PPI, então isso é muito bom. Mas de certa forma, limpa um pouco a nossa carteira. De energia, por exemplo, não temos mais geração na carteira. A gente vai ter transmissão agora em dezembro. A gente tem a expectativa de qualificar novos projetos de geração para 2020 na carteira do PPI nessa reunião de novembro.
Da mesma forma, leilões de óleo e gás nos tivemos aí já quatro importantes leilões. Teve a Oferta Permanente, teve a 16ª Rodada de Concessão, teve a 6ª Rodada de Partilha e a Cessão Onerosa. Então, limpou também bastante a carteira do PPI. Alguns que não foram arrematados tendem a voltar. O MME provavelmente qualificará nessa próxima reunião do CPPI as próximas rodadas de partilha e de concessão de óleo e gás.
É um processo contínuo de ativos que saem e ativos que entram. Vamos continuar buscando a diversificação da carteira. Estamos dialogando com o Ministério da Saúde, que é uma área nova para o programa. Tentar entrar nessa parte de parceria com hospitais. Estamos buscando o MCTIC para ver se qualificamos o leilão do 5G, para ter o apoio do PPI. Com certeza é uma leilão prioritário para o país, estratégico. Acho que vem boas novidades por aí.